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Estado de Minas LITERATURA

Novas reedições da obra de Drummond miram público jovem

De volta à editora Record, obra do poeta itabirano ganha capas chamativas e apresentações de nomes como Ailton Krenak e Mia Couto


01/04/2022 04:00 - atualizado 01/04/2022 01:10

Ilustração de Carlos Drummond por Quinho
Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, retorna ao Grupo Editorial Record (foto: Quinho)

Desliza sobre o vasto mundo, em vasta inspiração, abraçada por ainda mais vasto coração. Uma poesia que atravessa as décadas, o século e o milênio. Triunfa sobre o tempo: “nós gritamos: sim! ao eterno”. É assim que neste ano de seu 120º aniversário de nascimento, o itabirano Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros, retorna ao Grupo Editorial Record e será também publicado em algumas edições históricas pela Editora José Olympio, duas casas com as quais o autor trabalhou em vida. 

Veja também: Leia posfácios de Ailton Krenak e Mia Couto para novas edições de Drummond

Os primeiros quatro livros escolhidos para abrir a coleção de 63 obras são pilares drummondianos, uma porta de entrada para as novas gerações de leitores. “Alguma poesia”, o primeiro do autor, publicado em 1930 e embebido na estética modernista; “Sentimento do mundo”, escrito em 1940, no contexto da Segunda Guerra Mundial, quando Drummond já havia deixado Minas e se mudado para o Rio de Janeiro; “Claro enigma”, de 1951, em que ele incorpora formas clássicas de poesia em língua portuguesa; e “Antologia poética”, de 1962, no qual Drummond faz o primeiro balanço de sua obra, selecionando aqueles que considera os poemas mais pertinentes para integrar nove seções, ou “pontos de partida”: 1) O indivíduo; 2) A terra natal; 3) A família; 4) Amigos; 5) O choque social; 6) O conhecimento amoroso; 7) A própria poesia; 8) Exercícios lúdicos; 9) Uma visão, ou tentativa de, da existência. 

A nova coleção de Drummond integra um projeto editorial ambicioso e inédito no país, com ampla convergência da obra impressa e canais digitais acessados por código QR, disponível nas capas das obras, em que o leitor acessará vídeos e gravações de leituras pelo próprio Drummond, além de informações detalhadas sobre questões levantadas durante o processo de fixação dos textos e imagens de edições anteriores.

Quem faz o convite é o próprio poeta:
“Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?” 
(“Procura da poesia”, em “Antologia Poética”)

Os quatro relançamentos contemplam cada vírgula, cada quebra, cada espaçamento, em minucioso trabalho de arqueologia poética conduzido pelos especialistas Edmílson Caminha – que se dedica ao estudo de Drummond há mais de quatro décadas, e o poeta Alexei Bueno. Pela primeira vez, estão sendo consultadas anotações do autor em exemplares, além de outras fontes da biblioteca pessoal da família. Tudo para que as novas edições tornem os poemas, na medida do possível, fidedignos à exata intencionalidade do autor. Em livros com dezenas de edições ao longo de décadas, como é o caso das quatro primeiras obras da nova coleção, são frequentes pequenas diferenças do texto em verso em relação a grafias e quebras de linhas. Muitas vezes, esses ajustes foram sugeridos pelo próprio Drummond. 

Presente em “Antologia poética”, o poema “Confidência do itabirano” é exemplo do que ocorre no processo de fixação. 

“De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...”

Em trabalho de escavação sobre as muitas camadas da poesia, revisando textos e inclusive uma gravação do próprio autor de 1978, Edmílson Caminha manteve o verso: “esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil”, que não está presente em algumas edições. “É um trabalho de detetive, de arqueólogo, feito literalmente com lupa e que revela diversas camadas da poesia de Drummond”, define Edmílson Caminha.

