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Estado de Minas

Lula diz que 'PT só pensa em cargos'

Ex-presidente volta a criticar o partido, que, segundo ele, perdeu a utopia, reclama que a legenda, que ajudou a criar, envelheceu e cobra uma revolução interna para atrair jovens


postado em 23/06/2015 06:00 / atualizado em 23/06/2015 07:12

O ex-presidente fez o desabafo ao lado do convidado, o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González (foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula)
O ex-presidente fez o desabafo ao lado do convidado, o ex-primeiro-ministro espanhol Felipe González (foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula)

Brasília – Depois de criticar duramente a presidente Dilma Rousseff durante encontro com representantes da Igreja Católica na última quinta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a ser cáustico nos ataques ao PT e ao governo. Durante seminário batizado de “Novos desafios da democracia”, promovido pelo Instituto Lula com a presença do ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe González, o ex-presidente afirmou que “o PT só pensa em cargos”, defendeu uma revolução no partido e reclamou que a legenda, que ajudou a criar, envelheceu. “Não sei se é defeito nosso ou do governo. Mas o PT perdeu a utopia”, definiu Lula.

“Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje nós precisamos construir isso, porque a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém trabalha de graça”, recamou Lula. “Nós temos que definir se queremos salvar a nossa pele, nossos cargos ou nossos projetos”, cobrou ele.

Essa foi a segunda vez, em menos de uma semana, que Lula atacou o governo e o PT. Na semana passada, ele reclamou que “Dilma, o governo e o PT estão no volume morto, incapazes de dar uma boa notícia desde as eleições presidenciais”. Internamente, os petistas afirmam que a estratégia adotada pelo ex-presidente é clara: “Me blindem, pois não existe governo Dilma sem mim”, avisou ele.

Para petistas graúdos, Lula cansou de avisar internamente que se sente desprestigiado e, especialmente, desprotegido, diante dos desdobramentos da Operação Lava-Jato. A prisão do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, deixou o petista ainda mais preocupado. Para Lula, o governo precisa fazer algo por ele. O ex-presidente tem se irritado com a postura adotada pela presidente Dilma de “achar que o atual governo não tem nada a ver com a Lava-Jato, que isso é um problema de Lula, não dela”.

A avaliação desfavorável a Lula estaria sendo reforçada por ministros como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante; da Secretaria-Geral, Miguel Rossettto; da Secretaria de Direitos Humanos, Pepe Vargas; e da Justiça, José Eduardo Cardozo. Justamente o grupo de conselheiros presidenciais que não integram a ala lulista do governo. Lula fez chegar ao núcleo governista que, quando Dilma patinava nos índices de aprovação e nas ações no primeiro semestre, ele foi o primeiro a avisar que não era possível fracionar os governos – oito anos exitosos dele e quatro sofríveis de Dilma. “Ele emprestou o legado para que ela se reelegesse. Agora, por motivos diversos, também não interessa se desapartar de Dilma para se deteriorar sozinho”, disse um petista próximo a Lula.

No Planalto, a impressão é que o recado ecoou pelos corredores sem ser ouvido. Há quem diga que é apenas “questão de tempo” para Lula ser preso. Apesar dos constantes avisos do ex-presidente, o governo está tão afundado em problemas, que não consegue pensar em uma estratégia para blindá-lo. Ainda mais porque quem tomaria a frente da defesa seria justamente Cardozo, ministro pelo qual Lula jamais nutriu simpatia.

A avaliação é de que o governo patina na própria impopularidade, com uma rejeição de 65% e uma avaliação positiva de apenas 10%. Além disso, haveria tendência de piora da conjuntura, com aumento do desemprego, a inflação, juros altos e baixo crescimento. Com isso, sobraria pouco tempo para o Planalto blindar Lula.

O ex-primeiro-ministro da Espanha falou um pouco sobre seu partido, o Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), que deixou o governo após denúncias de corrupção. González elogiou a gestão de Lula e disse ter passado por situação semelhante ao que avalia viver hoje o governo petista. “Quando um comando de jornalistas, juristas e promotores se junta, pode tirar qualquer um do governo”, afirmou o político espanhol.

Com agências

 


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