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Livro faz viagem até o século 16 e inclui jogo para o leitor

Contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura, o projeto Nave ave vaga voa também se apresenta em livrouvido


postado em 22/11/2019 04:00 / atualizado em 22/11/2019 08:41

Ao leito de morte, Dom Marcus da Beira da Ladeira, arqueduque da Cova da Beira, chama o filho Diogo e transmite o último conselho: herança material não há, mas a história da vida dele poderá render-lhe alguma coisa. O filho se espanta. Afinal, o que de interessante a ser contado poderia haver na vida do pai, um engenheiro do Ministério da Marinha, que nunca saíra de seu escritório? Ouve a réplica de Dom Marcus: “Mas alguém vai ter que colocar um ponto final na minha história. E esse alguém só pode ser eu”. Indica ao filho um amigo e mestre em “dar um sabor ao pão bolorento”. .

Encorajado pelos sonhos do pai, Diogo, useiro em montar em seu quarto miniaturas de “navios, barcos, canoas, fragatas, corvetas, galeões espanhóis e caravelas portuguesas”, embarca em sua própria aventura. Se a vida tão comum de Dom Marcus fora pela imaginação transformada num turbilhão de viagens fantásticas, também a dele, a partir dali, seria digna de grandes notas. Diogo reúne a tripulação de amigos. Para sonhar juntos, embarcam na caravela Esquilo Voador, que se pretende situar no século 16 – época dos grandes descobrimentos – a serviço do rei de Portugal, dom Manuel I, cujo reinado se estende entre 1495 e 1521.

É no contexto desta viagem imaginária que os autores Marcus Nascimento e Jacqueline Guimarães lançam neste sábado a obra infantojuvenil Nave ave vaga voa. As ilustrações são de Maurizio Manzo. Este é o segundo trabalho reunindo Marcus Nascimento, Maurizio Manzo e Jacqueline Guimarães. Em 2014, os três criaram o Álbum de poeminhas, com poemas do Marcus impressos em figurinhas adesivas, no verso das quais, em vez da tradicional numeração para a montagem, foram impressas palavras funcionais, como pronomes, artigos, preposições etc., encontradas nos diversos espaços de colagem.

Contemplado pelo Fundo Municipal de Cultura, o projeto Nave ave vaga voa também se apresenta em livrouvido. “Tentamos desenvolver algo que estivesse entre as antigas novelas de rádio e jograis e que pudesse possibilitar às pessoas, principalmente àquelas com deficiência visual, uma aproximação diferente com as aventuras do Esquilo Voador na ausência de imagens”, explica Jacqueline Guimarães. No livrouvido, 18 pessoas dão voz a 35 personagens que em diferentes momentos, tempos e espaços saltam à história. Em referência a Pero Vaz de Caminha, o ator de voz Aggeo Simões, responsável pela gravação e edição, interpreta o papel do escrivão da caravela Esquilo Voador: narra a expedição.

Toda a história é ambientada com 13 músicas do compositor Guilherme Nascimento, extraídas de seu álbum duplo Música de câmara (2009). A partir dessas peças, que incluem formações camerísticas e orquestra, foram extraídos 82 trechos sonoros que funcionam como efeitos e como trilhas. O livro pode ser encontrado, em sua versão digital, no site naveave.com.br, projetado pelo programador Sérgio Mendes. Por entre caminhos e descaminhos dessa cruzada imaginária dos grandes descobrimentos, o tempo e o espaço se atropelam em referências que pinçam peças do mosaico de eventos históricos, espaços geográficos, obras de arte e livros que integram o cabedal de séculos da enciclopédia civilizatória.

Fragmentos aqui e acolá são reintegrados a uma narrativa que, ao observador bem-informado, sugeriria uma colagem non sense. Contudo, a ruptura do tempo e espaço não apenas é permitida às peripécias da imaginação de Diogo, mas, antes de tudo, é uma expressão da fragmentação dos repertórios cognitivos cada vez mais intensa na era das grandes navegações pela internet. A história passa às estórias, numa colagem desordenada.

“Como o acesso à informação é muito grande, criam-se referências sem linha, sem espaço, sem tempo, porque se alcança qualquer informação na internet. Procuramos constituir um diálogo literário com jovens que convivem com essas múltiplas realidades. Estamos no livro, por meio desse formato intencional, o tempo todo desafiando-os em suas referências”, explica Jacqueline Guimarães.

Foi pesquisando linguagens que o livro Nave ave vaga voa tornou-se uma proposta mais ampla, afirma Jacqueline. “Acessando o site pelo celular ou computador, as pessoas podem ler o livro em sua versão digital ou ouvir a história no livrouvido sendo contada por seus personagens, como se fosse uma radionovela. Há também jogos de montagem de imagem, racha-cucas e uma série de quizzes”, acrescenta a autora, lembrando que há ainda um caderno para os leitores que queiram compartilhar as suas próprias histórias.

NARRADOR 

Dom Diogo – que do pai herdou certa “cultura e discernimento, reforçados por alguns livros contrabandeados da França”, como Rousseau, Voltaire, Jacques-Yves Cousteau – dispara o brado em convite à viagem: “Me lanço ao mar”. Entre “marinheiros e grumetes”, o narrador também se alista para que, “assim como Pero Vaz de Caminha”, torne-se o escrivão da expedição de Dom Diogo, capitão-mor do Esquilo Voador.

