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Estado de Minas

Depoimento mostra contradições entre versões de Lula e Duque sobre encontro

Ex-presidente afirmou a Moro que ex-diretor da Petrobras disse a ele que não tinha conta no exterior. Mas ex-dirigente garante que petista mandou que negasse que tivesse ao depor


postado em 12/05/2017 06:00 / atualizado em 12/05/2017 07:52

O tão esperado encontro entre o ex-presidente Lula e o juiz Sérgio Moro ocorreu sem confrontos, mas revelou contradições do petista sobre a amizade entre o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o ex-tesoureiro do partido João Vaccari. Em depoimento a Moro, na semana passada, Duque relatou encontro com Lula, que foi confirmado pelo ex-presidente na quarta-feira.

No entanto, há divergências entre as versões de cada um. Em seu depoimento, Lula disse que esteve apenas uma vez com o ex-diretor da Petrobras. O encontro, que o petista não soube precisar a época, teria ocorrido em um hangar no aeroporto de Congonhas (SP), logo após a imprensa revelar a existência de contas de Duque no exterior. O ex-presidente disse que indagou Duque sobre as contas, o que teria sido negado de pronto. Ele não relatou no depoimento se ambos trataram de outros pontos no encontro.

Já o ex-diretor da Petrobras declarou que esteve com Lula em três oportunidades. E que em uma delas o assunto foi as contas bancárias e que Lula perguntou se ele tinha conta no exterior . “Se tiver (conta de propina), não pode ter, entendeu?”, teria dito o petista a ele. Ainda segundo Duque, a primeira das três reuniões ocorreu a pedido dele, para “agradecer pelo período” que passou na Petrobras.

No depoimento, Duque conta que, embora funcionário de carreira, chegou à Diretoria de Serviços da estatal em janeiro de 2003, após negociações que envolveram o então ministro da Casa Civil José Dirceu.

Já Lula afirmou a Moro que pediu a Vaccari que intermediasse o encontro com Duque. Nesse trecho, Moro quis saber se Lula teria conhecimento da possível relação entre Duque e Vaccari, o que foi confirmado por ele. Pouco depois, no entanto, o petista disse que não sabia da amizade entre os dois. O juiz então questionou o fato. Lula então alterou voz e disse que sabia que eles tinham relação, por isso o pedido para intermediar o encontro, mas se a ligação entre os dois era de amizade, ele não podia afirmar.

 Confira os depoimentos:

(foto: reprodução)
(foto: reprodução)


Moro: O senhor Renato Souza Duque foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Contas dele, secretas, foram bloqueadas com cerca de R$ 20 milhões de euros. O senhor presidente tinha conhecimento a esses respeito sobre desses crimes por ele praticados enquanto diretor da Petrobras?

Lula: Não.

Moro: O senhor ex-presidente esteve pessoalmente com o senhor Renato Duque alguma vez?

Lula: Estive.

Moro: O senhor ex-presidente pode descrever a circunstância?

Lula: Eu estive uma vez no aeroporto de Congonhas, se não me falha a memória. Porque tinham vários boatos no jornal de corrupção e de conta no exterior. Eu pedi para o Vaccari, porque eu não tinha amizade com o Duque, traz o Duque para conversar.

Moro: Isso aproximadamente quando?

Lula: Não tenho ideia, doutor. Eu sei que foi em um hangar lá em Congonhas. A pergunta que eu fiz para o Duque foi simples. Tem matéria nos jornais, tem denúncia de que você tem dinheiro no exterior. Tá pegando da Petrobras. Você tem conta no exterior? Ele falou: ‘Não tenho’. Eu falei acabou. Se não tem. Ele não mentiu pra mim, ele mentiu para ele mesmo.

Moro: Isso foi em 2014?

Lula: Não lembro a época, doutor. Não lembro. Sinceramente, não lembro a época. Se eu falar uma data aqui eu tô mentido.

Moro: Foi depois que saíram essas notícias de contas no exterior? Isso?

Lula: Depois tinha muita denúncia de contas no exterior. De Paulo Roberto e de muita gente.

Moro: O senhor pode esclarecer por que o senhor procurou o João Vaccari? Pra procurar o senhor Renato Duque?

Lula: Porque o Vaccari tinha mais relação de amizade com ele do que eu, que não tinha nenhuma.

Moro: O senhor tinha conhecimento então da relação de amizade entre os dois?

