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Estado de Minas AÇÕES DE REPARAÇÃO

Recuperação da bacia do Rio Doce incentiva produção local de sementes

Rede criada em parceria com comunidades tradicionais e povos indígenas gera sementes usadas no trabalho de restauração de 40 mil hectares de mata nativa; inventário florestal da região auxilia monitoramento das ações


Fundação Renova
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Fundação Renova
postado em 23/10/2019 09:30 / atualizado em 23/10/2019 10:25

Cultivo de mudas que serão utilizadas no trabalho de reflorestamento(foto: Fundação Renova)
Cultivo de mudas que serão utilizadas no trabalho de reflorestamento (foto: Fundação Renova)

 
A restauração das áreas de mata nativa e das características naturais na bacia do Rio Doce tem revelado um trabalho complexo. Uma medida compensatória após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015, estipula que 40 mil hectares sejam recuperados em dez anos. A área não foi atingida diretamente pelos rejeitos, mas está em regiões historicamente degradadas pela atividade agropecuária não sustentável, pastos com baixa produtividade, queimadas irregulares e solos extremamente compactados e pedregosos.
 
A iniciativa é realizada pela Fundação Renova, organização responsável pela reparação e compensação dos danos causados pelo desastre, em parceria com o World Wildlife Fund Brasil (WWF-Brasil), que deu vida ao projeto de recuperação em larga escala específico para a bacia do rio Doce. O custo de operação deve chegar a R$ 1.1 bilhão. 
 
A execução foi iniciada em setembro deste ano com o plantio de 800 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs) nos municípios de Governador Valadares, Coimbra, Periquito e Galileia, em Minas Gerais; e Colatina, Marilândia e Pancas, no Espírito Santo. A previsão é que a primeira fase seja concluída até fevereiro de 2020, durante o período chuvoso, com o plantio de 800 mil mudas de espécies de Mata Atlântica, produzidas em parceria com 10 viveiros espalhados ao longo da bacia. 
 
reflorestamento é considerado uma grande cadeia produtiva potencialmente geradora de oportunidades de melhoria na vida das pessoas. Por isso, para viabilizar o plantio nos 40 mil hectares, foi criada a rede de sementes, fruto de plano em parceria com o Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan). Essa cadeia produtiva visa a coleta e beneficiamento de sementes, gerando trabalho e renda para comunidades tradicionais, povos indígenas, agricultores de base familiar e de assentamentos.
 
“A rede de sementes tem muito a ver com o legado que o projeto de restauração florestal pode trazer. Ela tem a capacidade de mobilizar elos estratégicos da cadeia produtiva da restauração”, afirma o diretor presidente do Cepan, o biólogo Severino Ribeiro.
 
A rede foi planejada durante aproximadamente um ano antes de ser efetivamente implantada. Depois de finalizado o planejamento, começou a ganhar corpo com ações concretas e os primeiros grupos de coletores já estão trabalhando.
 
Até o final de 2019 serão investidos R$ 2,9 milhões para incubação de sementes e compra de mudas. A expectativa é que 3,5 toneladas de sementes sejam incubadas e 1,35 milhão de mudas sejam obtidas. Para 2020, os números previstos são: 7 toneladas de sementes incubadas e 700 mil mudas adquiridas.
 
Representantes da comunidade durante capacitação e trabalho com mudas e sementes(foto: Fundação Renova)
Representantes da comunidade durante capacitação e trabalho com mudas e sementes (foto: Fundação Renova)

Força do trabalho na comunidade

 
Na região de Aracruz, norte do Espírito Santo, comunidades indígenas tupiniquins estão coletando sementes que serão utilizadas no plantio dos primeiros 100 hectares restaurados na região.
 
Após a coleta, as sementes são beneficiadas e acondicionadas em lotes para expedição. Nessa parte do processo, técnicos do Cepan e da Fundação Renova checam os lotes e realizam testes de germinação e viabilidade das sementes. Após os testes, sementes de diferentes espécies nativas são mescladas, com base em uma lógica científica, formando um mix que será semeado no campo.
 