Entre o céu e o mar, o mar e o céu, passaram por esta aventura da Terra do Nunca ao Novo Mundo. “Os ventos, esses sátiros muito safados, são imprevisíveis em seus humores e adoram vadiar por aí. Espalham palavras ao léu. É prudente evitá-los, procurar um lugar à sombra, quieto como um deserto, tendo apenas um livro diante de si e seguir a desordem das palavras, do sem sentido da vida”, narram os autores. E era exatamente isso o que fazia dom Diogo, já só, ao final das andanças, em “retorno” de onde partira, à improvável Cova da Beira: lia em sua casa a obra de Ítalo Calvino, As cidades invisíveis. Dela, toma emprestada a emblemática passagem: “Chegará o dia em que o meu único desejo será partir. Sei que não devo descer até o porto, mas subir o pináculo mais elevado da cidadela e aguardar a passagem de um navio lá em cima. Algum dia ele passará? Não existe linguagem sem engano”.

E foi “acariciando as suas saudades do Brasil”, que Diogo “brinca com os seus pensamentos e as peças em miniatura de uma caravela chamada Nave Ave Vaga Voa”. O jovem navegante lança a sua âncora ao futuro. “Mas vai pra frente. Empurrado pelo vento. Todo o resto fica para trás. Uma espuma. – Voltei para um lugar onde nunca estive antes, arremata o capitão. Cova da Beira, 8 de novembro de 2089.”

NAVE AVE VAGA VOA
. De Marcus Nascimento e Jacqueline Guimarães 
. Ilustrações: Maurizio Manzo
. Editora independente
. 88 páginas
. R$ 20 
. Versão digital: naveave.com.br
. Lançamento: amanhã (23), a partir das 11h, na Quixote Livraria, na Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, BH 

Três perguntas para...

Marcus nascimento 
escritor          

Como foi a inspiração para o livro?

A motivação inicial foi a partir de uma palavra: esquilo-voador. Essa palavra surgiu numa conversa que ouvi do meu filho com os colegas de escola. Achei intrigante, porque achava que não existia o animal. Comecei a viajar em torno da ideia e pensei que esquilo-voador poderia ser nome de um navio em que algumas crianças iriam embarcar numa aventura imaginária, com uma tripulação em caravela portuguesa do século 16, época dos descobrimentos. Mais tarde, quando escrevia, vim a saber que existe o animal esquilo-voador. A Jacqueline Guimarães entra como coautora em certa altura. Escrevemos pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Enquanto esperávamos a aprovação, fomos mexendo no texto, o livro estava muito perdido em eventos, não tinha uma narrativa com fio da meada. Ela deu esse norte à narrativa, além de contribuir com o texto e ideias.

É um livro para crianças?

Estamos evitando estipular faixa etária. Foi pensado em princípio como livro infantojuvenil. Mas o livro tem várias referências a eventos históricos, outros livros, autores, então pode também interessar ao público adulto. Além da primeira camada de aventura do livro, tem outras reflexões de ordem literária, metalinguística e existencial.

Que mensagem essa obra traz para o público infantojuvenil?

Está na própria palavra que deu origem ao livro, o esquilo-voador. A princípio, partiu-se da ideia que achávamos que era imaginária. De um animal imaginário. Só que no meio do caminho descobrimos que o animal existe. Mas colocaria a reflexão sobre a importância da ficção dentro da realidade e a realidade dentro da ficção. São dois universos que se misturam e são tão reais, os dois se interpenetram e muito necessários para a vida da gente.
 

MAIS UM MISTÉRIO 

 
Pedro e os amigos estão em volta de um mistério que assombra as plantações de uma aldeia indígena. Ao conhecerem o curumim Caíque eles ficam curiosos para descobrir o motivo dessas queimadas e dar um fim a elas. A partir da união do grupo em busca de solucionar esse mistério é que se desenvolve a trama de O mistério da Mata da Alpineia – A chama do réptil, de Ariálisson Freitas, de 32 anos, que lançou, em 2016, O mistério da Mata da Alpineia – Laços de sangue, primeiro volume da série. O primeiro lançamento da obra foi realizado em 21 de novembro. O segundo será amanhã (23). O livro sai pela Páginas Editora.

A chama do réptil trabalha temas relacionados à natureza, bullying, família e amizades e é destinada ao público infantojuvenil. Para criar as personagens, Ariálisson pesquisou o folclore brasileiro, com a finalidade de construir o mundo fantástico da Alpineia. “Eu faço parte de uma geração órfã de Harry Potter, que teve contato com o Sítio do Picapau Amarelo na infância. Essas são as minhas principais referências, daí a vontade de escrever para o público jovem”, explica o autor.


A CHAMA DO RÉPTIL
. De Ariálisson Freitas
. Páginas Editora
. 100 páginas
. R$ 36
. Lançamento: amanhã (23), às 14h, no Delícias da Mari – Rua dos Atleticanos, 592,    Bairro Milionários, BH
 
 


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