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Fantasmas da história


postado em 18/01/2019 05:04

Fotografia de Maria Papuda, em recriação artística para exposição por ocasião do aniversário da cidade(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Fotografia de Maria Papuda, em recriação artística para exposição por ocasião do aniversário da cidade (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

“Quanto mais lidarmos com a história de Belo Horizonte, menos destrutivos e, provavelmente mais republicanos, seremos”, afirma Heloísa Starling. No início dos anos 2000, a pesquisadora cunhou o termo “fantasmas de Belo Horizonte”, se referindo a algumas histórias de entidades que rondam a capital. Geralmente, as fantasmagorias vêm de lugares onde houve destruição de patrimônio e, na visão da pesquisadora, representam a forma como lidamos com a história da capital.

São vários os personagens que marcam lugares como a Rua da Bahia, o Palácio da Liberdade, a Serra do Curral, o Bairro Lagoinha, a Serra – cada qual com sua própria história de apagamento e destruição da coisa pública. “Os fantasmas de Belo Horizonte são como anjos abortados, incapazes de voar ou de transmitir qualquer mensagem divina – é apenas o vento soprando no sopé da Serra do Curral ou entre as árvores do Parque Municipal.”

Das diversas lendas, talvez o espírito mais representativo da destruição sistemática dos símbolos da capital seja Maria Papuda, conhecida como a moradora da última casinha do Curral del-Rei, pouco antes de a comissão construtora da capital destituí-la. Conta-se que durante a demolição da casa dela, Papuda, que levava o nome por ser portadora de bócio, amaldiçoou toda Belo Horizonte. As lendas dão conta de que seu espírito ainda ronda o local onde rogou a praga.

No Bairro da Serra, na Região Centro-Sul, existe a lenda de que o espírito de um dos funcionários da construção da cidade – um cavalheiro de terno preto e guarda-chuva – sempre cumpre seu destino à meia-noite de junho. O fantasma da Serra simboliza o isolamento dos trabalhadores que se mudaram para Belo Horizonte sem ter um lugar na cidade para eles.

“Eu sou a Moça-Fantasma que espera na Rua do Chumbo o carro da madrugada/ Eu sou branca e longa e fria, a minha carne é um suspiro na madrugada da serra”, escreveu Carlos Drummond de Andrade sobre um dos medos pálidos da mocidade belo-horizontina do século 20. Em Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte, o poeta fala sobre a lendária fantasmagoria da Serra do Curral, que desce em neblina para a cidade à noite. Para Heloísa Starling, a personagem desce a serra “talvez com a intenção de evocar tudo aquilo que o fluxo intenso e banal da vida urbana fez escapar à vista de seus moradores: os amores curtos, o tempo breve, o desenlace de um encontro sem dia seguinte”.

A pesquisadora teoriza que os fantasmas são um referencial da história de Belo Horizonte. “O dia em que eles não aparecerem mais, temos duas opções: ou o autoritarismo vendeu de forma tão grande e a cidade se transformou em uma distopia tão forte que os fantasmas não cabem mais nela, ou então ganhamos e conseguimos contar a nossa história para as pessoas que veem o futuro”, afirma.


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