A meta da rede é chegar a 60 grupos de coletores de sementes, criando uma nova figura profissional no mercado de trabalho da bacia do rio Doce. Os coletores serão capacitados não apenas com técnicas diretamente ligadas à atividade florestal, mas, também, com conhecimentos nas áreas administrativa e de segurança do trabalho para que possam seguir desenvolvendo a atividade por conta própria no futuro.
 
O perfil do coletor é de pessoas que tenham algum tipo de aproximação com agricultura, contato com florestas ou que já exerceram alguma atividade com a terra. Os coletores são figuras centrais e indispensáveis ao processo.
 
Por experiência em atividades agrícolas e florestais — e de vida —, sabem identificar o momento em que as diversas espécies vegetais da Mata Atlântica estão frutificando. Além disso, conhecem as rotas de coletas para encontrar as sementes. Severino Ribeiro destaca a importância do conhecimento dos moradores da região da bacia.
 
“São grandes historiadores naturais. Conhecem os aspectos fenológicos de uma floresta tropical. Sabem precisar o período de frutificação, de floração de cada espécie tropical. Eles saem andando por grandes áreas de coletas de sementes sabendo o período de frutificação, coletam as sementes e, por meio do seu saber tradicional, trabalham com o beneficiamento, passando as sementes por triagem para deixá-las viáveis”, explica.
 
A atividade é remunerada e pode significar uma mudança no panorama econômico dos coletores.
 
“Para este primeiro ano de projeto, em torno de R$ 300 mil serão repassados para esses grupos de coletores. Estamos falando de pessoas que beiram à marginalização social, em termos de renda e emprego. A função de coletor de semente, além da inclusão com uma nova forma laboral, pode ser uma atividade geradora de renda complementar aos trabalhos de subsistência que eles desenvolvem. É uma mudança de perspectiva na forma de atuar nos projetos de mitigação pós-desastre. Estamos falando de uma tentativa real de deixar um legado”, afirma o diretor do Cepan.
 
À direita da imagem, trecho recuperado com o plantio de mudas de mata nativa com o intuito de recuperar área degradada pelo uso irregular do solo(foto: Fundação Renova)
À direita da imagem, trecho recuperado com o plantio de mudas de mata nativa com o intuito de recuperar área degradada pelo uso irregular do solo (foto: Fundação Renova)
 
 

Plantio das sementes e restauração

 
As sementes coletadas serão, ao final do processo, plantadas por meio do método de semeadura direta, que é sustentável e de baixo custo. A coleta e a semeadura aceleram e otimizam o processo natural de nascimento de espécies vegetais, garantindo um aumento da quantidade de sementes que se tornarão plantas desenvolvidas, na medida em que, se as sementes fossem simplesmente deixadas na natureza, nem todas iriam germinar.
 
Metade da demanda da Fundação Renova será suprida pelas sementes coletadas e beneficiadas pela rede. O restante vem de outras metodologias ativas de restauração, como o plantio de mudas ou condução da regeneração natural. A semeadura direta é capaz de recobrir rapidamente o solo e estruturar o habitat, sombreando a área num período de tempo mais curto do que o plantio de mudas.
 
Entretanto, mesmo com todas as vantagens sociais e econômicas da rede de sementes, seu produto não pode ser utilizado na totalidade das áreas reflorestadas, pois cada local, cada tipo de degradação, requer uma análise quase que personalizada, o que faz com que não exista técnica de plantio absoluta. Assim, iniciativas variadas de revegetação, sementes e mudas vão se desenvolvendo juntas, num processo de interação.
 
“A ideia é que essas metodologias de recuperação de áreas degradadas atuem em sinergia. Não existe uma melhor que outra. Existem algumas que se adaptam melhor a determinado local. Esse talvez seja um dos grandes desafios. Trabalhamos num dos maiores projetos de restauração florestal do mundo. Então, os desafios tecnológicos são muito grandes. Teremos que experimentar diversas formas para potencializar a escala e reduzir o tempo de recuperação da bacia”, conclui Severino Ribeiro. 
 

