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Estado de Minas

Nossa história: Impeachment nas ruas há 51 anos

Em março de 1964, o governador paulista Adhemar de Barros convocava a população a se manifestar pelo afastamento de Jango, mas foram os militares que depuseram o presidente


postado em 14/03/2015 06:00 / atualizado em 14/03/2015 07:30

Ao lado da primeira-dama, Maria Tereza, Jango anunciou sua intenção de implantar reformas de base em comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964(foto: JOÃO DE ALMEIDA/O CRUZEIRO 13/3/64)
Ao lado da primeira-dama, Maria Tereza, Jango anunciou sua intenção de implantar reformas de base em comício na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março de 1964 (foto: JOÃO DE ALMEIDA/O CRUZEIRO 13/3/64)
Esse é o remédio legal. Está previsto na Constituição e pode ser aplicado ao chefe da Nação, que foi à praça pública pregar a subversão à ordem.” Com essas palavras, proferidas há 51 anos em cadeia nacional de rádio, o governador paulista Adhemar de Barros encerrava sua convocação para que a população fosse às ruas em defesa do impeachment do presidente João Goulart. Era um fim de tarde de domingo – 15 de março de 1964 –, dois dias depois de Jango anunciar a decisão do governo federal de implantar as chamadas reformas de base para mais de 100 mil pessoas, em comício em frente à estação ferroviária Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Duas semanas depois, militares mineiros puseram as tropas e os tanques em direção ao Rio para dar o golpe e destituir o presidente.

O meio político brasileiro atravessava um dos fins de semana mais tumultuados de sua história. Em pleno domingo, o Congresso Nacional retomava as atividades sob efeito do discurso feito por João Goulart no estado da Guanabara. As movimentações contrárias ao governo federal tinham forte apoio da bancada e de lideranças mineiras. O governador Magalhães Pinto, em rota de colisão com Goulart desde 1963 e em sintonia com Adhemar de Barros, se tornou um dos mais ferrenhos críticos da administração federal.

Em tom de ameaça, o deputado cearense Armando Falcão (PSD) disparava contra uma tentativa de golpe comunista que estaria sendo articulada por Jango. Segundo Falcão, a pretexto de promover as reformas de base, o presidente estaria preparando terreno para um estado totalitário nos moldes da União Soviética em território brasileiro. O impasse se formou logo no primeiro dia de trabalho dos parlamentares: “Enquanto o senhor João Goulart for presidente, não votaremos nenhuma emenda constitucional”, ameaçou o parlamentar. A maioria dos deputados criticou a mensagem presidencial enviada ao Congresso para a abertura do ano legislativo. Goulart detalhava ponto a ponto suas promessas para livrar o Brasil da miséria e pedia um “exame desapaixonado” dos parlamentares para encarar as mudanças necessárias ao país.

O resultado não poderia ser pior. Ao longo da semana, várias bancadas estaduais rechaçaram as propostas de Jango, consideradas esquerdistas e comunistas. Nos bastidores, o governador paulista articulava uma maneira concreta para retirar o presidente do poder, enquanto avançavam as negociações sobre o impeachment. “Devido às tais atitudes subversivas do governante, que enfraquecem nossas instituições, não vemos outro caminho que sua imediata destituição”, afirmou Adhemar.

A insatisfação ganhou as ruas em 19 de março, quando cerca de 300 mil pessoas fizeram passeata na capital paulista, partindo da Praça da República até a Praça da Sé. Organizada pela União Cívica Feminina e apoiada por setores da Igreja e partidos conservadores, os participantes lançaram no mesmo dia o “Manifesto ao povo do Brasil”, convocando a população para derrubar Jango. Nos dias seguintes, a marcha se repetiu em várias capitais, levando milhões de brasileiros para as ruas em defesa do impeachment presidencial. No entanto, as articulações do governador paulista para destituir João Goulart por meio do impeachment foram atropeladas por outra articulação que ganhou força dentro dos quartéis. Em 31 de março, os militares tomaram as ruas do Rio e tiraram Jango da Presidência da República, dando início à ditadura militar.


