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Estado de Minas

Renan Calheiros é reeleito sob a sombra da Operação Lava-Jato

Reeleito para comandar o Senado, Renan Calheiros preocupa o Palácio do Planalto por causa de envolvimento em investigação. A candidatura dele à reeleição foi anunciada há poucos dias


postado em 02/02/2015 06:00 / atualizado em 02/02/2015 07:39

Renan (c) vai comandar o Senado por mais dois anos: base governista aderiu à candidatura dele, que prometeu gestão independente do Planalto (foto: Waltemir Barreto/Agência Senado)
Renan (c) vai comandar o Senado por mais dois anos: base governista aderiu à candidatura dele, que prometeu gestão independente do Planalto (foto: Waltemir Barreto/Agência Senado)

Brasília – Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reeleito nesse domingo presidente do Senado em sessão de voto secreto. Com receio de a vitória do único adversário, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), ser atribuída ao apoio da oposição, a base governista aderiu à candidatura de Renan, que obteve 49 votos contra 31 do correligionário. Houve um voto nulo. Fiel ao Palácio do Planalto nos dois anos anteriores, o peemedebista traz agora uma preocupação ao governo: o suposto envolvimento no esquema investigado pela Operação Lava-Jato.

É a quarta vez que Renan é eleito presidente da Casa. Dos três mandatos anteriores, não cumpriu integralmente o segundo. Em 2007, precisou renunciar ao comando do Senado depois de ser acusado de uma série de irregularidades, como usar notas frias para comprovar a renda com que bancava despesas de uma amante. Este ano, Renan enfrentou disputa mais dura do que a de 2013, quando venceu o então senador Pedro Taques (PDT-MT) por 56 votos a 18.

Embora a disputa tenha sido mais difícil para o peemedebista no plenário, Renan conseguiu se reeleger sem os protestos populares que enfrentou dois anos atrás. Na época, um abaixo-assinado com mais de 1,5 milhão de signatários foi entregue ao Senado contra a eleição do senador. Para evitar os holofotes, Renan optou pela estratégia do silêncio. Só anunciou a candidatura à reeleição na última semana, quando foi obrigado a mudar de tática após o lançamento do nome de Luiz Henrique.

O adversário de Renan rachou o PMDB e ganhou o apoio formal de PSDB, DEM, PSB, PP, PDT, Psol e PPS. No plenário, Luiz Henrique defendeu a sua candidatura com discurso de mudança. “Não se pode aprisionar o sentimento de mudança. Esse sentimento vem das urnas e ronda os corredores do Congresso”, disse aos senadores. Ele propôs ainda uma gestão mais “democrática” dos trabalhos da Casa, com o sorteio da relatoria de projetos de lei. Hoje é o presidente que escolhe o relator das propostas.

Não foi suficiente para convencer a maioria dos colegas. Renan discursou sobre seus dois anos de mandato. Reforçou que fez uma reforma administrativa na Casa, com o corte de cargos comissionados e economia de recursos. Prometeu ser independente em relação ao Palácio do Planalto e ser o “presidente de todos os senadores”. Em cortejo à oposição, disse que os adversários da presidente Dilma Rousseff têm “espaço sagrado”. Sobre a petista, disse que é contrário à proposta de plebiscito para reforma política.

“Acho que a sociedade deve, sim, ser consultada sobre a mudança da reforma política que nós haveremos de fazer no Brasil. Não fazendo um plebiscito (como propõe Dilma) e entregando a competência constitucional do Legislativo, mas votando a reforma (no Congresso) e fazendo um referendo, que foi a solução que nós utilizamos para a proibição da venda de armas no nosso país”, disse Renan, que, depois de ser reeleito, agradeceu ao apoio do PMDB e disse que a disputa com Luiz Henrique “ficou no passado”.

PT foi decisivo para vitória

Aécio Neves (PSDB-MG) atribuiu a vitória do peemedebista ao PT. “O senador Renan deve uma palavra especial de agradecimento à bancada do PT que, mais do que a do PMDB, seu próprio partido, garantiu a sua vitória. O que eu espero é que o senador Renan seja neste seu mandato mais presidente de um Poder e menos aliado do Poder Executivo”, disse Aécio. O líder do PT na Casa, Humberto Costa (PE), rebateu: “Parece que Aécio não aceitou até agora a derrota que sofreu nas eleições presidenciais”.

No Planalto, Renan é visto como o presidente que “mata no peito” quando necessário, mas que cobra uma retribuição cara. A maior preocupação do governo hoje é se ver atrelado ao apoio de um presidente investigado ou réu na Operação Lava-Jato, caso o peemedebista seja denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Renan teria sido citado por delatores do esquema de corrupção na Petrobras.

A composição do resto da Mesa Diretora – duas vice-presidências e quatro secretarias – será decidida pelos parlamentares amanhã. Os partidos que apoiaram Luiz Henrique devem ficar de fora da distribuição. O PT deve emplacar Jorge Viana (PT-AC) novamente como primeiro vice-presidente. Começa hoje a briga pelo comando das comissões. Com a maior bancada, o PMDB tem o direito de escolher primeiro. O líder, Eunício Oliveira (CE), já anunciou que a bancada quer a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), pela qual passam os projetos mais importantes. O PT vai brigar pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que ganha peso estratégico este ano, já que por ela vão passar a série de medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Perfil/José Renan Vasconcelos Calheiros

Presidente pela quarta vez


O advogado e político alagoano José Renan Vasconcelos Calheiros, 59 anos, vai presidir o Senado Federal pela quarta vez. Desde 1994, é um dos três representantes do estado de Alagoas na Casa. Agora, chega à presidência pressionado pelos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Em depoimento de delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que o peemedebista mantinha acertos com o doleiro Alberto Youssef, o principal operador do esquema de corrupção na estatal.

Há ainda outro obstáculo a ser vencido. O Ministério Público Federal ingressou com uma ação civil por improbidade administrativa contra o parlamentar por utilização irregular de avião da Força Aérea Brasileira (FAB). A Procuradoria da República no Distrito Federal pede que o político seja multado em R$ 100 mil e tenha decretada a suspensão dos seus direitos políticos durante período de cinco a 10 anos. O MPF aponta que Renan deixou Brasília às 22h15 do dia 18 de dezembro de 2013 em um dos jatos da FAB. Deveria ir a Maceió, seu reduto eleitoral. O senador desviou a rota em direção ao Recife, onde fez tratamentos de beleza e implante de 10 mil fios de cabelo. O dinheiro gasto no voo irregular foi devolvido.

Em 2007, o senador deixou a presidência do Senado após denúncias de que ele teria usado, na época, dinheiro de um lobista da construtora Mendes Júnior para pagar pensão de uma filha com a jornalista Mônica Veloso. Chegou a sofrer um processo de cassação, mas foi absolvido. Em 2013, voltou a presidir a Casa. É pai de quatro filhos, entre eles, Renan Calheiros Filho, atual governador de Alagoas. O senador já foi deputado estadual, deputado federal e ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso.


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