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Estado de Minas AÇÕES DE REPARAÇÃO

Biodiversidade em área atingida por rejeitos é analisada por mais de 30 instituições

Cerca de 800 profissionais estão engajados em rotinas de monitoramento e análise da fauna e flora para compreender os avanços ambientais após desastre com a barragem de Fundão


Fundação Renova
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Fundação Renova
postado em 25/10/2019 10:00 / atualizado em 25/10/2019 10:36

Tartarugas marinhas em habitat monitorado, no município de Aracruz (ES), pelo Projeto Tamar, um dos parceiros da Fundação Renova na iniciativa(foto: Fundação Renova)
Tartarugas marinhas em habitat monitorado, no município de Aracruz (ES), pelo Projeto Tamar, um dos parceiros da Fundação Renova na iniciativa (foto: Fundação Renova)
Um dos processos executados ao longo dos municípios atingidos pelos rejeitos da barragem de Fundão, que se rompeu em 2015, busca a manutenção e recuperação da biodiversidade dos habitats naturais. Quatro programas estão em execução para compreensão dos impactos e, assim, adoção das soluções adequadas em cada trecho.
 
As ações, lideradas pela Fundação Renova, organização responsável pela reparação e compensação dos danos causados pelo desastre, envolvem estudos sobre a biodiversidade aquática; a conservação da fauna e flora terrestre; o fortalecimento de estruturas para triagem e reabilitação de animais silvestres, e a consolidação de unidades de conservação. 
 
Para sua efetividade, mais de 30 instituições de ensino e de pesquisa, empresas e ONGs participam da iniciativa, reunindo cerca de 800 profissionais mobilizados em rotinas de estudo e monitoramento.
 
O intuito é que, com o engajamento conjunto, dados sejam colhidos e analisados para que sejam estabelecidas e aplicadas iniciativas de restauração e preservação do ecossistema, de Mariana até a foz e zona costeira no litoral do Espírito Santo.
 

Monitoramento de áreas terrestres

 
Cerca de 200 profissionais coletam dados de animais vertebrados e invertebrados na fauna e flora terrestre, nas ilhas fluviais e nas margens do rio Doce para avaliar os níveis de metais residuais. A análise engloba anfíbios, répteis, aves, mamíferos de pequeno e grande porte, a plantas e insetos.
 
O biólogo Bruno Pimenta, coordenador de biodiversidade da Fundação Renova, destaca o projeto: “É um programa inédito no Brasil, nunca aplicado de forma tão ampla com essa metodologia na Mata Atlântica”.
 
Ele explica que a técnica aplicada é o Rapeld, método definido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) muito utilizado na Amazônia. Ele está sendo implantado pela primeira vez em escala geográfica ampla na bacia do rio Doce.
 
Rapeld permite colher amostras de comunidades biológicas em áreas extensas, ao mesmo tempo que minimiza a variação de fatores, como temperatura e umidade. 
 
Na prática, os trechos de terra são delimitados em áreas que variam de 1 a 5 km. Ao todo, são 107 trilhas monitoradas na bacia do rio Doce, entre Mariana (MG) e Linhares (ES), onde são coletados dados de 14 grupos de fauna, dados sobre flora e qualidade do solo, por meio do mapeamento do uso e ocupação da terra, ajudando a identificar a distribuição e a situação dos remanescentes florestais.
 
Equipe da Bicho do Mato durante análise das condições da biodiversidade terrestre no perímetro do Parque Estadual do Rio Doce(foto: Fundação Renova)
Equipe da Bicho do Mato durante análise das condições da biodiversidade terrestre no perímetro do Parque Estadual do Rio Doce (foto: Fundação Renova)
  
 
Como se trata de um estudo amplo, empresas e ONGS parceiras, como a Bicho do Mato, e instituições federais de ensino como as Universidades Federais de Vitória (UFV) e de Ouro Preto (UFOP) integram os estudos e são cruciais no processo de levantamento dos dados.
 
“Levantamos uma quantidade grande de informações, aproximadamente 65 mil registros para a fauna e 35 mil para a flora, na estação seca e na estação chuvosa. O processo de relatoria será finalizado em outubro e protocolado no Ibama. Assim, as informações passam a ser públicas. Estudamos uma série de organismos. São 15 grupos taxonômicos e organismos diferentes. Estamos no final do primeiro ano de levantamento e no final das análises e relatoria”, esclarece o biólogo Diogo Loretto, doutor em Ecologia que atua como analista ambiental na Bicho do Mato.

