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Estado de Minas DE OLHO NO FUTURO

Apesar da pouca idade, crianças já dão aula quando o assunto é produção de leite

Edgar de 13 anos, filho de produtores de Alvinópolis, e os irmãos Felipe e Bruno, de 10 e 5 anos, também filhos de produtores de Entre Rio de Minas, contam como pretendem seguir a carreira dos pais


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postado em 10/10/2016 10:48 / atualizado em 10/10/2016 11:42

Edgar (esq) afirma que independente da profissão que escolher, faz questão de continuar o trabalho dos pais, José Antônio e Ângela do Espírito Santo. Felipe e Bruno (dir) também dão sinais de que querem seguir os passos dos pais, o veterinário Fernando Garcia e a bióloga Patrícia Resende(foto: Gilson de Souza)
Edgar (esq) afirma que independente da profissão que escolher, faz questão de continuar o trabalho dos pais, José Antônio e Ângela do Espírito Santo. Felipe e Bruno (dir) também dão sinais de que querem seguir os passos dos pais, o veterinário Fernando Garcia e a bióloga Patrícia Resende (foto: Gilson de Souza)


Edgar tem 13 anos, cursa o 7º ano e mora no Sítio Lages, em Alvinópolis (MG). Felipe completa 10 anos no dia 26, cursa o 4º ano do ensino fundamental e vive na Fazenda Cayuaba, em Entre Rios de Minas (MG). Ambos são extremamente inteligentes, curiosos e mesmo sendo muito novos já demonstram autoridade quando falam sobre produção de leite.

Filho único de José Antônio e Ângela do Espírito Santo, Edgar começou a acompanhar o pai na ordenha aos 2 anos de idade. “Ele já acordava pedindo para ver as vacas e ficava sentadinho, olhando o pai tirar leite. Aos 7 anos, quis que a gente o ensinasse a ordenhar, nessa época a ordenha ainda era manual, e há dois anos e meio, quando instalamos a ordenhadeira mecânica fez questão de aprender a operar o equipamento”, lembra a mãe, orgulhosa.

O pai acredita que o fato de Edgar ser filho único e estar sempre muito próximo do casal contribuiu para que que ele amadurecesse mais cedo. “Nosso filho é responsável e nos ajuda muito. Quando precisamos tomar alguma decisão, sempre ouvimos sua opinião. Ele é novinho, mas já conhece muito da produção de leite”, elogia. Interessado, sempre que tem oportunidade o garoto vai a Dias de Campo e a encontros como o do Programa Balde Cheio, que foi realizado em agosto na capital mineira. “Como ele é muito participativo, os próprios técnicos vêm aqui convidá-lo para os eventos. Neste ano, por exemplo, ele também foi para a Semana do Fazendeiro, em Viçosa, com o técnico da Emater”, diz Ângela.

E todo esse empenho é revertido em reconhecimento pelas pessoas que o acompanham mais de perto, como a madrinha Ana Paula Araújo Pontes Cordeiro, médica veterinária e técnica extensionista do Balde Cheio. Ela diz que alguns dos produtores que atende têm filhos com idades próximas à do garoto e assegura que ele é o que mais demonstra interesse pela produção de leite. “Edgar leva jeito, aprende com facilidade questões que às vezes são de difícil entendimento para muitos produtores. É muito bom para fazer contas e seu raciocínio é rápido”, enfatiza.

Aluno dedicado, ele sabe que em casa as regras são claras. Os estudos vêm sempre em primeiro lugar e a liberação para participar das atividades da propriedade só é dada quando as tarefas estão prontas. “Procuro me organizar para fazer os exercícios ainda na escola ou à noite. Assim, posso acordar e já ir direto cuidar dos bezerros”, diz. Edgar trata as crias como verdadeiros bichinhos de estimação. Escolhe os nomes, faz carinho e conversa. Só de olhar sabe se estão bem ou não, e se observa alguma coisa diferente avisa imediatamente aos pais. “Brinco com elas e à medida em que vão se acostumando comigo ficam mansinhas. Já com meu pai e minha mãe são mais arredias”, instiga. E a mãe responde. “Aí a gente brinca: Edgar, você não está dando educação a elas?”, conta em meio a risos.

Terminada a etapa do bezerreiro, o menino ajuda o pai a cuidar dos animais que se alimentam no cocho e depois reserva um tempo para descansar antes de começar a se preparar para ir à aula. Ao meio dia, sai de casa e caminha alguns minutos até o ponto para pegar a van que o leva à Escola Estadual Desembargador Barcelos Corrêa, localizada em Major Ezequiel, distrito de Alvinópolis.

As melhores notas do boletim vêm da matemática e depois de cogitar a possibilidade de cursar medicina veterinária, Edgar diz que a facilidade com cálculos o tem feito pensar “seriamente” em prestar vestibular para engenharia civil. Mas parece que em casa as apostas ainda continuam firmes nas ciências agrárias. “Vamos respeitar sua opinião e vontade, mas temos esperanças de que ele faça um curso de veterinária ou agronomia para cuidar do que é dele e continuar mais próximo da gente.”

