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Estado de Minas

Sede do antigo Dops em BH é tombada e se tornará centro de memória

O local foi usado durante a ditadura para torturar os perseguidos pelo regime militar


postado em 16/10/2013 18:17 / atualizado em 16/10/2013 20:24

Sede do antigo Dops na Av. Afonso Pena, em BH, onde atualmente funciona o Departamento de Investigação Anti-drogas da Polícia Civil(foto: Cristina Horta/EM/D.A Press )
Sede do antigo Dops na Av. Afonso Pena, em BH, onde atualmente funciona o Departamento de Investigação Anti-drogas da Polícia Civil (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press )

Uma página obscura do período da ditadura em Belo Horizonte será transformada para ter um futuro mais interessante para a população de Belo Horizonte. Nesta quarta-feira, foi aprovado, pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, o tombamento do prédio da sede do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena, número 2.351. Com a decisão, o local será transformado em um centro de direitos humanos.

Na reunião desta tarde estiveram presentes parentes de torturados no local e uma das pessoas que foi torturada no edifício. No parecer da relatora, Juliana Gonzaga Jayme, o local deve ser preservado, principalmente, pelo seu valor de memória contra os atos de violência cometidos no endereço. “Preservar a memória, aliás, é uma forma eficaz de evitar a repetição daquilo que se repudia e, nesse caso, o que se evita é repetir sessões de tortura física e psicológica, que ocorreram diuturnamente no número 2351 da Avenida Afonso Pena. Sessões essas que nós repudiamos e, por isso mesmo, não queremos esquecer e, tampouco silenciar sobre elas”, afirmou.

No dossiê usado como argumento para sustentar o pedido de tombamento do prédio foram apresentados inúmeros relatos sobre as práticas de tortura cometidas no prédio e como a estrutura física do local foi adaptada para as práticas violentas. (Confira o relato logo abaixo).

Em junho, o Ministério Público Federal e a Frente Independente pela Memória, Verdade e Justiça de Minas Gerais encaminharam pedido à Secretaria de Estado da Cultura e ao Conselho de Patrimônio Histórico para que o imóvel seja tombado. Em dos depoimentos, um policial civil relata como os locais eram usados para torturas as pessoas consideradas suspeitas pelo regime militar.

Em maio, um monumento em homenagem aos mortos pela ditadura militar foi inaugurado no canteiro central da Afonso Pena, em frente ao antigo Dops. Segundo dados oficiais, 85 mineiros que lutavam contra o regime foram mortos entre 1964 e 1985. Na ocasião, o presidente da Comissão Nacional de Justiça, Paulo Abrão, manifestou seu desejo de que o antigo Dops vire um centro de memória. Outra obra que pretende preservar a história dos que lutaram contra a ditadura, o antigo “coleginho” da Fafich, no Santo Antônio, está sendo preparado para se tornar um Memorial da Anistia.

Com informações de Felipe Canêdo

 Confira o relato de como eram praticadas torturas no local retirados do dossiê do tombamento:

“Em um canto do estacionamento do DOPS, ou seja, estrategicamente localizado fora do edifício principal, existe uma pequena sala, ainda hoje conhecida pelo apelido de sauna. Nela observa-se uma marcação no chão, feita em cimento, encobrindo a existência de uma antiga ‘piscina’ ou tanque azulejado, de raio pequeno, impossível de ser utilizada para a prática da natação, mas com uma profundidade significativa, capaz de cobrir uma pessoa adulta. Na mesma sala, existe um cubículo, também azulejado, com capacidade para abrigar alguns homens em pé. Nela funcionava ‘a sauna’. Esse local, segundo o relato de um policial civil que preferiu não se identificar, era apresentado aos ‘de fora’ como sendo um espaço de lazer dos funcionários onde, nos finais de semana, faziam churrasco e se refrescavam. Tratava-se, no entanto, de uma sala de tortura, onde os presos passavam pelo o que o policial chamou de ‘esquenta e esfria’. Após ser colocado no calor da sauna, o preso passava por sessões de afogamento na piscina. Alguns bancos em alvenaria, presentes na sala, completavam o cenário da tortura”.

“Outro cômodo do DOPS que ainda guarda os sinais da prática da tortura é uma saleta, localizada no segundo andar, toda revestida por placas de cortiça. A presença da cortiça, material utilizado para abafar som, denuncia que naquele local, pessoas foram torturadas. Não por acaso, essa sala pode ser acessada por uma entrada extraoficial. Segundo o relato do policial, através dessa entrada, presos eram levados ou retirados do DOPS sem serem vistos por sua família ou advogados que, na entrada oficial do prédio, esperavam em vão por notícias da pessoa detida”.


 

 

 

 


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