“Os livros têm personalidades próprias e cada capa também, essa era a ideia, para que o público que não conhece tenha esse sentimento da variedade e riqueza da obra do Drummond”, explica o escritor Rodrigo Lacerda, editor-executivo da Editora Record. Para aproximar Drummond de jovens, os quatro livros trazem posfácios de leitores cativos do poeta, conhecidos do público em diferentes áreas de atuação. O escritor moçambicano Mia Couto assina o posfácio de “Claro enigma”; a cantora Zélia Duncan, o de “Antologia poética”; o ativista indigenista e escritor Ailton Krenak escreve para “Sentimento do mundo”; e o estilista Ronaldo Fraga para “Alguma poesia”. Cada qual aborda a faceta do autor com a qual mais se identifica. 

Zélia Duncan assinala a contemporaneidade da poesia, que renasce a cada novo olhar: “A poesia não se repete, se reencarna, está sempre começando de novo, a partir de uma nova leitura. Basta abrir as comportas e tudo que é genuinamente poético jorra novamente”. Ailton Krenak destaca o estranhamento drummondiano sobre o “modo de operar desse mundo, o homem em choque com a vida”. Ronaldo Fraga vê o autor como aquele “que continua procurando criar pontes entre as suas diferenças”.

Mia Couto identifica na obra a descrição do confronto entre o mundo e o ser, ambiguidade assumida por Drummond como equivocada. “As fronteiras que separam a realidade e o humano são fluidas e movediças. No final das contas, o homem veste-se com a pele do mundo e o mundo só existe aos olhos do humano. O ferro de Itabira entranhou-se para sempre no chão das almas”, afirma Mia Couto, salientando que Drummond busca interlocução sobre essa ambiguidade da condição humana em gigantes da literatura como Camões, Fernando Pessoa, Dante e o poeta lusitano Sá de Miranda, que registra: “Entre o doente e o são/ mente cada hora a espia; / na meta do meio-dia/ andais entre o lobo e o cão”. É assim, “Entre o lobo e o cão”, o título da primeira seção de 18 poemas de “Claro Enigma”. 


De Itabira para o mundo

Nascido em 1902, Carlos Drummond de Andrade dedica muito de sua obra à sua terra natal, Itabira. Em “Confidência do itabirano”, presente no livro “Sentimento do mundo”, o autor menciona a fotografia na parede que resta da cidade de sua infância, devastada pela mineração predatória, assim como a casa da fazenda da infância, que não existe mais, submersa por uma represa. Mortos os pais, sem referências líricas de onde veio, restam-lhe saudades e dor: 

“Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!”

Reconhecido como um dos principais poetas da segunda geração modernista da década de 1930, Drummond iniciou a sua vida literária com a publicação de alguns poemas em revistas especializadas, após a Semana de Arte Moderna (1922). Certo da dificuldade de sobreviver da escrita, torna-se funcionário público em 1929, carreira burocrática que vai ser permeada por extensa, desafiadora e diversa obra, nas palavras de Rodrigo Lacerda: um eclético conjunto de “poesias, contos e crônicas, livros com vários tons, vários climas, poemas mais bem-humorados, poemas mais filosóficos, mais densos”. 

De inclinação solitária ao desencanto, embora tido como “tímido”, de acentuada veia irônica, Carlos Drummond de Andrade era muito falante entre amigos. Entre esses, confidenciava certa aversão por locais públicos, o que talvez explique por que, em seus últimos anos, tenha mantido uma vida discreta ao lado da esposa, Dolores Dutra de Morais, também mineira (da cidade de Mar de Espanha), com quem partilhou 62 anos de cumplicidades e teve dois filhos: Carlos Flávio, que viveu apenas 30 minutos – a quem é dedicado o poema “O que viveu meia hora” – e a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade (1928-1987).

Ao se casar, em 1949, com o escritor e advogado portenho Manuel Graña Etcheverry, com quem teve três filhos – Carlos Manuel, Luis Maurício e Pedro Augusto, Maria Julieta se mudou para Buenos Aires, onde lecionou literatura na Universidade de Buenos Aires e foi diretora do Centro de Estudos Brasileiros. Ela faleceu aos 59 anos, vítima de um câncer, em 1987. Devastado, Drummond morreu 12 dias depois, de infarto.

