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Estado de Minas

Gestão sustentável da propriedade leiteira

Boas práticas ambientais e de gestão auxiliam propriedade mineira a crescer


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postado em 23/10/2015 15:22 / atualizado em 26/10/2015 16:15

O produtor Luiz Gustavo e seu filho José Portugal apresentam a pista de separação de dejetos(foto: Gilson de Souza)
O produtor Luiz Gustavo e seu filho José Portugal apresentam a pista de separação de dejetos (foto: Gilson de Souza)

A produção de leite é uma atividade desafiadora e que exige dos produtores, cada vez mais, a adoção de posturas sustentáveis, com um sistema de produção que seja eficiente e lucrativo, que ofereça qualidade de vida e boas condições de trabalho aos funcionários e para quem produz e também, seja viável do ponto de vista ambiental.

Para o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste Julio Palhares, muitas decisões que devem ser tomadas pelo produtor dependem de toda uma cadeia de produção que deve agir pensando no futuro do planeta. "As decisões envolvem os mercados internos e externos, os fornecedores de insumos, os consumidores, as aspirações e ambições de sua família, envolvendo inclusive o plano de sucessão familiar. Uma propriedade não é sustentável sozinha, ela depende de outros fatores para isso. Devemos começar a mudar algumas práticas, manejos e formas de pensar", analisa o pesquisador.

Os produtores José Maria Peloso e Luiz Gustavo Portugal, associados da Sociedade Piumhiense de Laticínios (Cooperlat) – cooperativa parceira da CCPR/Itambé – administram a Fazenda Catete junto com suas esposas Maria Augusta e Ana Valéria Vilela, que herdaram a propriedade da família em 2012.

Com a vocação para a produção de leite há mais de 60 anos, a fazenda localizada em Ilicínea (MG), já possuía uma boa estrutura para que os novos gestores pudessem conduzir o negócio. Como a base já estava estruturada, eles partiram para o caminho da sustentabilidade e desenvolveram um projeto que foi implantado há três anos.

O rebanho leiteiro que era semi-confinado, passou a ser confinado em um free stall, com camas de areia e capacidade para 210 animais. Para a limpeza do piso do galpão, foi adotado o sistema de inundação com água 'reciclada' (flushing), que leva os dejetos dos animais e a areia para uma pista na qual estes materiais são separados. Nesta pista, 90% da areia é retida, reaproveitada, seca e reutilizada nas camas de free stall em 90 dias. O chorume que sobra deste processo (água e esterco), é conduzido para um tanque de homogeneização e um separador de sólidos, que filtram e prensam o material.

(foto: Soraia Piva/EM/D.A Press)
(foto: Soraia Piva/EM/D.A Press)


A parte sólida é separada e destinada como adubo para a lavoura de café, outra atividade da fazenda. Já o líquido é encaminhado para os dois biodigestores da propriedade. O material com grande quantidade de carga orgânica gera gás inflamável, que alimenta um gerador de 120 cv e fornece energia elétrica para abastecer todo o sistema da produção de leite.

A economia de energia depois da implantação do sistema foi de 70%, correspondendo a um desconto de R$ 6 mil reais na conta de luz. De acordo com Humberto Dias, médico veterinário que assiste a fazenda, o gasto com a compra de areia também diminuiu, representando uma economia de 90% do valor gasto anteriormente, que era de R$40 reais por cama/mês.

Por dia são gastos 200 mil litros de água de reuso para lavar o galpão. São gastos também, 45 mil litros de água limpa que são distribuídos entre os chuveiros e ventiladores de aspersão que promovem o bem-estar dos animais no período de altas temperaturas. A água utilizada para a lavagem do piso, é aquela que passou pela limpeza do free stall e foi reaproveitada. Represado em uma lagoa, o material líquido excedente do biodigestor é utilizado como biofertilizante e para a limpeza e renovação de todo o ciclo rotineiro da fazenda.

Na avaliação do pesquisador da Embrapa Gado de Leite Marcelo Otenio, a Fazenda Catete deve servir de exemplo para outras propriedades. "Estes produtores e todos aqueles que hoje vislumbram uma oportunidade de ganho e melhoria na atividade com a aplicação dos conceitos e práticas de gestão sustentável são desbravadores e devem ser seguidos por outras pessoas", diz.