Dois dias depois, o governador Adhemar de Barros usou cadeia nacional de rádio para chamar a população às ruas pelo impeachment de Jango (foto: ANTÔNIO RUDGE/O CRUZEIRO 15/3/64)
Dois dias depois, o governador Adhemar de Barros usou cadeia nacional de rádio para chamar a população às ruas pelo impeachment de Jango (foto: ANTÔNIO RUDGE/O CRUZEIRO 15/3/64)
O GRANDE ASSALTO O governador paulista Adhemar de Barros, articulador do impeachment que não se concretizou, entrou para a história com um lema que acompanharia vários políticos brasileiros: “rouba, mas faz”. Em suas gestões como prefeito da capital paulista e governador de São Paulo, surgiram várias denúncias de enriquecimento ilícito. As que tiveram maior repercussão vieram à tona em 1954, quando o governador teria comprado, com dinheiro público, 11 automóveis e 20 caminhões da General Motors. Depois de quitados, ele teria pedido à montadora que refaturasse os veículos em nome de outras empresas e os distribuído a seus parentes e amigos. Em março de 1956, o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou Adhemar a dois anos de prisão e suspendeu seus direitos políticos. Mas, dois meses depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) o absolveu das acusações.

Mesmo depois de morrer, em março de 1969, Adhemar foi personagem no episódio do roubo ao cofre de sua amante Anna Grimel Capriglione. Em junho, em um dos períodos mais duros da ditadura, 11 militantes da VAR-Palmares invadiram a mansão de sua amante no Bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, renderam todos os funcionários e levaram o cofre. O montante roubado é estimado em cerca de R$ 15 milhões, em valores atualizados. Segundo militantes que participaram da ação, a presidente Dilma Rousseff (PT), então iniciante nos movimentos de combate ao regime militar, ajudou a trocar parte do dinheiro em uma casa de câmbio no Copacabana Palace.

Saiba mais

sarney assumiu há 30 anos


Há 30 anos, também em 15 de março, José Sarney tomava posse no Palácio do Planalto no lugar de Tancredo Neves. O político mineiro foi eleito pelo Colégio Eleitoral como primeiro presidente civil após o golpe militar de 1964, mas foi internado com diverticulite na véspera da posse. Tancredo já havia acertado a formação do ministério e nos dois primeiros meses de 1985 conversara com vários setores da sociedade civil brasileira. Nas semanas seguintes à posse de Sarney, a expectativa era de que Tancredo assumisse o cargo para o qual foi eleito, mas a saúde piorou e ele morreu em dia 21 de abril.


Linha do tempo

1961


Em janeiro, Jânio Quadros é o primeiro presidente da República a tomar posse em Brasília. Menos de sete meses depois, em 25 de agosto, ele renuncia.

1962

O presidente João Goulart apresenta o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social, elaborado por um grupo comandado pelo economista Celso Furtado.

1963

Depois de 14 meses de experiência parlamentarista, a população decide, por meio de plebiscito, retornar ao regime presidencialista.

1964

13 de março


João Goulart anuncia em comício, na Central do Brasil no Rio de Janeiro, a intenção de implantar as reformas de base.

15 de março

Jango encaminha mensagem ao Congresso, na qual sugere uma reforma constitucional ampla, com reforma agrária e universitária, além de um plebiscito para apurar a vontade popular sobre as reformas de base.

19 de março

Marcha da Família com Deus pela Liberdade leva cerca de 300 mil às ruas de São Paulo, pedindo o afastamento de Jango e contra
a “ameaça comunista”.

31 de março

As tropas do general mineiro Olympio Mourão Filho partem em direção ao estado da Guanabara, os primeiros movimentos para o golpe militar que durou 21 anos.


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