
Brasília – Mesmo com os protestos contra a corrupção, parlamentares apostam que o fim do voto secreto dificilmente será votado no Congresso Nacional. Acabar com o sigilo nas votações foi a principal bandeira dos movimentos que invadiram ruas de pelo menos 12 capitais e reuniram quase 30 mil pessoas no último feriado. A partir de agora, lideranças sociais estudarão mecanismos para reforçar a pressão sobre o Congresso, para que parlamentares analisem a proposta de emenda à Constituição que acaba com o voto secreto. Mais de 7 mil assinaturas foram recolhidas em apoio ao movimento. A oposição garante que negociará com a base governista para incluir o tema na pauta a partir do dia 19. Três propostas que tratam do fim do voto secreto estão prontas no Senado.
“Acho pouco provável que algum dos projetos entre na pauta. Não sinto um espírito para isso acontecer”, afirma o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). O governo também não deve orientar a questão. Para Costa, embora na análise de processos de cassação o voto secreto seja contestado, há situação em que ele é benéfico. “Em alguns momentos temos uma pressão grande do Poder Executivo e que pode influenciar o voto do parlamentar”, justifica.Autor de um dos três projetos em tramitação no Senado, Paulo Paim (PT-RS) acredita que é dever do governo encampar essa bandeira porque há uma resistência grande entre os parlamentares. “A pressão popular tem que continuar. É inadmissível que homens públicos se escondam atrás do voto secreto.” Para o senador, o sigilo é um instrumento que contribui para a corrupção e a impunidade. “É a hora em que o parlamentar negocia com Deus e com o diabo”, resume Paim.
Ficha Limpa
Lucianna Kalil, uma das precursoras do movimento de combate à corrupção, afirma que o grupo está focado agora na votação da validade da Ficha Limpa pelo Supremo Tribunal Federal. A análise entrará em plenário tão logo seja anunciado o substituto da ministra recém-aposentada Ellen Gracie. Na quarta-feira, durante o protesto na Esplanada dos Ministérios, foram recolhidas assinaturas de manifestantes pedindo o fim do voto secreto.
Na ocasião, o espaço para registro das assinaturas se esgotou. “É um completo absurdo alguém não apoiar essa ideia. Quem é conivente com o voto secreto é corrupto e vai ser perseguido pelo povo, não tem meio-termo. Vamos começar a dar nomes àqueles que não estão colaborando com as reivindicações”, desafia. Lucianna espera que os cerca de 30 mil manifestantes presentes no dia 12 endossem a pressão.
