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Estado de Minas ESPECIAL

"Brumadinho não vai passar em branco", diz diretor da Vale

Leia a entrevista com Marcelo Klein, diretor Especial de Reparação e Desenvolvimento da Vale


Brumadinho e região | Reconstrução
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Brumadinho e região | Reconstrução
postado em 30/06/2019 06:17 / atualizado em 01/07/2019 11:06

Marcelo Klein, diretor Especial de Reparação e Desenvolvimento da Vale(foto: Marcelo Bravo/ Divulgação Vale)
Marcelo Klein, diretor Especial de Reparação e Desenvolvimento da Vale (foto: Marcelo Bravo/ Divulgação Vale)
São quase três décadas dedicadas à Vale. Dos 51 anos de vida,27 foram passados na empresa, onde atuou em diversas áreas.Esteve no controle de qualidade,operação, planejamento, desenho de processos, estratégia corporativa e melhoria contínua, até assumir seu novo desafio: a Diretoria Especial de Reparação e Desenvolvimento. Marcelo Klein foi gerente-executivo de Excelência Operacional de fevereiro de 2013 até março deste ano e sua atuação se estendia a todas as unidades da Vale no Brasil e no exterior. O foco no trabalho de desenvolvimento das pessoas, o perfil de escutar os problemas em detalhes, de não se conformar com a primeira resposta, além de lidar com naturalidade com missões complicadas são características que o levaram a assumir a mais nova diretoria da empresa, criada para garantir dedicação às ações estruturantes que envolvem a reparação dos danos causados pelo rompimento da Barragem I, em Brumadinho, e fazer frente aos impactos sociais e econômicos causados pelo ocorrido. 

Formado em engenharia química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em química industrial na PUC-RJ, além de mestre em ciências dos materiais pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Klein deixou o Espírito Santo e veio para Belo Horizonte, onde está sediada a diretoria. Criado oficialmente no último 18 de abril, o setor responde por todas as ações de recuperação social, humanitária, ambiental e estrutural que estão sendo feitas em Brumadinho e nos municípios ao longo do Rio Paraopeba até a represa de Retiro Baixo, e ainda nas cidades cujas populações tiveram que ser evacuadas devido à elevação do nível de alerta das barragens que abrigam. O diretor afirma que a missão envolve, sobretudo, um novo olhar sobre as pessoas no entorno da mineração. “Brumadinho nos cativa de uma maneira que é quase um chamado. Depois de ver o sofrimento das pessoas, você diz:achei um propósito novo de vida”, relata. Para Marcelo Klein, é imprescindível conhecer as razões do rompimento. “Vou levar essa vivência para sempre em minha vida”, diz.

Como começou sua relação com Brumadinho?
No próprio dia do rompimento da barragem, a Vale instalou o gabinete de crise, visando, entre outras questões, ao acolhimento das famílias atingidas e às providências para conter os danos ambientais. No dia seguinte, fui de Vitória para Brumadinho como voluntário, para ajudar a estruturar alguns fluxos: acolhimento à família, enfermaria, núcleo de transporte, suporte a bombeiros etc. Fui fisgado pelo aspecto humano. Recebemos, na primeira semana, famílias ainda com esperança de encontrar parentes vivos, pessoas querendo entrar na mata, funcionários nos-sos dizendo que tinham curso de brigadista e pedindo para que os deixássemos atuar nas frentes de buscas, em uma tentativa de encontrar seus parentes. É necessário lembrar que a Vale é formada por pessoas, que se solidarizam muito com a dor de cada família. Atendendo os atingidos e suas famílias, refletimos muito e é inevitável fazer associações de situa-ções com nossas próprias famílias,  nossos filhos, nossos pais, nossos amigos.

Qual o objetivo da Diretoria de Reparação?
A função da nova diretoria é reparar integralmente os danos às pessoas, às comunidades, ao território e ao meio ambiente, pelo rompimento da barragem no Córrego do Feijão e nos locais onde houve evacuações. A diretoria atua em dois grandes núcleos territoriais: Brumadinho e a Bacia do Paraopeba, onde a proporção dos danos foi muito crítica, por causa das mortes e do carreamento dos rejeitos, e os municípios evacuados preventivamente por conta das barragens em nível de alerta 3 – Macacos (distrito de Nova Lima), Barão de Cocais e Itabirito.

