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Estado de Minas editorial

Reindustrializar é preciso

Fábricas agregam valor, remuneram melhor o trabalho e incentivam o desenvolvimento regional


02/11/2022 04:00






A produção industrial brasileira caiu 0,7% em setembro na comparação com agosto, na segunda queda consecutiva. No ano, a diminuição acumulada é de 1,1% e, em 12 meses, de 2,3%. A retração foi generalizada, atingindo as quatro grandes categorias econômicas e 21 dos 26 ramos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados mostram a realidade de momento do parque fabril brasileiro, que se ressente do desaquecimento da economia brasileira e da perspectiva de recessão global. Juros altos e endividamento elevado no plano interno e crescimento menor na China, grande mercado para produtos brasileiros, afetam as fábricas. Ainda que o grosso das exportações para o país asiático seja de commodities, a demanda por itens agrícolas e minerais dinamiza a indústria nacional com o fornecimento de máquinas, equipamentos e toda sorte de insumos industriais.

Mas esse é apenas um retrato momentâneo de um setor que viu nos últimos anos o fechamento de várias fábricas de multinacionais no Brasil – Ford e Sony são apenas alguns exemplos – e que vem perdendo importância relativa ao longo do tempo e vendo seu peso no Produto Interno Bruto (PIB) emagrecendo. Depois de representar mais de 25% na geração de riqueza do país em 2010, o parque industrial brasileiro passou a responder por 20,5% em 2020, o que, segundo dados do IBGE, representou o fechamento de 9.579 indústrias e a perda de 1 milhão de postos de trabalho em uma década.

Os dados mostram que a promessa de campanha do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de “reindustrilizar” o Brasil exigirá mais do que apenas intenção. Os empresários brasileiros cobram há vários anos o estabelecimento de uma política industrial, inexistente hoje e limitada a conceder incentivos fiscais, que no fundo distorcem a competitividade dos nossos produtos no mercado internacional e desincentivam investimentos em tecnologia e inovação ou na verticalização da nossa cadeia produtiva. É preciso estabelecer uma política industrial com base no planejamento de resultados que se deseja alcançar e alicerçada nas oportunidades que o mercado global oferece, assim como na oferta de financiamentos.

Lula mostra um norte ao mirar nas mudanças climáticas e na conservação ambiental, setores com perspectivas em termos de investimentos globais para a busca de soluções. O Brasil se destaca na geração de energia com fontes renováveis, que representam mais de 60% da nossa matriz, mas, ainda assim, as fontes eólica e solar apresentam potencial de empreendimentos e geração de empregos nos próximos anos, demandando equipamentos e peças que podem ser fabricados no Brasil, além de capital.

Outro ponto no qual o país pode prosperar e se tornar um grande player é nos projetos de hidrogênio verde. Estima-se que desde 2000 cerca de 990 iniciativas com hidrogênio foram registradas em todo o mundo, com quatro delas no Brasil. De acordo com a Agência Internacional de Energia, há propostas sustentáveis em 67 países e os investimentos devem chegar a US$ 500 bilhões até 2030, considerando apenas projetos anunciados a partir de 2021. No Brasil, há projetos-pilotos nos portos de Pecém (Ceará) e Açu (Rio de Janeiro) e um imenso potencial na costa brasileira.

Um setor cuja demanda e o potencial de verticalização oferecem também inúmeras possibilidades de investimento industrial é o agropecuário. Nos insumos há o Plano Nacional de Fertilizantes para o período de 2022 a 2050 e que pretende reduzir as importações brasileiras de fertilizantes, fosfatados e nitrogenados, hoje da ordem de 80% da demanda para um patamar próximo a 50%. Reindustrializar o Brasil é necessário, uma vez que fábricas agregam valor, remuneram melhor o trabalho e incentivam o desenvolvimento regional, mas com o Orçamento apertado e sem recursos para atender às demandas sociais, de saúde e educação, o governo precisará estabelecer estratégias para suporte na busca por mercados e viabilizar fontes de financiamento, deixando a coordenação de ações e execução de planos a cargo do setor privado. Governo e empresários têm que trabalhar juntos pela recuperação do maior parque industrial da América Latina.


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