A obra drummondiana apresenta quatro fases marcantes indicadas por estudiosos. Na fase gauche ou fase do “eu maior que o mundo” (1930-1940), o humor e a ironia são características que se somam ao isolamento e ao individualismo. Presente em “Alguma poesia” e em “Antologia poética”, “Poema de sete faces”, foi escrito em 1930 e é um dos mais populares, no qual o autor se declara um homem de esquerda: “Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida”. Uma de suas estrofes mais conhecidas:


“Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração. “

Marcada por uma poesia engajada com os problemas sociais e no contexto de seu ativismo no conturbado período da Segunda Guerra Mundial e na ditatura de Getúlio Vargas, a segunda fase da obra de Drummond é chamada social ou fase do “eu menor que o mundo” (1940-1945). Nessa se insere o livro “Sentimento do mundo”. Em uma estrofe do poema “Os ombros suportam o mundo”, Drummond desabafa:

“Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.”

A terceira fase da obra de Drummond é a do não ou fase do “eu igual ao mundo" (1950-1962), constituída por uma poesia mais metafísica, reflexiva e pessimista. O poeta sofre o desencanto que o afasta do engajamento social, abordando temas como morte e vida, infância e velhice, amor e tempo. “Claro enigma” se enquadra nessa vertente, que traz poemas como “Cantiga de enganar”: 

“O mundo não vale o mundo, meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas se tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo,
meu bem,
não vale
a pena, e a face serena
vale a face torturada.
Há muito aprendi a rir,
de quê? De mim? Ou de nada?
O mundo, valer não vale.”

A última fase da obra de Drummond é a da memória (1970-1980), que compreende o período de lembranças da infância na cidade natal, além de reflexões universais sobre o tempo e a memória. A principal obra dessa fase  “Boitempo” (1973) e está programada para ser relançada pela Record, assim como todo o conjunto da obra nos próximos seis anos, ao ritmo médio de oito volumes ao ano, segundo informa o editor-executivo, Rodrigo Lacerda. 

Amiga pessoal de uma vida, acostumada a ser chamada de “musa de Carlos Drummond de Andrade”, a grande poeta Olga Savary (1933- 2020) definia o amigo como um “inquieto tranquilo”, de conformação frágil por fora, mas “bicho de concha, caramujo” por dentro, “um homem que sabia o que queria, um poeta senhor do seu ofício, a direcioná-lo para onde bem entendia, rédeas na mão”, descreve ela em entrevista à revista Língua e Literatura, vinculada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), edição 1987-1988, publicada após a morte do amigo. 

A Drummond, Olga dedicou o livro “Altaonda” – em celta, drum significa “alta” e ond, “onda” – em que tais peculiaridades de sua personalidade são ressaltadas em seu retrato “de raro sal de ferro, violento”, em que o “rigor da ordem” se instala sob o “ardor da chama”, um homem de “história simples com alguma coisa de fatal”, ao mesmo tempo em permanente inspiração, uma “estátua banhada por águas incansáveis”. 

De muitos e tumultuosos silêncios, Carlos Drummond de Andrade costumava retrucar quando solicitado a comentar sobre a sua obra ou acontecimentos do mundo: “Não me perguntem nada; está tudo dito lá, nos poemas que escrevi, nos meus livros”. Este é o permanente convite: reviver o poeta, do eterno sentimento do mundo, que se coloca as mesmas profundas e atormentadas perguntas que pairam sobre a condição humana. 

ENTREVISTA

Pedro Drummond, neto de Carlos Drummond de Andrade

“Trabalhar com a obra é uma forma de atenuar a saudade”


O que os fez decidir pela volta à Record, após deixar a Companhia das Letras?  
A volta da obra de Carlos à Editora Record é uma forma de retomar os passos que ele mesmo deu em 1984. Trata-se da maior editora brasileira, com um time de excelentes profissionais, que, além de muito receptivos a novas ideias, conhecem como poucos o mercado editorial e estão antenadíssimos com os atuais meios de comunicação digital. Mas há um fator muito importante que facilitou a reaproximação entre nós: a amizade e o respeito que unem nossas famílias desde o tempo dos saudosos Alfredo e Sergio Machado.