Biodiversidade aquática

 
monitoramento do entorno da foz do rio Doce tem ajudado a compreender como os habitats estão se comportando, após a chegada dos rejeitos. Exemplo disso é a análise da área conhecida como um dos principais sítios de desovas de tartarugas marinhas do Brasil – de Aracruz, no Espírito Santo, até a divisa com a Bahia.
 
Os primeiros dados avaliados indicam que o número de fêmeas que sobem até a praia para desovar e a quantidade de desovas mantém a mesma tendência que era observada antes do rompimento da barragem. 
 
A Fundação Renova também fechou um acordo de cooperação técnica, científica e financeira, no início de 2019, com a Fundação Espírito-Santense de Tecnologia (FEST) e com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) para o custeio de projeto de pesquisa da Rede Rio Doce Mar (RRDM). 
 
A Rede Rio Doce Mar é uma rede colaborativa acadêmica formada por pesquisadores de 27 instituições de todo o país com a coordenação central da UFES. Sua função é monitorar aspectos físicos e químicos dos ambientes, assim como a biodiversidade em cerca de 200 pontos, ao longo de toda a porção capixaba do rio Doce, região costeira, marinha e estuários (braço de mar que se forma na foz do rio), e o entorno da foz, a área que vai de Guarapari (ES) até Porto Seguro (BA).
 
Profissionais durante rotina de análise da biodiversidade aquática na área da foz do rio Doce(foto: Fundação Renova)
Profissionais durante rotina de análise da biodiversidade aquática na área da foz do rio Doce (foto: Fundação Renova)
  
 
O coordenador técnico da RRDM, Alex Bastos, explica que os pontos de monitoramento integram trabalho dividido em oito anexos, que representam os ambientes analisados: ecotoxicologia; ambientes dulcícolas, ambientes marinhos e estuarinos; praias; manguezais e vegetação de restinga; mamíferos marinhos, tartarugas e aves marinhas; ictiofauna marinha, estuarina e dulcícola, além de sedimentação em abrolhos. No entanto, para monitoramento e análise dos dados desses anexos, são consideradas três temáticas principais.
 
“A gente trata esses temas como ambientes em termos de análise de dados. Então, temos a análise de dados abióticos, que envolve características físicas, químicas e biológicas, a exemplo da qualidade da água, qualidade dos sedimentos e ocorrência, ou não, de rejeitos. Também temos um conjunto de dados ecotoxicológicos, que aponta a presença, ou não, de metais em diferentes tipos de organismo. E o terceiro tema que é a biodiversidade, quando estudamos efetivamente o que está impactando e como está variando a biodiversidade dos diferentes grupos dentro da cadeia alimentar, indo desde o plâncton que são os microorganismos que vivem na coluna d’água, passando pelo Bentos, que é o organismo que vive no fundo, e os peixes”, esclarece.
 
O trabalho também envolve a chamada megafauna, com análise de cetáceos, como baleias, golfinhos e tartarugas, aves, além das áreas de arrecife. As análises são realizadas com base em comparações com dados obtidos antes do rompimento, bem como dados colhidos nos últimos três anos, período em que a Rede Rio Doce Mar já atuava na avaliação das condições ambientais. 

“Monitoramos os cursos d’água desde o local do rompimento, próximo a Bento Rodrigues, Mariana, até a foz do rio Doce, em Linhares. No mar, para a verificação dos impactos na porção marítima e costeira, a gente monitora uma faixa de litoral que vai desde Guarapari, no sul do Espírito Santo, até Porto Seguro, na Bahia. Isso demanda uma quantidade muito grande de especialistas em campo, recolhendo dados, e de especialistas em laboratório e em escritório, fazendo a avaliação e interpretação desses dados, além da divulgação de resultados”, explica Bruno Pimenta, coordenador de biodiversidade da Fundação Renova. 
 
Análise de amostras coletadas ao longo do trabalho(foto: Fundação Renova)
Análise de amostras coletadas ao longo do trabalho (foto: Fundação Renova)

 
O resultado do monitoramento será utilizado como ferramenta para definição de novas ações de recuperação e preservação da biodiversidade dos ecossistemas afetados. As atividades e os estudos são avaliados e aprovados pelos membros da Câmara Técnica de Conservação e Biodiversidade, que faz parte do Comitê Interfederativo (CIF), coordenado pelo Ibama. O CIF reúne representantes de órgãos públicos e sociedade com a função de orientar, acompanhar, monitorar e fiscalizar a execução das medidas de reparação previstas no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC)

“Os órgãos ambientais é que são os responsáveis por orientar a Fundação Renova em como proceder na recuperação dos ambientes da fauna e da flora, assim como fiscalizar as ações que a Fundação executa. Isso dá para a sociedade uma segurança de que todos os programas estão sendo acompanhados pelos órgãos competentes e dá a segurança que existem critérios técnicos sendo utilizados quando se propuser a recuperação”, reforça Bruno Pimenta. 

