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Estado de Minas

Mitologia da Lava-Jato


postado em 10/04/2016 00:12

Luiz Carlos Azedo

Na mitologia grega, Prometeu (o que vê antes, prudente, previdente) é o criador da humanidade. Era um dos titãs, irmão de Atlas, Menécio e Epimeteu (o que vê depois, inconsequente). Um dia, matou um touro em sacrifício e fez dois sacos do seu couro. Num deles colocou a carne e os ossos; no outro, a gordura. Zeus, o mais poderoso dos deuses, escolheu o que continha banha, não gostou e puniu Prometeu, retirando o fogo dos humanos.

Já Epimeteu foi encarregado de distribuir aos seres qualidades para que pudessem sobreviver: velocidade, força, asas, garras... Não deixou, porém, nenhuma qualidade para os humanos, que ficaram desprotegidos e sem recursos. Foi então que Prometeu entrou no Olimpo e roubou uma centelha de fogo para entregar aos homens.

O fogo representava a inteligência para construir moradas, defesas e organizar a vida em comum. Assim surgiu a política na mitologia grega, para que os homens possam viver coletivamente e se defender dos inimigos. Zeus, porém, não gostou e pediu a Hefestos que fizesse de argila uma mulher belíssima, Pandora, que foi dada a Epimeteu — um presente de grego, digamos assim. Alertado por Prometeu, ele o recusou.

A vingança de Zeus foi acorrentar Prometeu, para que uma ave de rapina comesse o seu fígado. Para livrar seu irmão, Epimeteu casou-se com Pandora, que recebeu muitos presentes. Um deles era uma caixa misteriosa, que foi aberta por ela, apesar dos avisos de Prometeu de que não o fizesse. Era outro presente de grego. Ao fazê-lo, espalhou todas as desgraças sobre a humanidade, restando apenas dentro dela a esperança. Moral da história: o homem imprudente é responsável por todos os males, como consequência de sua falta de conhecimento e previsão. E a sociedade depende de sua própria inteligência para sobreviver.

O mito de Pandora tem muito a ver com a crise que estamos vivendo. Por exemplo, há muitas causas para a crise tríplice que está levando o país ao fundo do poço, mas uma delas está cada vez mais evidente: a imprudência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A maior delas, sem dúvida, foi a escolha da presidente Dilma Rousseff como sua sucessora. Esse talvez seja o único consenso entre os políticos, inclusive os petistas.

Às vésperas da votação do pedido de impeachment pela comissão especial da Câmara que examina sua admissibilidade, prevista para amanhã, parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apontou desvio de finalidade na decisão da presidente Dilma Rousseff de nomear seu antecessor, Lula, para chefiar a Casa Civil. Janot mudou de posição e pediu a anulação da nomeação, e não apenas a manutenção do foro de Lula na primeira instância, o seja, na alçada do juiz federal Sérgio Moro. Para ele, a atuação de Dilma foi “fortemente inusual” e serviu para “tumultuar” as investigações.

A mudança de Janot significa que as gravações encaminhadas por Moro ao ministro-relator da Operação Lava-Jato, Teori Zavascki, comprovam que o governo operou em várias frentes para tentar prejudicar as investigações contra Lula. “A nomeação e a posse do ex-presidente foram mais uma dessas iniciativas praticadas com a intenção, sem prejuízo de outras potencialmente legítimas, de afetar a competência do juízo de primeiro grau e tumultuar o andamento das investigações criminais no caso Lava-Jato.”

Caixa de Pandora

A Operação Lava-Jato, porém, está se transformando numa caixa de Pandora. A delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo confirmou que parte das doações eleitorais oficiais feitas à chapa Dilma Rousseff / Michel Temer em 2014 foi uma contrapartida em propina por contratos obtidos com estatais. Documentos entregues por Azevedo e outros executivos da empreiteira comprovam que a Justiça Eleitoral foi usada para dar aparência de legalidade às doações originadas em ilícitos.

Segundo o TSE, o PT recebeu em doações da Andrade Gutierrez dentro e fora do período eleitoral, em 2014, cerca de R$ 35,6 milhões. Para a legenda tucana, foram R$ 41 milhões, incluindo colaborações para a campanha. O PMDB recebeu um total de R$ 35,4 milhões, segundo o TSE. Está instalada uma grande polêmica jurídica em relação às doações eleitorais.


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