Como Drummond pode ser lido pelas novas gerações?
Com a mesma emoção que sua obra sempre causou em seus leitores. Se há alguma diferença, estará na forma de transmitir essa emoção literária: hoje, as novas edições podem contar com vários canais de interação que antes não existiam. Os novos leitores poderão complementar a leitura do livro através de códigos QR, com informações atualizadas em canais digitais, tais como as questões levantadas durante a fixação dos textos, imagens de edições anteriores, gravações, vídeos etc., e a possibilidade de compartilhar esse conteúdo. E todo esse trabalho é orientado por um motivado conselho editorial.

Como a família avalia a escolha dos primeiros títulos reeditados? 
Achamos que a equipe da Record está realizando um excelente trabalho de análise das condições do mercado e, naturalmente, estamos contentes pelo rumo que está sendo tomado.

Haverá textos ou antologias inéditas? 
Entre as novidades que a Editora Record está programando, temos o projeto da edição de coletâneas temáticas das crônicas publicadas originalmente no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil entre 1954 e 1984, abordando temas atuais, como a luta para preservar o meio ambiente, a democracia, o cinema, a arte... Há bastante trabalho pela frente. Estamos dando continuidade ao que o próprio Carlos fazia quando montava seus livros com textos que tinha publicado nos jornais. 

O que é mais marcante na memória afetiva que vocês têm do avô?
Sobre as lembranças que Carlos nos deixou, não há uma que seja mais marcante do que a outra. Cada dia posso recordar de algo que, naturalmente, me comove. Vivo com saudade de toda a minha família. Só sobramos meu irmão Luis Mauricio e eu. Se não fosse por meu filho Miguel, fruto de meu relacionamento com a jornalista itabirana Joziane Vieira, minha família poderia estar em vias de extinção. Trabalhar com a obra de Carlos é uma forma de atenuar a saudade. Por isso sou muito grato a todos aqueles que colaboram conosco.

Em que idade leu pela primeira vez Carlos Drummond de Andrade?
Desde a minha infância, Carlos nos escrevia cartas que mamãe nos lia. Depois, pelo que me lembro, comecei a ler sua obra com mais regularidade quando comecei a apreciar poesia, entre 12 e 13 anos de idade. Tive a sorte de ter pais que sempre nos estimularam a ler.

Como era o relacionamento com o avô? Convivinham muito?
Nosso relacionamento era muito bom, com afeto e bom humor, como costumam ser os avós com seus netos. Durante toda a minha infância passamos os verões com vovó e Carlos. Com minha mudança para o Brasil, em 1980, passei a estar mais perto de meus avós e a conviver eles até o fim de suas vidas.

ENTREVISTA

Rodrigo Lacerda, editor-executivo da Editora Record

“Queremos atrair os jovens leitores”

Como foi o processo de escolha dessas quatro obras para o relançamento da coleção de Carlos Drummond de Andrade?
Constituímos um conselho editorial formado pelos titulares da obra, os dois netos do Drummond – o Luís Maurício e o Pedro –, a Sonia Machado e a Roberta Machado, donas da Editora Record, o Edmilson Caminha, que é o fixador de textos de três desses livros – “Alguma poesia”, “O sentimento humano” e “Claro enigma”. O “Antologia poética” foi fixado pelo Alexei Bueno, poeta cariosa. Eu, como editor do selo Record, e a Lívia Viana, editora do selo José Olympio. Porque a ideia é que a volta do Drummond para a Record seja também a volta para a José Olympio, que foi editora muito importante na carreira dele. Então, a Record fará edições regulares da obra dele e alguns livros serão publicados pela José Olympio em edições históricas, com material fac-símile, fotos, coisas desse gênero.

Drummond tem muitos livros que se pode dizer são pilares da obra dele. Não dá pra trazer todos de uma vez. Mas esse conjunto é uma porta de entrada muito boa, com livros que marcam três fases do Drummond – “Alguma poesia”, “Sentimento do mundo” e “Claro Enigma”, e a última obra, a “Antologia poética”, que é o primeiro balanço dos primeiros 30 anos de carreira. Então, esse conjunto de quatro livros oferece vários caminhos para o leitor entrar na obra do autor. A ideia era essa, demonstrar de saída a riqueza da obra dele. A gente ainda tem pela frente “Rosa do Povo”, “Fazendeiro do ar”, “As impurezas do branco”, tem muita coisa pela frente.

