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Estado de Minas

"O que se diz é falso ou fora de contexto", diz Armínio Fraga


postado em 23/10/2014 06:00 / atualizado em 23/10/2014 08:14

(foto: Eraldo Peres)
(foto: Eraldo Peres)
Brasília – O economista Arminio Fraga é um homem calmo, mas tem se irritado com os ataques da campanha da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, que o associam a propostas de redução do tamanho de bancos públicos ou ao aumento do desemprego. “Entendo o calor da campanha, mas o que se diz é falso ou fora do contexto”, afirma. Ele presidiu o Banco Central (BC) no governo Fernando Henrique Cardoso e já foi anunciado para o Ministério da Fazenda caso Aécio Neves (PSDB) vença a eleição domingo. Fraga esclarece que Aécio defende a autonomia operacional do BC, mas eventuais regras para formalizá-la seriam discutidas apenas mais tarde, não no início do governo. Ele descarta cortes de investimentos e de gastos sociais. Acha que é possível melhorar as contas públicas sem isso, “por tudo o que tenho visto de desvio e má gestão”. A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Estado de Minas.


Sua proposta de eliminar as intervenções diárias do Banco Central (BC) no mercado de câmbio, que já acumula US$ 100 bilhões em contratos de swap, não traria maior volatilidade?

Essa questão tem duas dimensões. A curto prazo, é normal que haja alguma volatilidade. O governo consegue segurar isso, mas a longo prazo acaba provocando um movimento muito maior. A administração da volatilidade a curto prazo atrai um capital de má qualidade, que não nos interessa.

Economistas têm dito que a única maneira de ampliar o superávit primário é reduzir investimentos, dada a inflexibilidade de outras despesas. Como resolver isso?
Essa é uma visão muito pessimista. Não é preciso cortar gastos sociais, tampouco investimentos. É um compromisso nosso e um desafio. Por tudo o que vejo de desvio e de má gestão, é possível fazer mais.

Pode citar alguns exemplos de má gestão?
Há atrasos e sobrepreços por todo lado. Isso vai ter que ser detalhado adiante, temos de ver o que se vai herdar. O Orçamento existe para estabelecer prioridades.

O que seria melhor para o BC: autonomia ou independência formal?
A posição do Aécio é muito clara: autonomia sim, mas formalizar não é a prioridade. Isso poderia ser um tema a discutir em um segundo momento. Ele (Aécio) tem ordem de prioridade, com a qual eu concordo integralmente, quanto à reforma do Estado e a temas ligados à infraestrutura. Acho que a autonomia do BC é um bom sistema, que poderia ser discutido nos detalhes. O mundo dos bancos centrais evoluiu muito e o ideal, hoje, não é o que se pensava há 10 anos. O conceito é o de agência. Como formalizar isso é um assunto para discussão.

Como foi o episódio do convite para o senhor integrar o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva?
O livro do (ex-ministro Antonio) Palocci registra muito bem isso. Conversei muito com ele durante a transição. Dei uma declaração genérica de que ficaria por um período, algo como seis meses, se fosse necessário. Tive duas excelentes conversas com o Lula já eleito. Eu estava ali para ajudar e funcionou bem essa integração.

Levando em conta essa boa relação que houve 12 anos atrás, os ataques que o senhor vem sofrendo da campanha do PT o incomodam?
Têm me incomodado porque muito do que se diz é falso ou fora de contexto. Entendo o calor da campanha, mas acho que, em geral, as coisas passaram do ponto. Escrevi um artigo sobre os mitos do PT e nada foi contestado. Mas uma declaração sobre o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está sendo usada fora de contexto: a frase em que digo que não sei que tamanho o banco teria no fim do processo. Simplesmente, afirmo que não faz sentido a bolsa-empresário, a concessão de imensos benefícios. Ou subsidiar a Petrobras. Nem citei os contribuidores de campanha. Não existe meta para o tamanho do BNDES, mas sim o desejo de ter critérios sociais para o uso do dinheiro público. Não falei do Banco do Brasil e da Caixa, que precisam ser protegidos e competitivos. Eles têm também missões, mas os recursos para isso têm de vir do Orçamento da União.

Pode citar algum dos mitos do atual governo?
É incrível o governo defender a taxa de inflação que está aí. Achar que um pouco de inflação vai fazer bem ao Brasil é um equívoco de colossais proporções.

Ainda que o senhor pretenda levar a inflação para o centro da meta de modo gradual, ao longo de alguns anos, os efeitos, num primeiro momento, não seriam recessivos por conta do maior arrocho fiscal e monetário?
A recessão já está aí. É totalmente injusto nos colocar a culpa por recessão e por baixo crescimento. No governo Lula, manteve-se uma política comprometida com metas e o Brasil avançou na média dos países vizinhos. Recentemente, (o cumprimento de metas) deixou de acontecer e o país passou a crescer dois pontos abaixo da região. A média anual (de crescimento) do governo Dilma vai ser de 1,6%.

Como destravar o investimento?
A incerteza é o que mais tem assustado empresas e consumidores. A grande fronteira do país para investimentos é a infraestrutura. O governo faz muito discurso sobre isso, mas está tudo atrasado, com resultado geral pífio. O investimento agregado caiu para 16,5% do PIB. Reduzindo a incerteza, a confiança volta e o investimento privado começa a andar.

Mas essa volta da confiança acontecerá simplesmente pelo fato de Aécio ser eleito?
Ouvir por aí que “a confiança vai ser restabelecida só de vocês entrarem” é simpático. Mas não é só isso. Tem de ter substância. Um tema importante é a reforma tributária, porque hoje temos um sistema complexo, cumulativo, que pune exportações. Temos o compromisso de fazer essa reforma.

 


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