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Estado de Minas

Empresário falava em questões 'do interesse do PT', afirma delator

De acordo com ex-gerente da Área Internacional Eduardo Musa disse que dívida de R$ 60 milhões do partido levou á contratação de empresa para operar navio-sonda


postado em 14/04/2016 09:31 / atualizado em 14/04/2016 09:39

São Paulo - O ex-gerente-geral da Área Internacional da Petrobras Eduardo Musa reafirmou em depoimento na Operação Lava-Jato nessa quarta-feira, 13, que a Schahin foi contratada para operar a navio-sonda Vitória 10.000, em 2009, por causa de uma dívida de R$ 60 milhões do PT. Eduardo Musa é um dos delatores da Lava-Jato. Ele depôs em audiência na ação penal em que o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta.

A Lava-Jato investiga um esquema de propinas na contratação da Schahin Engenharia, em 2009, como operadora do navio-sonda Vitoria 10.000, envolvendo um empréstimo de R$ 12 milhões para Bumlai. Segundo o pecuarista, esta quantia foi destinada ao PT.

Eduardo Musa trabalhou na área internacional como gerente-geral entre 2006 e 2009. Segundo o delator, acima dele estava Luis Carlos Moreira. Nestor Cerveró comandou o setor entre 20 de março de 2003 e 7 de março de 2008 e Jorge Zelada entre 4 de março de 2008 e 20 de julho de 2012.

"O que me foi colocado tanto pelo (Luis Carlos) Moreira como pelo Nestor (Cerveró) é que seria um acerto de uma dívida do PT com o Banco Schahin", afirmou.

De acordo com o ex-gerente-geral, ele recebeu US$ 700 mil de propina no esquema. Ao juiz federal Sérgio Moro, o delator contou que foi procurado por Sandro Tordin, do grupo Schahin, que o apresentou a Fernando Schahin, também ligado ao grupo.

"O Fernando Schahin, era o representante dentro da Schahin de conduzir esse projeto. Ele me ofereceu uma vantagem, caso a gente concluísse a contratação da Schahin como operadora", afirmou. "Acho que em torno de 1 milhão, mas pago em torno de US$ 48 mil dólares por mês ao longo de algum tempo depois que a sonda começasse a operar. Foi antes da contratação."

O delator contou que só tratou do assunto "com o Fernando" e disse que recebeu parte do US$ 1 milhão prometido, entre 2011 e 2012. "Recebi parte dele. Acho que em torno de US$ 700 mil."

O juiz Moro questionou por que Eduardo Musa recebeu "tão distante da contratação". "Só receberia a partir da operação da sonda", respondeu Eduardo Musa. Segundo ele, a Schahin não terminou de pagar a propina, pois ficou sem dinheiro.

O magistrado quis saber se houve "um cálculo porcentual em cima de alguma coisa". "Não, era um número cabalístico", relatou o delator.

Musa disse ao juiz que nunca solicitou propina e deu detalhes do acerto com Fernando Schahin, que teria oferecido os valores. "Nunca achaquei ninguém", afirmou. "É constrangedor, mas é um oferecimento. Depois do primeiro contato com ele, tivemos um segundo contato. Talvez no terceiro e quarto, ele aborda, dizendo: 'Olha, a gente quer que esse negócio vingue'. Nesses contatos anteriores, em cada um, ele colocava um assunto desse tipo: 'olha, esse aqui é do interesse do PT, porque é pra pagar (…)'. Depois da outra vez, ele falava: 'olha, quem cuida disso, dessa dívida com a gente é o Bumlai, que é compadre do Lula'".

Histórico


Eduardo Musa explicou que após a contratação do primeiro navio-sonda Petrobras 10.000 houve uma negociação com a Samsung para a compra de um segundo equipamento.

"Diferentemente da primeira sonda em que a gente teve contrato com a Samsung, mas não havia operadora, essa segunda sonda já veio endereçada a operador que seria a Schahin. Uma coisa é o contrato com o estaleiro de montagem e a outra coisa é a o operador da sonda, é quem pilota a sonda", relatou Musa. "Houve uma conversa comigo, dizendo que essa segunda sonda seria contratada para ser operada para a Schahin".

Segundo Musa, a compra de um segundo navio-sonda não seria necessária. "Para a área internacional, entendo que não haveria necessidade de uma sonda própria, você poderia completar com sonda contratada", disse. "No caso da área internacional, a primeira sonda atenderia, você teria picos de necessidade, que você poderia suprir temporariamente com outra unidade que não precisaria ser obrigatoriamente sua e contratada por tanto tempo."

O ex-gerente da área internacional relatou que houve "vários questionamentos principalmente da área financeira da Petrobras sobre a maneira como estava sendo estruturado o negócio". "A Schahin era ponto pacífico, essa unidade seria construída para a Schahin operar. Musa disse que foi solicitado a ele a criação de "meios de modo a proporcionar a contratação da Schahin".


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