Como ela é formada?
A diretoria conta com representantes de todas as áreas funcionais da Vale dedicados exclusivamente à missão de reparação. Uma das gerências mais estratégicas é a de reparação social, que cuida do atendimento integral ao atingido, suprindo moradias, indenizações, apoio psicossocial. Temos uma gerência de obras de grande porte, que atua na reparação dos danos ambientais. As obras de menor porte, como a restauração e adaptação de casas para acomodação dos desalojados, são realizadas pela gerência de infraestrutura. Temos um grupo de suprimentos que acelera os processos de aquisição de bens e serviços e a mobilização de contratos. Contamos também com um grupo jurídico robusto. Nossa gerência de saúde cuida da agenda com as secretarias de Saúde e com o Ministério da Saúde. Temos um pequeno grupo de relações institucionais, na interlocução com autoridades nas esferas municipal, estadual e federal. E, por fim, uma equipe de segurança patrimonial.

São várias frentes de atuação, então?
Sim. E estamos aproveitando os aprendizados da reparação para melhorar nossos processos e políticas internas. Nos perguntamos sempre: o que é fazer uma boa reparação? A resposta começa por uma escuta atenta e empática aos atingidos e continua à medida que cada atingido permita que nós estejamos ao lado deles.

Quais são as principais frentes de trabalho neste momento?
Estamos atuando fortemente na recuperação da qualidade da água, que é monitorada em 66 pontos ao longo da bacia do Paraopeba, e nas obras de engenharia para contenção dos rejeitos. A frente de apoio psicossocial e o suporte à composição das indenizações individuais extrajudiciais também é prioritária.Outra frente muito relevante é a retomada produtiva de pequenos agricultores e comerciantes que tiveram suas atividades interrompidas e renda impactada.

Como é o cuidado com as famílias?
Temos cuidado especial com alguns grupos específicos, como as pessoas que perderam parentes próximos, como filho, pai, mãe,cônjuge etc. Estamos começando a aprofundar este mapeamento, respeitando as fases de luto de cada família.

Terá alguma frente direcionada às crianças?
Temos um trabalho na Estação Conhecimento muito forte em Brumadinho. Estamos ampliando o atendimento de 750 para mil crianças e jovens. As crianças estudam de manhã e no período da tarde fazem atividades de esporte, cultura e lazer. 

Como é a interlocução da diretoria com o alto comando da Vale?
Temos reuniões toda segunda-feira com a diretoria executiva:o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, e seus executivos diretos; responsáveis pelos negócios e pelas funções corporativas. Para você ter uma ideia da prioridade do assunto, a primeira pauta é a reparação. Fazemos um briefing de segurança e, logo em seguida, relatamos como foi a evolução da semana. É uma grande cadeia de ajuda. Do que você está precisando? O que está faltando? O que não está bom ainda? Que fragilidades apareceram nesta semana? Que problema tomou maior proporção? É uma nova dinâmica que a alta direção está praticando e permite suporte efetivo à reparação. A lógica tradicional esperada em uma reunião com a diretoria é você prestar contas a eles. Nós prestamos contas, mas recebemos muito mais em troca. Nosso presidente tem dito isto: temos que fazer da reparação o novo modus operandi da empresa.

Na outra ponta, como é a relação com os responsáveis diretos pelas minas?
Mantemos interlocução frequente com as áreas de operação e, em especial, com as áreas de geotecnia, que estão sendo totalmente recompostas e têm o grande desafio de resgatar a confiabilidade técnica perante os empregados, a opinião pública e a sociedade em geral. Formamos camadas independentes de atuação, que funcionam como linhas de defesa que se fiscalizam. Há um grupo de geotecnia operacional, e outro mais normativo, em estruturas com atuação independente, para garantir a discussão técnica profunda e para que um vigie positivamente o outro.

O que a tragédia traz como aprendizado para a empresa?
A grande lição que a reparação tem me proporcionado é tão simples quanto: Brumadinho não vai passar em branco! Temos a obrigação moral de proporcionar a reparação integral aos atingidos, entender e divulgar as causas do rompimento e transformar a Vale em uma empresa melhor, especialmente em sua atuação social, com um diálogo transparente com as comunidades e com mecanismos efetivos de engajamento social. Qualquer intervenção nos territórios onde atuamos precisa ser muito discutida e comunicada com a comunidade. A segunda grande lição é sobre trazer para o ambiente de trabalho mais sentimento, mais solidariedade, um olhar mais atento às pessoas.

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