Igor de Assis
Professor do Departamento de Solos da UFV
Diego Aniceto
Analista ambiental da Vale
O 22 de abril, desde a década de 1970, é consagrado como o Dia Mundial do Planeta Terra. A data representa a luta em defesa do meio ambiente, promovendo a reflexão sobre a importância do planeta e o equilíbrio entre sistemas produtivos e preservação ambiental. Junto com a celebração dessa data, é necessário ressaltar a importância do solo nas diversas ações que estão sendo planejadas e executadas por diferentes iniciativas dentro da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas (2021-2030). Normalmente, nos preocupamos com a disponibilidade da água, com a qualidade do ar, mas deixamos de lado o solo. Esta camada que recobre a Terra é responsável pela produção da maior parte dos nossos alimentos e promove importantes serviços ecossistêmicos.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que 33% dos solos do mundo e 52% dos solos agrícolas estão degradados, principalmente por erosão, compactação e contaminação/salinização. Ainda existem extensas áreas em processo de desertificação. Esses dados são preocupantes, uma vez que o solo tem papel-chave na filtragem e armazenamento da água da chuva, na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e na restauração de ecossistemas.
Uma importante iniciativa global sobre ações e discussões envolvendo o solo e seu papel na saúde do Planeta Terra é o Intergovernmental Technical Panel on Soils (ITPS), estabelecido na primeira Assembleia Plenária da Global Soil Partnership, realizada na sede da FAO, em 2013.
No sentido de promover o desenvolvimento sustentável e reparar ou mitigar impactos, as ações de restauração ambiental precisam ser embasadas em todo esse conhecimento disponível. Em Brumadinho-MG, cerca de 297 hectares de solo foram diretamente impactados pelo rompimento da barragem B1, em janeiro de 2019, sendo 146 hectares de área florestal e mais de 150 hectares compostos por pastagens, atividades agrícolas, pecuária, entre outras. Por meio do correto manejo do solo é possível acelerar a resolução de diferentes problemas ecológicos, uma vez que solos saudáveis produzem todo um ecossistema saudável.
O processo de recuperação ambiental só é iniciado após a liberação das áreas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e demais órgãos públicos, que ocorre por trechos. Quando a área é liberada e o rejeito é removido chega-se à “cota zero”, ou seja, área com a presença de terreno natural. Nesse momento, são iniciados os estudos para caracterização, reconformação e recuperação dos solos. Na sequência, são realizados os plantios e o monitoramento do processo. Atualmente, na área diretamente atingida pelos rejeitos, 3,3 hectares foram liberados e já se encontram em processo de recuperação desde 2020. Outros 3 hectares terão a recuperação iniciada em 2022.
O volume de dados obtidos em estudos e em diversas campanhas de monitoramento nos permite avaliar de forma satisfatória o andamento das atividades de recuperação da área impactada, em especial sobre a qualidade dos solos, que constitui um componente fundamental no processo de recuperação ambiental. Sua futura contribuição para importantes serviços ecossistêmicos trará benefícios diretos para a qualidade ambiental e, consequentemente, para a saúde e a qualidade de vida.