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Estado de Minas

Com o impeachment novamente em pauta, história mostra que Lula e FHC trocaram de lado

Há 16 anos, petistas e tucanos se enfrentaram em torno de um pedido de afastamento do presidente Fernando Henrique, com acusações mútuas e inversas às atuais. O governo venceu


postado em 06/12/2015 06:00 / atualizado em 07/12/2015 18:04

(foto: AFP PHOTO/Evaristo SA)
(foto: AFP PHOTO/Evaristo SA)

O tiroteio político entre PT e PSDB em torno de um processo de impeachment do presidente da República tem cara de reprise, mas com os papéis trocados. Há 16 anos, os brasileiros viveram um processo semelhante ao atual quando petistas encabeçaram um movimento pela destituição do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), reconduzido para o cargo nas eleições de 1998 ao vencer Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, com 53,6% dos votos. Ainda não se sabe quando ou como será o desfecho do processo envolvendo a presidente Dilma Rousseff, mas na era FHC o Palácio do Planalto saiu vitorioso. Em 18 de maio de 1999, 342 votos de aliados enterraram a possibilidade de afastamento do tucano. FHC havia sido alvo de 14 pedidos de afastamento, contra os 34 apresentados por opositores de Dilma Rousseff. Os números podem até ser bem diferentes, mas os argumentos para a cassação do mandato presidencial mantêm a mesma linha: o chamado crime de responsabilidade.

A petista foi enquadrada pelas ditas “pedaladas fiscais” – nome dado ao uso de recursos de bancos públicos para o custeio de programas sociais –, gastos do governo sem autorização do Congresso Nacional e dívidas não contabilizadas. Em 1999, Fernando Henrique foi alvo de denúncias durante a execução do Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional, o Proer, além de ter sido acusado de tentar constranger o Ministério Público e outros órgãos responsáveis pela investigação.

Propostas

Quando era oposição ao Palácio do Planalto, o PT alegava ter propostas alternativas para tirar o Brasil da crise – e, por isso, defendia o afastamento do presidente tucano. Pois agora é o PSDB que diz ter a receita de salvação do país. Tanto que, no próximo dia 8, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), deve fazer um discurso na tribuna do Senado sobre a situação do país e apresentar as primeiras soluções encontradas pelos tucanos para driblar a crise econômica.

A defesa da democracia foi propagandeada pelo PSDB aos quatro cantos para combater o afastamento de FHC. O discurso era de que os petistas não se conformavam com a terceira derrota consecutiva de Lula nas urnas – duas delas para o próprio Fernando Henrique Cardoso. Na era Dilma, o PT é que usa esse argumento contra o PSDB, já que os tucanos não aceitariam ter perdido quatro eleições para o PT – Lula, em 2002 e 2006, e Dilma, em 2010 e 2014.

“O que presumo é que existe ainda uma frustração enorme na alma e no peito desses ilustres parlamentares, que não concordam ou não aceitam a deliberação majoritária da sociedade brasileira”, discursava no plenário o então líder do PSDB na Câmara, Aécio Neves, em 1999. No início deste ano, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) usou argumento bem parecido: “Parece que o senador Aécio perdeu em 2014 e agora não aceita mais derrota”.

‘Golpismo’ agora mudou de lado


Golpe, golpismo, golpistas são palavras que voltaram para o cotidiano político nacional, especialmente pelos petistas, para referir-se aos que defendem o impeachment. As expressões foram utilizadas pelo PSDB na defesa de Fernando Henrique. Agora, fazem parte do vocabulário petista. A própria presidente Dilma tocou no assunto na sexta-feira, durante discurso no encerramento da 15ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília. Ela disse que vai lutar contra o impeachment. “Para a saúde da democracia, nós temos de defendê-la contra o golpe”, declarou a presidente.

Em 1999, o deputado Arnaldo Madeira disse: “Ao pedir a abertura de processo de impeachment contra FH, a oposição está repetindo uma tradição histórica da esquerda brasileira, que é a de adotar atitudes golpistas e se negar sempre a fazer o jogo político”. “É o povo na rua que está falando cada vez mais nisso (impeachment). Não se pode falar em golpismo quando se pronuncia a palavra impeachment”, disse recentemente o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB).

As críticas entre petistas e tucanos em relação às suas gestões também se assemelham. Fernando Henrique foi acusado de estelionato eleitoral pela oposição, por não tirar do papel a promessa de campanha de crescimento e geração de emprego e renda no país no seu segundo mandato. Da mesma forma, agora o PSDB acusa o PT do mesmo, ao conduzir o país de forma bem diferente daquela anunciada na disputa eleitoral.

FHC critica o sistema político


São Paulo – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, durante evento em Lisboa, que parte do sistema político no Brasil está “altamente desmoralizada” e que a fragmentação do sistema político no Brasil é “inacreditável”. “Temos mais de 30 partidos e 39 ministérios, apenas para absorver os interesses desses partidos”, disse FHC, em debate promovido pela Fundação Champalimaud – o número de ministérios citado por Cardoso é anterior à reforma administrativa anunciada pelo governo, em outubro, que reduziu de 39 para 31 o total de ministérios.

O ex-presidente afirmou ainda que, com as eleições e a maior mobilização social em relação aos assuntos políticos ao longo dos últimos anos, há uma certa tensão entre a democratização e o atual formato do sistema político brasileiro. “Como consequência da democratização e das mobilizações, se olharmos dentro do Congresso, talvez tenhamos uma representação mais moderna do que antes”, disse FHC. “Mas não por causa disso há uma modernização da cultura política brasileira”.

DELCÍDIO

Fernando Henrique disse também que a decisão do Senado de manter a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), detido há 10 dias pela Polícia Federal sob acusação de obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, foi influenciada pelas pressões populares, manifestadas sobretudo via redes sociais. Para o ex-presidente, o Senado iria optar por não manter Delcídio preso, apesar de o parlamentar ter feito “coisas ruins”. “Foi uma surpresa, por 59 votos a favor e 13 contra, o Senado decidiu que a prisão era correta. Por quê? Por causa das mídias sociais”, disse o ex-presidente, destacando que os senadores começaram a receber informações a respeito das pressões populares sobre o tema a partir das redes sociais. “Hoje é possível ir além. As pessoas têm voz, independentemente das estruturas e instituições.”


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