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Estado de Minas

Lula 'abraçou' PMDB, diz Delcídio Amaral

Ex-senador Delcídio do Amaral disse em depoimento ao MPF anexado à denúncia enviada à Justiça, que ex-presidente montou estratégia para escapar de impeachment no mensalão


postado em 17/09/2016 00:12 / atualizado em 17/09/2016 07:53

"Eu abraço o PMDB ou vou morrer", disse Lula, segundo depoimento de delação premiada de Delcídio


Curitiba - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou a presença do PMDB na Petrobras para evitar um processo de impeachment após a revelação do escândalo do mensalão e também para proteger um de seus filhos, Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, na investigação dos negócios entre a Gamecorp e a Telemar. A afirmação é do senador cassado Delcídio do Amaral (sem partido-MS), em depoimento prestado à força-tarefa em Curitiba, em 31 de agosto, para complementar os termos de delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no início deste ano. Segundo Delcídio, depois do mensalão, Lula precisou estruturar uma base aliada mais consistente, com a presença do PMDB, em função do desgaste gerado pela investigação da CPI dos Correios, em 2006. “Quando veio o mensalão, ele (Lula) percebeu, ou ele se arruma ou poderia ser ‘impichado’”, afirmou Delcídio em depoimento ao Ministério Público Federal, anexado ao processo de Lula, que foi denunciado na quarta-feira por corrupção e lavagem de dinheiro.

Delcídio lembrou que, antes do mensalão, o PT governava com os partidos que o ajudaram a ganhar a eleição. Segundo ele, o então ministro José Dirceu chegou a negociar uma aliança para que o PMDB participasse da base aliada, que foi inicialmente recusada por Lula. “Lula não topou. Quando veio o mensalão, Lula fez uma revisão das posições que ele vinha assumindo, dizendo ‘eu abraço o PMDB ou vou morrer’. Foi então que o PMDB estabeleceu tentáculos em toda a estrutura do governo, como o Ministério das Minas e Energia e a Eletrobras. O setor elétrico, que era feudo do PFL, passou a ser do PMDB”, afirmou Delcídio.

O ex-senador, que presidiu a CPI dos Correios, voltou a dizer que o relatório final incluía proposta de indiciamento de Lula e de Lulinha e que foi feita composição para que as propostas não vingassem. Segundo ele, o “tira e põe” faz parte do dia a dia do Congresso. “Foi feito um acordo. Os indícios e documentos que a CPI levantou, rastreamos o dinheiro desde que ele saiu do Banco do Brasil para as empresas do Marcos Valério (publicitário condenado no mensalão) e para as contas do partido. Tinha uma operação forte com o Valério, que era um braço armado do próprio Delúbio (Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT) para alimentar os partidos. Existiam argumentos para dar continuidade a um processo de afastamento”, disse. Segundo Delcídio, a CPI tinha indícios muito fortes e Lulinha estava numa posição inclusive mais delicada que a do próprio Lula.

Delcídio lembrou que Lula conversava com certa frequência com os diretores da estatal, como mostram registros fotográficos de reuniões de Lula discutindo projetos. Citou uma reunião de Lula, por exemplo, para discutir projetos de refinarias com o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP e um dos principais delatores do esquema. Segundo o ex-senador, Costa foi alçado a diretor de Abastecimento quando Lula precisou dar mais espaço ao partido. Ele disse que Lula articulava, mas não agia como um executor do esquema. “Era o PT que executava. Como ele (Lula) conversava com os demais partidos e tinha acompanhamento em tempo real como cada partido estava agindo na Petrobras, ele tinha ciência clara. Ele não entrava na execução, mas sabia o que estava acontecendo e o papel de cada diretor.”

Os procuradores da Lava-Jato anexaram também à denúncia contra Lula o depoimento do ex-deputado Pedro Corrêa (ex-PP/PE), que, em delação premiada, revelou bastidores da organização criminosa na Petrobras. Corrêa atribuiu a Lula diálogos que colocam o petista no centro do esquema de loteamento dos cargos graduados da estatal. O relato do ex-deputado é uma das peças que a Procuradoria usa na denúncia formal contra o ex-presidente, a quem acusa de “comandante máximo do esquema de corrupção”. A Procuradoria também juntou à denúncia os depoimentos de outros delatores – o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, e o ex-diretor de Internacional da estatal Nestor Cerveró.

“O controle de todo o esquema criminoso por Lula ficou muito claro quando, em 2006, Pedro Corrêa e José Janene (então presidente do PP e idealizador do esquema na Petrobras) foram apresentar a Lula reivindicações de novos cargos e valores que seriam usados em benefício de campanhas políticas”, afirma o MPF. Na ocasião, Lula teria negado os pleitos, segundo a delação de Corrêa. “Vocês têm uma diretoria muito importante, estão muito bem atendidos financeiramente. Paulinho tem me dito.” Paulinho, segundo a denúncia, é Paulo Roberto Costa. Sua diretoria era controlada pelo PP de Janene.

DEFESA A defesa de Lula rebateu as acusações. “As declarações de Delcídio do Amaral e Pedro Correa não têm qualquer valor jurídico e não alteram o fato de que o Ministério Público Federal apresentou denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sem qualquer prova”, diz nota divulgada ontem. “É indefensável que a Lava-Jato faça uma denúncia usando declarações formuladas pelo já condenado Pedro Correa em processo de complementação de delação premiada no qual não consta referência de homologação judicial”, afirmam os advogados Roberto Teixeira e Cristiano Zanin Martins.

Segundo eles, a delação de Delcídio foi negociada com o MPF sem observância do requisito da voluntariedade (Lei 12.850, artigo 4º). Isso porque “o ex-senador revelou que o processo de delação premiada foi iniciado após ser ele trancado em um quarto sem luz na PF de Brasília, poluído por fumaça do gerador do prédio: ‘Aquilo encheu o quarto de fumaça, e comecei a bater, mas ninguém abriu. Os caras não sei se não ouviram ou se fingiram que não ouviram. Era um gás de combustão. Só três horas mais tarde abriram a porta. Foi dificílimo’, lembrou o senador, meses depois, durante almoço na casa do irmão.” Conforme a defesa, o MPF também deixou de cumprir o caráter sigiloso até a denúncia, tal como assegurado pela lei (Lei nº 12.850, artigo 7º) e pelo próprio acordo de colaboração, uma vez que o teor da delação foi vazado. “O conteúdo da narrativa de Amaral não é confirmado por qualquer prova, além de ser incompatível com o conteúdo de outras delações premiadas sobre o mesmo tema”, completa a nota dos advogados.


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