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Estado de Minas

Brasil que vai às urnas é muito diferente daquele que votou 2010; entenda

A disputa de agora contrasta com a de 2010, quando o país esperava nova era de crescimento


postado em 28/09/2014 06:00 / atualizado em 28/09/2014 07:38

Paulo de Tarso Lyra e Paulo Silva Pinto

Brasília – O Brasil que vai às urnas na semana que vem para eleger o novo presidente da República é muito diferente daquele que apertou a tecla da urna eletrônica em outubro de 2010. O otimismo e a esperança, marcas características de quatro anos atrás, deram lugar à cautela e à dúvida. O presidente que subir a rampa do Planalto em janeiro de 2015 terá pela frente a necessidade de fazer um acerto de contas com o próprio passado. Se em 2011 convivíamos com um crescimento econômico pujante, 2015 será o momento de corrigir as rotas para que os avanços obtidos neste último período também não escorram pelos dedos com os indicadores econômicos que batem às portas dos brasileiros.

Enquanto o Brasil de 2010 crescia em ritmo chinês, de 7,5% ao ano, o país de 2014 poderá ter crescimento negativo. Segundo o mais recente boletim Focus, a expectativa é de um avanço do PIB na casa dos 0,3%. “Temos um crescimento mais fraco e inflação mais alta do que no segundo mandato de Lula, quanto a isso não há ilusão. Mas o problema é mais profundo, institucional”, disse o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central Alexandre Schwartsman.

Para Schwartsman, a meta fiscal e de inflação foram progressivamente abandonadas. “Não acho que estejamos irremediavelmente caminhando para um desastre ou que vamos bater com a cara no muro, mas há uma clara deterioração”, completou o economista.

O cenário não é difícil apenas na economia. O país que foi às ruas em junho de 2013 ainda está à espera de respostas mais efetivas do poder público federal. Muitos analisaram, de maneira equivocada, que as manifestações que tomaram conta das capitais tinham uma pauta difusa, repleta de queixas por mais educação, saúde e transporte. “Na verdade, o que aquelas pessoas cobravam é que as políticas públicas dialogassem entre si. Elas queriam a implantação do Estado do bem-estar social”, afirmou a professora de saúde coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Lígia Bahia.

A especialista lembra que houve avanços pontuais, mas acrescentou que foram medidas ainda paliativas. “Não adianta analisarmos os números apenas do ponto de vista da saúde. Temos um caos urbano que provoca o aumento das mortes por acidente e por assassinato”, disse Lígia. “O Brasil comemora a redução na mortalidade infantil, mas não conseguimos reverter o quadro de mortalidade materna, por exemplo”, acrescentou.

Na área social, o governo conseguiu obter avanços lentos e muito contestados, especialmente após a revisão no Coeficiente de Gini – que mede a desigualdade –, relatado na mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013. A pontuação caiu de 0,530, em 2010, para 0,495 neste ano (quanto mais próximo de zero, melhor). O problema é que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) errou ao divulgar o dado. Inicialmente, disse que a desigualdade no país havia aumentado. No dia seguinte, retificou a informação e, alegando problemas no cálculo, disse que o Brasil, na realidade, verificou redução do abismo social.

No Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), passamos de 0,739 para 0,744. Neste caso, quanto mais perto de 1, melhor. “Houve avanços sociais em quatro anos graças aos programas de transferência de renda. Mas Dilma pegou a economia crescendo a 7,5% e vai ter o menor crescimento em cinco mandatos. É um desempenho muito ruim”, criticou o professor de economia da UFRJ João Saboia.

Esse mau desempenho pode acabar comprometendo os próprios ganhos sociais. O Brasil dos últimos anos apoiou-se, e muito, no mercado interno de massas. E parte desse grupo é composto justamente pela camada da população que ascendeu socialmente, o que acabará por gerar um círculo vicioso. “Com as expectativas desfavoráveis, é difícil investir. Na energia elétrica, um insumo muito importante, se criou muita desconfiança, há até o risco de um novo apagão”, completou Saboia.


Maturação Sem investimento, não se produz. Sem produção, não se emprega e não se consome. Sem consumo, não se cresce, não se gera riqueza e se compromete a divisão do bolo – o que impacta na distribuição de renda e na igualdade social. “A economia brasileira passou por uma mudança estrutural nos últimos quatro anos”, declarou o economista chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para ele, o país vive um período de maturação do Plano Real, quando se percebe que não é preciso apenas combater a inflação. “Estamos em um país mais complexo, não é possível voltar ao antigo paraíso, quando era muito fácil para alguns ganhar dinheiro. Depois que a pasta de dente sai do tubo, não volta mais”, completou.

O economista acredita que é preciso, agora, investir em produtividade. “Isso pode ser feito de duas maneiras: com investimentos ou queda dos salários, deixando que percam para a inflação. É o grande desafio para o próximo governo”. Há quem aponte para outro caminho: a educação. “É muito bom que os atuais governantes comecem a planejar os investimentos nessa área”, disse o professor Remi Castioni, especialista em educação.

Ele lembra que essa área de atuação é muito complicada, porque as responsabilidades são diluídas entre União, estados e municípios. Mas aponta para um dilema que já se verifica agora e que trará sérias consequências em um futuro não muito distante. “Hoje, enfrentamos uma queda na taxa de matrículas porque a taxa demográfica está caindo”, disse o professor. Segundo ele, até 2040, o número de mortes vai superar o número de nascimentos. “Teremos menos mão de obra disponível. Por isso, ela precisará ser qualificada”, completou Remi.


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