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Estado de Minas

Investigação mostra que Cachoeira comandava agência de empregos em Goiás

Contraventor ordena a vereador que contrate apadrinhada de um delegado e até determina o salário a ser pago, uma prática recorrente em seu esquema


postado em 01/05/2012 07:42

Se o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira – preso desde fevereiro por exploração do jogo –, conseguiu arregimentar aliados em todos os poderes da República, na Câmara Municipal de Anápolis, em Goiás, cidade que escolheu para expandir seus negócios ilegais, não é demais dizer que ele mandava. Diálogos interceptados pela Polícia Federal com autorização judicial demonstram que ele ordenou ao seu sobrinho, o vereador Fernando de Almeida Cunha (PSDB), que contratasse uma “apadrinhada” de seu colaborador, o delegado federal Deuselino Valadares. Ele foi longe: determinou até mesmo o salário da futura funcionária.

Em março do ano passado, em uma ligação para o sobrinho, a quem chamava carinhosamente de Fernandinho, Cachoeira revelou preocupação em atender o pedido do delegado federal, acusado em inquérito policial de repassar informações privilegiadas para a organização criminosa do chefe da jogatina no Brasil. No diálogo, Carlinhos Cachoeira deixa transparecer certa insatisfação de não ter seu pedido atendido por Fernando até aquele momento. No entanto, o sobrinho – que em 2010 foi coordenador da campanha do senador Demóstenes Torres (GO), à época do DEM e hoje sem partido, e pré-candidato à Prefeitura de Anápolis –, justifica-se afirmando não haver recebido qualquer solicitação do tio contraventor.

Vencido o desentendimento, Cachoeira pede um cargo para uma mulher identificada como Lívia, que seria “sobrinha” de Deuselino e estabelece o valor do salário em R$ 1,5 mil. Sem questionar, Fernando responde: “Vou ligar para ela agora. Te retorno aí”. O contraventor foi um dos principais financiadores da campanha de Fernando Cunha, que, em sinal de gratidão, propôs e concedeu ao empresário o título de cidadão honorário de Anápolis. Além do sobrinho, o contraventor tinha como parceiro na Câmara o vereador Wesley Clayton Silva (PMDB), preso no dia 25 na Operação Saint Michel, desdobramento da Monte Castelo, que derrubou o grupo de Cachoeira dois meses antes.

Consulta As investigações da Polícia Federal interceptaram também outro telefonema, desta vez entre Deuselino e uma mulher, justamente para tratar de um emprego para ela. Em diálogo na tarde de 15 de abril de 2011, o delegado federal pergunta à mulher se ela gostaria de um emprego em Anápolis ou em Goiânia, em vez de trabalhar no Detran. A resposta foi: “Qualquer lugar, meu amigo.” Deuselino, então, a chama de “doida” e informa que arrumou uma vaga na Câmara de Anápolis.

A mulher topa e ele prossegue perguntando se ela ainda está linda. E completa: “Tô com saudade. Muita saudade”. Ao final do diálogo, o delegado federal não se contenta em ter conseguido a vaga de emprego e ainda promete mandar buscar sua apadrinhada para levá-la até o novo trabalho. No entanto, Cachoeira desiste de atender Deuselino de imediato e adia a contratação para nova data, mais conveniente para seus negócios. Outras conversas gravadas durante as investigações demonstram que Cachoeira funcionava também como uma grande agência de empregos. A diferença é que os salários eram estabelecidos por ele, de acordo com seus interesses.

O dia D dos amigos

A previsão mais otimista para o futuro do contraventor Carlinhos Cachoeira é de que o Superior Tribunal Justiça (STJ) julgue apenas no dia 8 o pedido de liberdade feito por seus advogados. Coincidentemente, na mesma data o amigo Demóstenes Torres (sem partido-GO) saberá se o Conselho de Ética vai ou não abrir o processo que pode levar à cassação de seu mandato. Os advogados do contraventor já descartaram a possibilidade de entrar com novo habeas corpus antes do julgamento do mérito pelo STJ. "Não vamos fazer isso. Vamos esperar o julgamento do STJ", adiantou-se a advogada Dora Cavalcanti, uma das defensoras de Cachoeira. Cachoeira está preso desde o dia 29 de fevereiro, quando foi deflagrada a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal.

DIÁLOGOS DO CHEFE

O contraventor Carlinhos Cachoeira e o vereador tucano Fernando de Almeida Cunha (PSDB)
Dia: 24/03/2011 - Hora: 9:59:20


Carlinhos: Ô Fernandinho e aí? Aquela Lívia, que eu pedi, que é
sobrinha do Dr. Deuselino... Pedi pra você pôr lá no seu gabinete. Você pôs?
Fernandinho: Lívia? Sobrinha de quem? Dr...
Carlinhos: Dr. Deuselino.
Fernandinho: Não, não pus não. Você me pediu mesmo? Certeza?
Carlinhos: (incompreensível)
Fernandinho: Ah? E, você pediu... a última que você me pediu foi a do Paraíba. Você tem que me mandar então aqui ela, ela vir aqui.
Carlinhos: Lívia. Não pedi não?
Fernandinho: Não. Tô falando sério, pediu não. A última foi do Paraíba e eu ainda te falei ontem que não tinha jeito de entrar este mês, só mês que vem porque ele me entregou um papelzinho depois daquele dia.
Carlinhos: Anota o telefone dela aí. É a sobrinha do dr. Deuselino,
delegado da Polícia Federal 8200-XXXX.
Fernandinho: 8200-XX...
Carlinhos: ..XX. Você põe ela aí pra mim? Põe um salário de 1.500.
Fernandinho: Vou ligar pra ela aqui agora. Te retorno aí.
Carlinhos: Lívia, sobrinha do dr. Deuselino. Então você liga pra ela, eu vou apagar ela aqui, tá bom?
Fernandinho: Tá bom. Eu te ligo aí pra te falar.
(encerrada)

Delegado federal Deuselino Valadares com mulher não identificada (MNI)
Dia: 15/4/2011 - Hora: 13:58:15

Deuselino: Deixa eu te falar, em vez do Detran, você prefere
emprego em Anápolis ou Goiânia?
MNI: Qualquer lugar meu amigo.
Deuselino: É doida.
MNI: Por quê? Tem disponibilidade para Anápolis?
Deuselino: Não, eu arrumei na Câmara aí.
MNI: Pode ser.
Deuselino: Pode ser?
MNI: Pode.
Deuselino: Ah, então tá, Tá organizado aí, tá bom? Aí eu vou só pegar... é... porque ele não tava conseguindo falar contigo e eu não sei o que aconteceu, aí eu já falei com ele ontem, aí é para trabalhar na Câmara aí, tá?
MNI: Tá joia. Tem problema não.
Deuselino: Como é que você está?
MNI: Tô indo
Deuselino: Tá linda?
MNI: Oi?
Deuselino: Tô com saudade.
MNI: É né. Tá.
Deuselino: Muita saudade (...) Então tá, deixa eu te falar, é... Eu vou ver com ele aqui. Eu te ligo daqui a pouco, conforme seja aí já, você pode ir lá agora à tarde?
MNI: Eu tô sem carro.
Deuselino: Uai, eu dou um jeito de mandar te buscar aí, tá?
MNI: Oi?
Deuselino: Eu vou só ver, se ele tiver no jeito lá, eu vou mandar um carro lá.


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