No Brasil, o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) disponibiliza aos produtores diversos programas que preconizam boas práticas agropecuárias e que ajudam aqueles que pretendem dar os primeiros passos a caminho da sustentabilidade. Entre eles estão, o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e a Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).

"Os produtores cada vez mais estão criando a consciência de que um estabelecimento rural bem manejado representa um patrimônio de maior valor. Estamos em uma etapa da agropecuária em que encontramos produtores mais zelosos com a sua atividade e como consequência, se tornam mais produtivos", pondera o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Geraldo Rodrigues.

O pesquisador Marcelo Otenio explica que em grandes países especializados na produção de leite como a Nova Zelândia, por exemplo, a sustentabilidade é um tema debatido e que promove o desenvolvimento do setor cooperativista, com a parceria entre organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a FAO (braço das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), que fizeram um acordo que está em vigor desde 2010, para avaliação ambiental da pecuária no país.

Segundo o professor da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Marcos Neves, há apoio dos governos ao redor do mundo para a adoção de sistemas ambientalmente corretos, mas faltam profissionais capacitados para a implantação destas iniciativas.

"Em vários locais do mundo este tipo de investimento é subsidiado pelo governo ou pela iniciativa privada, visando inclusive, desenvolver alternativas de energia, já contando com o fim dos combustíveis fósseis ou para lidar com o aquecimento global e reduzir as emissões de carbono. Porém, temos uma deficiência de técnicos para orientar na escolha e implantação das opções disponíveis. Faltam profissionais com larga experiência no tema sustentabilidade ligados aos bovinos", analisa.

A Fazenda Catete tem dois biodigestores que geram energia para todo o sistema de produção de leite(foto: Gilson de Souza)
A Fazenda Catete tem dois biodigestores que geram energia para todo o sistema de produção de leite (foto: Gilson de Souza)


DO ASPECTO AMBIENTAL PARA O SOCIAL

Em setembro deste ano, 193 países membros da ONU definiram os 17 objetivos e 169 metas que guiarão o período de 2015 a 2030. Foram firmados os "Objetivos para o desenvolvimento sustentável", que começaram a ser definidos na Conferência Rio+20, em 2012.

Entre os itens da lista estão: alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição, promover a agricultura sustentável, garantir a disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos. As ações visam também promover a prosperidade entre as pessoas e o crescimento econômico envolvendo, principalmente, a educação e o bem-estar.

Seguindo esta linha, a Fazenda Catete promove constantemente a capacitação de seus funcionários. Todos os meses, cursos e palestras são oferecidos aos colaboradores da propriedade em parceria com diversas instituições, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Foi construída uma ampla sala de aula na propriedade para receber os palestrantes.

"Com o aprendizado, os funcionários se sentem mais seguros para exercerem as suas funções e mais motivados. Muitas vezes, conseguimos otimizar o tempo de trabalho com o uso correto das ferramentas que aprendemos e oferecemos mais qualidade de vida para todos eles, que ganham tempo livre para fazer outras coisas", explica o produtor Luiz Gustavo Portugal.

PLANEJAMENTO PARA O FUTURO

A Fazenda Catete produz hoje aproximadamente 11.500 litros de leite por dia com 332 vacas em lactação. A meta é chegar a 14 mil litros em 2016 e 16 mil litros em 2017. Um novo free stall com capacidade para 420 animais está em construção e com a nova estrutura, haverá o aumento da produção de leite e de energia. Com as novas obras, os produtores também vão instalar calhas para o reaproveitamento da água das chuvas.

Em análise realizada pelos médicos veterinários que assistem a propriedade, Humberto Dias e Marcelo Pinheiro, foi verificado que com a adoção do sistema de free stall e camas de areia foram reduzidos os índices de Contagem de Células Somáticas (CCS) do leite, de 500 mil para 173 mil cél/mL. "Antes tínhamos animais com problemas de casco, mortalidade no calor e casos de mastite em função do barro. Com a mudança, as vacas no free stall ficam mais limpinhas, o sistema funciona melhor e a produção de leite por funcionário ultrapassou os 1000 litros/dia", conta o veterinário Humberto Dias.

"A produtividade por vaca aumentou muito com o confinamento, passando de 25 para 34 litros. Estamos no caminho certo e percebendo que a gestão, que implica na adoção de práticas sustentáveis em todo processo produtivo, só traz vantagens em todos os aspectos", diz o produtor José Maria Peloso.

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