
O bairro, cercado por uma mata verde, é composto por chácaras e vilas de casas mais simples. No alto da serra, contudo, fica um dos maiores condomínios da cidade, o Clube da Montanha. Isolado do Centro de Atibaia, o local é silencioso, onde, durante o dia, pode-se observar moradores fazendo caminhada pela avenida, que não tem calçada ou ciclovia.
Desde março de 2016, na 24ª fase da Operação Lava-Jato, quando a propriedade foi investigada pela primeira vez pela Polícia Federal, moradores relatam que o clima na região mudou. Há a suspeita de que o ex-presidente teria recebido das empreiteiras OAS, Odebrecht e Schahin propinas no valor de R$ 1 milhão, por meio de reformas no sítio. “Foi uma correria doida no dia em que os ‘polícia bravo’ vieram aqui. Era helicóptero para tudo quanto é lado. Foi assim que descobrimos quem poderia ser o dono do lugar . Nunca imaginamos”, lembrou um morador da região.
À reportagem do Estado de Minas/Correio Braziliense, uma das vizinhas disse que é mais comum ouvir perguntas sobre o local que de fato encontrar curiosos nas redondezas. “Todo mundo que não é daqui, mas vem passar alguns dias, pergunta onde é o ‘sítio do Lula’. Sempre tem alguém interessado.” A senhora, de 69 anos, estava a caminho da casa da irmã, que fica a dois lotes do Sítio Santa Bárbara. “Passo aqui quase todos os dias e nunca vejo nenhuma movimentação. As portas estão sempre fechadas, o caseiro quase não se envolve mais com a vizinhança. O assunto sobre quem é, de fato, dono do sítio virou um tabu”, contou. Ela trabalhava na propriedade há 30 anos, quando um francês teria se mudado para a região.
A reportagem percorreu o trajeto desde o Centro de Atibaia até o sítio. A entrada para a chácara é escondida, é necessário saber com precisão onde é localizada – ou conhecer muito bem a região. Antes de chegar à casa, há uma ponte estreita que parece não receber manutenção há algum tempo. Não há sinalização com o nome da propriedade, como todas ao redor têm. A campainha foi tocada por mais de cinco vezes, mas não houve retorno. Questionados sobre a presença de Lula na região, antes de ser deflagrada a operação, moradores relatam que nunca o viram. “Se passou por aqui, foi em um carro com vidro escuro. Nunca andou a pé também, senão alguém o teria visto. A única entrada para o sítio é essa, que passa por uma pontezinha”, disse um atibaiano, apoiado pelo restante dos vizinhos que também estavam na conversa.
Para a população, a polêmica nada influenciou na vida da comunidade. Não sabem se o proprietário é o petista, ou se é um colega dele. Mas, como em um consenso, agradecem a antena de telefone instalada no portão. “Não sou petista. Ainda não sei nem em quem vou votar neste ano. Mas uma coisa é certa: depois que instalaram a antena da Oi aqui, nossa vida mudou”, comemora, rindo, uma moradora. No local, a internet 3G não funciona, tampouco há sinal telefônico de outras operadoras para realizar ligações.
DELAÇÕES RETIRADAS
O segundo processo que envolve o sítio de Atibaia está cada vez mais próximo da sentença. O Supremo Tribunal Federal (STF), no entanto, decidiu retirar trechos de delações de ex-executivos da Odebrecht dos processos que envolvem o petista. Para três dos cinco ministros da Segunda Turma, as partes nas quais os delatores relatam o suposto repasse de verbas indevidas para Lula, incluindo a reforma do sítio, não estão relacionadas diretamente com a Petrobras, alvo da investigação original da Lava-Jato. Portanto, não deveriam ser consideradas pelo juiz Sérgio Moro.
Os indícios
Confira informações que, segundo o Ministério Público, ligam Lula ao sítio
>> A relação próxima entre os proprietários formais com o ex-presidente e seus familiares
>> Veículos de utilização do ex-presidente teriam ido ao sítio mais de 250 vezes entre 2011 e 2016
>> Agentes de segurança pessoal do petista também estiveram no local por centenas de vezes e, inclusive, instalaram câmeras de segurança na propriedade
>> Mensagens eletrônicas foram trocadas entre o caseiro da chácara e o Instituto Lula
>> A localização de diversos bens pessoais de Lula e de seus familiares, como vestuários, vinhos e um barco, que leva o nome do petista e da mulher Marisa Letícia
>> A apreensão de notas fiscais emitidas com o nome da ex-primeira-dama sobre bens encontrados no sítio. Há também faturas em nomes de auxiliares de Lula e de empregados da Odebrecht no apartamento do ex-presidente em São Bernardo relacionadas a bens encontrados na chácara
>> Dois pedalinhos ficam estacionados no lago do sítio com o nome dos dois netos do ex-presidente: Pedro e Arthur
>> A cozinha do local foi reformada pela mesma empresa que fez a cozinha do tríplex do Guarujá (SP)