Com que regularidade vão ser publicados os novos lançamentos?
Temos novos lançamentos previstos em julho e depois vamos lançar os livros finais do ano de 2022 na data do aniversário de Drummond, em outubro. A gente planeja lançar de oito a 10 livros por ano, nos primeiros seis anos. A obra dele tem 63 livros, entre crônicas, infantis, livros de poesia e tem contos também. Depois, outros projetos podem surgir, pois tem sempre gente escrevendo sobre Drummond. Nós podemos ter ideia de antologias de outro perfil. Coisas inéditas que estão aparecendo, pelo menos em livros, em muitos casos.  Então, esses 63 podem virar mais. 

Qual é a importância de Drummond no contexto da literatura brasileira?
Na segunda metade do século 20, talvez ele seja o poeta mais importante. O que acho muito bonito na obra de Drummond é a imensa variedade. Essa riqueza. Você tem muitos Drummonds, isso não é necessariamente verdade em relação a outros poetas.  Então, Drummond tem uma sensibilidade muito maleável, em que ele usava todos os recursos, então me parece que isso é o grande diferencial dele. 

Drummond trata temáticas que são muito de Minas Gerais, mas ao mesmo tempo são temáticas universais – o mineiro sente de perto principalmente a questão da exploração do minério –, mas a interação do homem com a natureza, esse relacionamento, é uma questão muito universal. Como Drummond evolui no tempo?
Na questão da exploração dos recursos naturais do planeta, Drummond é absolutamente contemporâneo. Alguns poemas parece que escreveu ontem. Por isso, para o livro “Sentimento do mundo” chamamos para escrever o posfácio o Ailton Krenak. É um bom exemplo de como certos poemas se ressignificam ao longo do tempo. Com uma crônica e um poder ultrajovem, uma série de temas da sociedade contemporânea, o feminismo. Tem mil caminhos, mil interpretações novas. E uma obra muito aberta. É totalmente atual. 

É a primeira vez no Brasil que a Record adota essa abordagem de múltiplas convergências entre o livro impresso e canais virtuais para um autor brasileiro?
Nosso propósito é atrair o público jovem, que ainda não conhece Drummond. Cada obra traz posfácios de leitores ilustres, índices de primeiros versos dos livros de poemas, que é algo mais tradicional, uma cronologia que contextualiza os principais fatos literários e políticos do Brasil e do mundo três anos antes e três depois da publicação de cada obra. E na capa do livro vamos ter um código QR que vai levar o leitor ao ambiente digital, onde vai encontrar bibliografia sobre Drummond mais completa do que tem no livro impresso, vai encontrar uma cronologia de vida e obra completa, do nascimento à morte, e vai encontrar um registro das variantes encontradas na fixação dos textos.

Como o ambiente digital é móvel, podemos ter trabalho constante de atualização; cada livro novo que publicarmos de Drummond vai entrar na bibliografia sobre ele. Temos planos de colocar material de áudio, Drummond lendo os seus poemas, ou material audiovisual com outras pessoas lendo poemas do Drummond. Então, esse ambiente digital vai ser algo interativo que complementa o material do livro impresso de várias formas. São várias estratégias para atrair todo tipo de público para a obra dele. 

Capa do livro 'Claro enigma'
(foto: Record/Reprodução)

“Claro enigma”
• Carlos Drummond de Andrade
• Posfácio Mia Couto
• Record
• 100 páginas
• R$ 44,90


“Antologia Poética”
• Carlos Drummond de Andrade
• Posfácio de Zélia Duncan
• Record
• 368 páginas
• R$ 4,90


“Alguma poesia”
• Carlos Drummond de Andrade
• Posfácio de Ronaldo Fraga
• Editora Record
• 128 páginas
• R$ 49,90

Capa do livro 'Sentimento do mundo'
(foto: Record/Reprodução)

“Sentimento do mundo”
• Carlos Drummond de Andrade
• Posfácio de Ailton Krenak
• Editora Record
• 96 páginas
• R$ 44,90




 


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