Amoroso, o menino olha para a mãe e diz: “talvez pode ser que eu mude de ideia”. “Independentemente da profissão que eu escolher, não quero que a produção acabe. Acho que o leite é uma atividade que traz um bom retorno quando a fazenda é bem administrada. Quando meus pais não conseguirem mais trabalhar, vou contratar funcionários e como conheço o serviço terei condições de avaliar se estão fazendo da forma correta ou não”, planeja.

Sucessão quase certa

Na Fazenda Cayuaba, as chances de sucessão parecem ser grandes. Com bastante firmeza, Felipe diz que já está decidido. “Vou seguir a profissão do meu pai, quero ser veterinário.” Apesar da pouca idade, ele já surpreendeu os pais positivamente por diversas vezes, como conta a mãe, a bióloga Patrícia da Silva Resende. “Uma vez, indo para a escola, ele viu uma vaca e me disse que ela estava seca e não podia estar naquele lote. Passados dois dias, um funcionário me informou que estava procurando a tal vaca. Aí falei para ele olhar no lote que Felipe tinha mencionado e lá estava ela.”

Fernando Andrade Garcia, pai do garoto, diz que ele aprendeu a ler aos 5 anos e que nessa época não apenas começou a se interessar pelos nomes nos brincos dos animais como também pediu para batizar os bezerros. Felipe faz questão de ajudar o pai nas anotações e observa atentamente o gerenciamento dos dados e a atualização das planilhas. Entre as tarefas que mais gosta estão a escolha dos animais para acasalamento e o acompanhamento dos partos.

Para exercitar, ele criou suas próprias planilhas de excel onde gerencia o “patrimônio que já contabiliza sete fazendas”. As fotos dos animais vêm de buscas na internet e nas fichas o menino reúne informações como o nome do touro ou vaca, grau de sangue, data de nascimento e idade. “Copiei as fórmulas das planilhas do meu pai. A diferença é que ao contrário da fazenda dele, nas minhas as vacas não morrem nem são vendidas. Todas permanecem no plantel”, descreve como funciona a administração de seu empreendimento virtual.

Apaixonado por leite e derivados, certa vez o garoto estava com os pais em uma pousada quando a mãe de um coleguinha ficou impressionada com seu tamanho e perguntou o que ele fazia para crescer tanto. Então Felipe respondeu: “Tomo leite de vaca e não de caixinha”, lembra Patrícia. Espirituoso, ele diz que é “quase um indiano” e emenda: “Para mim, a vaca é um animal sagrado.”

Além das aulas na Escola Coqueiro Verde, o garoto se dedica ao inglês duas vezes por semana. Nos momentos de lazer, gosta de brincar com o irmão Bruno, de 5 anos. Assim como o mais velho, o caçula também já deu provas de que tem potencial para seguir os passos dos pais. “Patrícia e eu sempre brincamos. Costumamos dizer que o Felipe vai fazer veterinária para cuidar do gado e o Bruninho agronomia para cuidar da lavoura”, compartilha Garcia.

O produtor conta que quando Bruno tinha 3 anos sumiu e ninguém o achava. Quando o encontraram, ele estava no galpão de máquinas. “Se contar ninguém acredita, mas ele subiu no trator, ligou o farol e quando cheguei disse ‘dirigir trator’. Hoje ele já gosta das vacas também.” Patrícia diz que ficará muito feliz se os filhos escolherem profissões afins com o negócio da família, mas que não haverá pressão se eles optarem por outras áreas. “O gostar tem que ser natural, como acontece com os meninos. Claro que nosso sonho é que continuem nosso trabalho, mas eles são novos e ainda têm muito caminho pela frente. A certeza que temos é que independentemente da escolha, eles sempre terão carinho pela fazenda e interesse pela produção.”

A palavra da especialista

Por serem os pais referências significativas que os filhos aprendem a admirar e a confiar desde muito cedo em função dos cuidados a eles destinados e do afeto partilhado, é comum que os descendentes reproduzam suas condutas tanto na vida profissional quanto em outros aspectos. A avaliação é da psicóloga Cynthia da Conceição Tannure.

Segundo ela, crianças podem manifestar entusiasmo por alguma profissão, mas como estão em processo de formação e amadurecimento, além de estarem sujeitas a diferentes influências, poderão modificar uma motivação inicial. O momento de consolidação de uma escolha profissional, explica a psicóloga, vai variar de acordo com as experiências de cada indivíduo, com as oportunidades e estímulos encontrados na família, na escola e na cultura de modo geral. “Comumente, uma maior clareza acerca de qual profissão seguir poderá ocorrer no final da adolescência, mas isso não é regra. A adolescência é considerada um importante período de experimentação de papéis, no qual o indivíduo está se conhecendo e entrando em contato com preferências, habilidades e se inteirando sobre as profissões”, explica.

Por mais que tenham vontade de participar de algumas atividades do trabalho dos pais, Cynthia chama a atenção para o fato de que algumas crianças e adolescentes podem parecer, aos olhos dos adultos, maduros e seguros, mas é importante não perder de vista que são indivíduos em desenvolvimento, descobrindo a própria identidade. “Nesse período de descobertas as oportunidades que o ambiente oferece podem ser essenciais para a exploração de habilidades, mas tais oportunidades devem ser sempre acompanhadas de amparo e compreensão”, orienta.

Como diz o ditado “o futuro a Deus pertence”, mas ao que tudo indica Edgar, Felipe e Bruno têm potencial para uma possível sucessão familiar. É esperar para ver!

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