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Estado de Minas ENTREVISTA

"Mais pobres são prioridade", diz deputado Paulo Guedes

Novato no Congresso, parlamentar diz que propostas de seu homônimo vão ampliar recessão


postado em 23/10/2018 06:00 / atualizado em 23/10/2018 06:57

"Ao contrário do que fala o meu homônimo, o Paulo Guedes do Bolsonaro, nós precisamos de políticas para que as pessoas voltem a consumir e para distribuir renda" (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
“O modelo do meu homônimo, o Paulo Guedes do Bolsonaro, de vender tudo e cortar programas sociais vai aumentar a recessão do Brasil.” A análise é do deputado estadual Paulo Guedes (PT), quarto deputado federal mais votado em Minas, com 176 mil votos.


Estreante em Brasília no ano que vem, o petista prevê um duro embate no Congresso Nacional nos próximos quatro anos, com um Parlamento dividido e pautas controversas no caminho da próxima legislatura.

Guedes aponta como prioridade de seu mandato reforçar a cobrança por recursos para as regiões mais pobres do estado – Norte de Minas e vales do Jequitinhonha e do Mucuri. O principal objetivo é conseguir apoio do governo federal para a revitalização da bacia do Rio São Francisco. “A apenas dois quilômetros do rio já têm gente passando sede”, reclama o deputado.


O senhor é deputado há 12 anos em Minas Gerais, mas chega a Brasília pela primeira vez. O que espera do trabalho na Câmara dos Deputados?
Vou manter uma relação de proximidade com minhas bases e continuar acompanhando as cobranças que partem delas. São muitas demandas abertas e nem tudo a gente conseguirá resolver, mas posso dizer que nesses três mandatos de deputado na Assembleia Legislativa consegui tornar realidade muitas demandas. Agora na Câmara, em Brasília, quero ter uma atenção especial aos problemas das cidades mais pobres de Minas Gerais. Nasci em São João das Missões, cidade mais pobre do estado. Convivi de perto com as dificuldades e a falta d’água no Norte e nos vales do Jequitinhonha, regiões sempre muito sofridas. Temos o Rio São Francisco com muita água, mas a apenas dois quilômetros do rio já têm gente passando sede. Tivemos avanços nos governos Lula e Dilma com as cisternas e poços artesianos, mas ainda há muito a se fazer. A revitalização do São Francisco, principalmente a recuperação das nascentes do entorno do rio, será uma das principais bandeiras do nosso mandato.

Mas diante da falta de recursos da União, do estado e das prefeituras, como transformar essas promessas de campanha em realidade?
A falta de recurso é um problema que resulta de um modelo econômico adotado após o golpe contra a presidente Dilma. Há dois anos o governo federal corta de quem tem menos. E esse modelo não tem funcionado. Ao contrário do que fala o meu homônimo, o Paulo Guedes do Bolsonaro, nós precisamos de políticas para que as pessoas voltem a consumir, para ter distribuição de renda, para gerar oportunidades para a população, dar crédito para as pessoas, financiar suas lavouras, financiar seu poço artesiano, reformar suas casas. Pessoas que andavam de jegue conseguiram comprar motos ou carros. As pessoas melhoraram de vida e ganharam dignidade. É preciso voltar a criar oportunidades para as pessoas no Brasil. O modelo do meu homônimo, caso Bolsonaro ganhe a eleição, de vender tudo e cortar programas sociais, vai aumentar a recessão do Brasil, aumentar a pobreza e o desemprego. Estamos em momento decisivo. Mais do que nunca, o país precisa ter atenção nesta eleição. A vitória de Haddad é o fio de esperança que vejo para não cairmos em uma situação ainda pior do que a que foi criada pelo governo Temer. O Bolsonaro está falando coisas assustadoras. Parte da nossa classe média é muito egoísta e o Bolsonaro está falando para esse público. Pessoas que não querem ver os pobres melhorando de vida, empregadas ganharem mais, filhos de pobres nas universidades. Até mesmo pessoas que vieram das classes mais baixas e se sentem classe média e não olham para os irmãos e vizinhos que continuam em dificuldade.