Novos horizontes para o Parque do Rio Doce

 
O Parque Estadual do Rio Doce foi criado em 1944. É a mais antiga unidade de conservação de Minas Gerais e compreende o maior maciço florestal contínuo de mata Atlântica do Brasil com 35.970 hectares – abrangendo os municípios de Dionísio, Marliéria e Timóteo. O parque abriga espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, como a onça pintada e o mono-carvoeiro, maior primata das Américas.
 
O local é dotado de estrutura física relevante, com 48 edificações, entre unidades administrativas, casas de vigilantes, alojamentos para pesquisadores, laboratórios, auditórios. Entretanto, a estrutura, há muito tempo, não recebe investimentos para reformas e adequações.
 
Atenta à relevância do Parque para o cenário nacional, a Fundação Renova direcionou R$ 63 milhões para investimento em ações de melhoria e conservação, ao longo de dez anos. Não haverá transferência de dinheiro em espécie, e sim aporte de mão de obra e equipamentos, a partir de um diagnóstico das necessidades da unidade.
 
O aporte será utilizado para ampliar os limites do parque, desenvolver ações de combate a incêndios florestais, adquirir equipamentos, veículos e embarcações, implantar sistemas de vigilância, fomentar reformas, projetos e obras diversas, além de garantir a contratação de consultorias para criação de plano de comunicação e marketing.
 
Essas e outras ações serão guiadas por um plano de trabalho apresentado pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG) e aprovadas pelo Comitê Interfederativo (CIF). Elas estão previstas no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) e fazem parte da ação compensatória que deverá ser feita pela Renova. 
 
Visão aérea do Parque Estadual do Rio Doce(foto: Fundação Renova)
Visão aérea do Parque Estadual do Rio Doce (foto: Fundação Renova)
  

Utilização plena e sustentável

 
O Parque Estadual do Rio Doce abriga a maior floresta tropical de Minas, além de 40 lagoas naturais e é considerado Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Seu complexo de lagos está incluído também na lista de Zonas Úmidas de Importância Internacional, a Lista de Ramsar.
 
Com todo esse potencial, o parque necessita de um plano de uso público, que também será elaborado pela Fundação Renova. Será um documento de gestão que ditará as regras para utilização dos recursos do parque, principalmente o potencial turístico da unidade. “Esperamos que o parque seja um grande indutor de desenvolvimento regional. Tem grande potencial turístico”, afirma Bruno Pimenta, coordenador de biodiversidade
 
A Fundação vai apoiar, ainda, a elaboração do plano de concessão do parque, juntamente com o governo de Minas e o IEF-MG. A ideia é aproveitar o potencial social e econômico da unidade, permitindo a visitação pública na unidade. São previstas as concessões de restaurantes, áreas de camping, atividades de guia, práticas esportivas e ecoturismo. Tudo será estruturado para que essa visitação seja feita de forma ordenada, responsável e alinhada com os objetivos de preservação dos recursos naturais.
 
“O parque tem localização privilegiada, entre dois aeroportos, de Ipatinga e Governador Valadares. Tem condições para atrair uma visitação muito maior do que acontece hoje. E de qualificar a visitação, com praticantes de trekking, ciclismo, esportes náuticos nas várias lagoas do local”, projeta Bruno Pimenta.
 

Atualização do manejo

 
Dentro das atividades de consolidação do parque que serão realizadas, está prevista a atualização do plano de manejo. O plano atual foi elaborado em 2005 e, de lá para cá, ocorreram alterações sociais e econômicas no entorno da unidade.
 
O objetivo principal é dotar a unidade de condições gerenciais necessárias para efetiva conservação dos recursos naturais e disponibilização do espaço para a sociedade, fazendo com que o parque dialogue com as comunidades do entorno. “A Fundação Renova acredita que o investimento no desenvolvimento de ações voltadas para abertura de postos de trabalho, turismo e visitação gerem oportunidades, gerem renda para essas comunidades”, destaca o coordenador de biodiversidade.
 

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