Inventário Florestal

 
Em toda a bacia do rio Doce serão recuperados, como medida compensatória, 40 mil hectares de mata nativa. Desses, serão 10 mil hectares com plantio direto de aproximadamente 20 milhões de mudas e 30 mil hectares por condução da regeneração natural das áreas. Além disso, 5 mil nascentes serão recuperadas e mais 1 milhão de mudas devem ser utilizadas nesse processo. 
 
Nascente recuperada em propriedade rural com ajuda de produtor parceiro(foto: Fundação Renova)
Nascente recuperada em propriedade rural com ajuda de produtor parceiro (foto: Fundação Renova)
 

Para ter condições de monitorar a eficácia das ações, um diagnóstico da vegetação e do solo vem sendo desenvolvido, chamado inventário florestal. Trata-se de uma iniciativa que busca criar um banco de dados sobre as condições florestais na bacia do rio Doce, levantando informações sobre a variedade e a população de espécies, condições da vegetação e fertilidade do solo. Tais dados servem como referência acerca das condições reais da floresta e auxiliam na avaliação da eficácia das ações de recuperação
 
Na prática, o inventário permite que os profissionais responsáveis pela revitalização — que não se resume ao plantio de espécies vegetais — tenham acesso à indicadores ecológicos utilizados para monitorar os trabalhos.
 
Quatro indicadores principais foram definidos para a iniciativa: diversidade de espécies, densidade de espécies, cobertura vegetal e cobertura de espécies invasoras (mato, gramíneas). Tais indicadores contaram com a aprovação dos membros da  Câmara Técnica Restauração Florestal e Produção de Água (CT-FLOR), que faz parte do Comitê Interfederativo (CIF), coordenado pelo Ibama. O CIF é composto por representantes de órgãos públicos e da sociedade e tem a responsabilidade de orientar, acompanhar, monitorar e fiscalizar as medidas de reparação previstas no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC).
 
Fábio Haruki Nabeta, engenheiro agrônomo e líder de programas socioambientais da Fundação Renova, conta que o propósito é monitorar se áreas recuperadas adquiriram características similares às dos ambientes que se desenvolveram naturalmente.
 
“Analisamos uma mata madura que não foi atingida pelo rejeito, uma floresta que vive há décadas. E inventariamos, fazemos o diagnóstico. Se ela tem 100 espécies vegetais, nossa meta é ter nas florestas que foram plantadas no mínimo 40 destas espécies até o sexto ano após o plantio”, esclarece.
 
Com base no inventário, a equipe de restauração florestal trabalha para alcançar metas estabelecidas na Câmara Técnica. “Recuperar não é só plantar. É preciso analisar qualitativamente a recuperação ambiental, não só quantitativamente”, destaca Fábio.
 
As ações de campo para o inventário foram iniciadas em maio deste ano e serão finalizadas em maio de 2020. E, assim como outros programas da Fundação Renova, o inventário florestal, além de ajudar a definir os rumos do trabalho de reflorestamento, será um legado deixado para os governos e produtores rurais de Minas Gerais e do Espírito Santo.
 

Maior estudo realizado no Brasil

 
inventário florestal da bacia do rio Doce é o maior estudo desse tipo realizado no país. A área abrangida é de 86.715 mil km² e passa por 230 municípios.
 
É um levantamento sistemático das áreas de floresta, realizado com a instalação de 7.060 unidades amostrais (parcelas) na área inventariada. Essas unidades são locais de coleta de dados dos indivíduos vegetais, como altura, diâmetro à altura do peito, espécie, porcentagem de solo exposto etc.
 
Diante da grandeza do território a ser estudado, a bacia principal foi dividida em nove sub-bacias para facilitar o planejamento e realização das atividades no campo.
 
O projeto se destaca não só pelo tamanho, mas pela qualidade. Assim como em outras ações, a Fundação Renova utiliza ferramentas na condução das atividades, além de promover a capacitação dos técnicos inventariantes.
 
“Estamos utilizando tecnologias avançadas, não usamos papel para registrar números, apenas aplicativos. Cada árvore será mapeada, georreferenciada e terá um QRcode, que pode ser lido com celular para ter acesso a todas as informações”, explica o líder de programas socioambientais da Renova.
 
 

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