Lula: Não sei se era relação de amizade. Liguei para o Vaccari e falei: ‘Vaccari você tem como pedir ao Duque que venha a uma reunião aqui?’. Ele falou: ‘Tenho’. Ele levou Duque lá.

Moro: Salvo equívoco meu, perguntei há pouco se o senhor sabia, tinha conhecimento se eles tinham relação o senhor falou que não. Então o senhor tinha conhecimento que eles tinham uma relação?

Lula: Eu pedi para o Vaccari para saber se ele tinha como trazer Duque para uma reunião. Ele disse que tinha. Isso não implica que eles tinham relação. Isso implica que ele podia conhecer.
Cristiano Zanin (advogado de Lula): Excelência, na resposta anterior era da época do governo. São momentos diferentes que Vossa Excelência está se referindo.

Moro: Estou dando a ele a oportunidade dele esclarecer, porque, aparentemente, ele disse uma coisa e falou outra agora.

Lula: Eu só quero dizer que relação de amizade é uma coisa e relação é outra. Eu posso sair daqui dizendo que conheci o doutor Moro, tenho relação com ele. Na verdade, não tenho.

Moro: Então o senhor não sabia na época que João Vaccari tinha relação com Renato Duque Sabia ou não sabia?

Lula: Eu sabia que ele tinha relação. Não sabia que ele tinha relação de amizade. E quando eu disse pra ele chamar o Duque é porque poderia ter o telefone do Duque que eu não tinha.

Moro: E que tipo de relação o senhor tinha conhecimento que eles tinham

Lula: Não sei doutor. Não sei. O Vaccari tá preso, pode perguntar para o Vaccari. O Duque tá preso, pode perguntar para o Duque.

Moro: Porque o senhor perguntou ao Vaccari para chegar ao Duque, pelo que o senhor disse. O senhor disse então.... A questão é saber por que o senhor fez isso. Procurar o Vaccari para chegar ao Duque. O senhor tinha conhecimento de alguma relação ou não?

Lula: Porque o Vaccari conhecia o Duque, que eu não conhecia. Só isso. Que tipo de relação eles tinham eu não sei.

Moro: E o senhor ex-presidente tinha conhecimento que o João Vaccari conhecia Renato Duque?

Lula: Tinha conhecimento.

Moro: Que tipo de conhecimento o senhor tinha?

Lula: Conhecimento que o Vaccari conhecia o Duque.

(foto: Reprodução/Internet )
(foto: Reprodução/Internet )
Depoimento de Duque

Pergunta da Justiça: No momento em que a Lava-Jato começou a existir, e ficou claro através do doutor Paulo Roberto que essa investigação poderia alcançar partidos políticos. Alguém lhe procurou para pedir que o senhor tomasse providências e evitasse que o senhor fosse surpreendido com documentação?

Duque: Eu tive, após a saída da Petrobras, três encontros com Lula. Um em 2012, um 2013 e o último em 2014. Nesse encontro de 2012, pra mim ficou muito evidente, fiquei surpreendido com o conhecimento que ele tinha sobre esse projeto de sondas. Ele começou a fazer perguntas sobre as sondas, uma delas porque não tinha sido assinado o contrato ainda, já que tinha sido aprovado em abril. Falei: ‘Presidente, nem sabia que não tinha sido, estou fora da empresa, não sei responder’. Então eu fiquei surpreendido porque, naquela hora, eu, Lula e Vaccari, ficou claro para mim que o nível de informação, ele conhecia tudo e falando esse tipo de coisa na frente do Vaccari e na minha frente. Poxa, tá comandando tudo. O Vaccari realmente era um braço que atuava pro Lula.

Duque: Aí teve um segundo encontro que, da mesma maneira, ele fez perguntas sobre sondas porque não estava recebendo até então, em 2013. Perguntou se eu sabia por que as empresas não estavam pagando, eu não soube responder também. E, por fim, no último encontro em 2014, já com a Lava-Jato em andamento, ele me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da empresa SBM, dizendo que a então presidente Dilma tinha recebido a informação que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro numa conta da Suíça da SBM. Eu falei: ‘Não tenho dinheiro da SBM nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM’. Ele falou assim: ‘Olha, presta atenção no que vou te dizer, se tiver alguma coisa não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome, entendeu?’ Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Não tinha mais o que fazer. Aí ele falou que ia conversar com a Dilma que ela estava preocupada com esse assunto e queria tranquilizá-la. Mas, nessas três vezes, ficou claro, muito claro pra mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo e detinha o comando.


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