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Estado de Minas POLÍTICA

Nome anti-Renan, aliado de Onyx vence no Senado


postado em 03/02/2019 08:35

A eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a presidência do Senado representa uma vitória do governo de Jair Bolsonaro e, mais ainda, do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Alcolumbre ganhou ontem a queda de braço com o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Mesmo assim, o Palácio do Planalto sai com escoriações do confronto e pode enfrentar dificuldades para aprovar projetos na Casa, como a reforma da Previdência, considerada essencial para o equilíbrio das contas públicas.

Articulador político do Planalto, Onyx interferiu na disputa ao apoiar Alcolumbre e articular uma frente para derrotar Renan, que renunciou à candidatura quando viu que iria perder o jogo após 12 senadores terem votado. Investigado pela Lava Jato, Renan teve apenas cinco votos e o senador do DEM, 42 de um total de 77.

Em uma sessão de quase nove horas, marcada por xingamentos, bate-boca e até denúncia de fraude, Alcolumbre foi eleito para um mandato de dois anos, até janeiro de 2021. É a primeira vez que o DEM comanda as presidências da Câmara e do Senado (mais informações na pág. A7).

Reconduzido ao cargo na sexta-feira, o deputado Rodrigo Maia também é do DEM, mas venceu a eleição na Câmara sem a ajuda do Planalto. Onyx não queria a candidatura de Maia, mas teve de aceitá-la porque o deputado conseguiu angariar apoio da esquerda à direita, incluindo o do PSL, partido de Bolsonaro. Quarta bancada do Senado, com apenas seis integrantes, o DEM também comanda três ministérios (Casa Civil, Agricultura e Saúde).

Até mesmo aliados do presidente Bolsonaro admitem, nos bastidores, que o empenho de Onyx em derrotar o experiente Renan terá impacto sobre votações de interesse do governo. Enquanto Renan tem interlocutores em todos os partidos, Alcolumbre - um representante do baixo clero - poderá ter problemas para negociar com a oposição. Além disso, ninguém duvida de que o senador alagoano dará o troco no Planalto.

Agenda. Na lista de prioridades do governo está a reforma da Previdência, que a equipe econômica quer encaminhar ao Congresso até o fim do mês. Há também projetos de mudanças tributárias, privatizações e uma agenda conservadora de costumes.

Ao medir forças com Renan e dar estocadas em Maia, Onyx desagradou ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A equipe econômica sempre avaliou que Maia e Renan teriam mais pulso para conduzir votações estratégicas no Congresso, principalmente a reforma da Previdência, um tema árido que enfrenta resistências e requer o aval de 308 votos na Câmara e 49 no Senado, em duas votações. Além disso, a proposta de mudanças na aposentadoria planejada por Onyx é mais suave do que a de Guedes.

"Espero e confio que possamos entregar essa Casa, ao fim deste biênio, com o País retomando os trilhos do desenvolvimento e da prosperidade, enfrentando as reformas complexas que, com urgência nosso País reclama, com um Legislativo forte e reabilitado com a cidadania, que não se curve à intromissão amesquinhada do Poder Judiciário ou de qualquer outro poder", disse Alcolumbre após o triunfo.

Foi uma resposta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que na madrugada de ontem atendeu a pedido do MDB e do Solidariedade e determinou que a sessão do Senado fosse secreta, como manda o regimento da Casa. A reação não tardou: em uma segunda votação, aliados de Alcolumbre mostraram suas cédulas para as câmeras. Pressionado pelas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, seguiu o mesmo caminho e declarou voto em Alcolumbre.

Renan contava com o apoio de Flávio. Tinha até mesmo feito acenos de que, caso chegasse ao comando do Senado, barraria tentativas de investigar o colega no Conselho de Ética pelo caso envolvendo movimentações atípicas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz.

Depois de muito tumulto, Renan subiu à tribuna e, irritado, anunciou sua renúncia. "Davi não é Davi. É o Golias. O Davi sou eu. Ele (Alcolumbre) atropela o Congresso. O próximo passo é o Supremo Tribunal Federal sem o cabo e sem o sargento. Estou saindo do processo por entendê-lo deslegitimado", afirmou o senador. Em post no Twitter, Onyx foi irônico e deu uma estocada no adversário. "Davi respondeu: ‘Você vem contra mim com espada, lança e dardo. Mas eu vou contra você em nome do Senhor Todo Poderoso, que você desafiou’", escreveu.

Fraude. Foram necessárias duas votações porque houve suspeita de fraude na primeira, que acabou anulada. Na urna havia 82 cédulas, quando o número de senadores é de 81. Na prática, o processo eleitoral no Senado começou na sexta-feira, mas, após mais de cinco horas de discussões, manobras e troca de ofensas, além do "roubo" da pasta de condução dos trabalhos, a disputa foi adiada para ontem.

O senador Esperidião Amin (PP-SC), teve 13 votos; Ângelo Coronel, 8; José Reguffe (sem partido-DF), 6, e Fernando Collor (PROS-AL), que teve o aval do vice-presidente Hamilton Mourão, obteve 3. Major Olímpio (PSL-SP), Álvaro Dias (Pode-SP) e Simone Tebet (MDB-MS) abandonaram a corrida, em estratégia sob medida para "descarregar" votos em Davi. A desistência de Major Olímpio foi combinada com Flávio Bolsonaro.

Com 41 anos e apresentado por seus apoiadores como símbolo da renovação na política, Alcolumbre também acumula polêmicas no currículo: votou contra a cassação do então senador Aécio Neves (PSDB-MG), em 2017, e "puxou" seu irmão para ser seu suplente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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