Nesta eleição tivemos muitos políticos tradicionais derrotados e muitos dos que foram eleitos defendem bandeiras conservadoras, são os outsiders da política. Como será a relação nesse Congresso a partir de 2019?
Teremos um Congresso ainda pior no ano que vem. Só espero que os que chegam nessa onda conservadora e os novatos não usem os mesmos mecanismos para fazer política como fizeram os parlamentares do Centrão, que são as chantagens aos governos. Tinha uma turma que estava em todos os governos, inclusive nos governos do PT. Porque ninguém governa sem o Congresso. Se o Haddad for presidente, acredito que teremos uma relação mais democrática. Já com o fascismo do Bolsonaro é uma grande dúvida sobre como vai ser a relação com o Congresso na prática. Estamos um pouco assustados e no momento é difícil fazer um prognóstico sobre como será a partir de 2019. Não se imaginava ter 52 deputados do PSL. O PT ainda sobreviveu ao terremoto e conseguiu fazer a maior bancada. Em Minas, nós fizemos a maior bancada, com 12 deputados, eram nove. Mesmo com um bombardeio enorme contra os parlamentares petistas.

Nesta eleição, O PT teve duras derrotas em Minas, sem a reeleição do governador Fernando Pimentel e da ex-presidente Dilma. O que o partido poderia ter feito diferente?
No caso de Minas, governar um estado falido é complicado. Pimentel foi vítima de um sistema. Pegou um caixa com déficit de R$ 7 bilhões, muitas dívidas e despesas crescentes e receitas decadentes. Nenhum governo sobreviveria a uma situação dessa. Ele perdeu a eleição, mas no Norte de Minas, por exemplo, ganhou. A dificuldade maior foi nos grandes centros. Nesses lugares nós sofremos, todos os representantes do PT tiveram essa dificuldade. Mas também reelegemos governadores em primeiro turno com ampla votação, no Piauí, na Bahia, no Ceará. O PT fez mudanças importantes. Talvez o erro foi de aceitar algumas regras de ter que dividir governo com o Centrão. Os escândalos de corrupção por exemplo, os diretores da Petrobras presos não eram filiados ao PT e todos eles vieram de outros governos e outros partidos. Quem pagou essa conta fomos nós. O tesoureiro do PT está preso por caixa dois, mas todos os tesoureiros dos outros partidos fizeram a mesma coisa e nenhum deles está preso.

A liberação da posse de armas de fogo, a redução da maioridade penal e o fim das cotas em universidades são algumas das bandeiras defendidas pela bancada do PSL. Como o senhor vê a possibilidade de o Congresso votar esses temas polêmicos?
Vejo com muita preocupação. Não temos a noção do que significará a liberação do uso de armas no Brasil. A própria classe média que apoia Bolsonaro vai ser vítima de uma mudança como essa. Vamos ver uma escalada da violência e um risco cada vez maior para as pessoas. A violência já começou, vemos todos os dias gente espancando homossexuais e mulheres. Um absurdo. Sobre as cotas, por exemplo, vemos uma parte da sociedade completamente egoísta. Bolsonaro falou que não aceitaria entrar em um avião pilotado por algum cotista, algo de um preconceito fora do comum. Venho de uma família pobre, e se não tivesse oportunidades na vida, de me expressar, de agir e de crescer, estaria hoje cortando cana. Ninguém nas regiões pobres teria qualquer expressão nunca. Nosso adversário defende posições contrárias aos direitos sociais e até contrárias à democracia. Conviver com essas tendências será muito difícil a partir do ano que vem. Vamos ter que lutar pela defesa das conquistas sociais. Defender a Constituição, não aceitar mudanças que venham prejudicar os trabalhadores, as garantias sociais e dos programas que mudaram a vida dos trabalhadores. Vamos brigar para não ter retrocessos.

 


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