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A granada, a escola e Pôncio Pilates

Infelizmente, nenhuma habilidade social e de vida para a formação de um bom caráter foi ensinada


04/04/2022 04:00

Flávia de Vasconcellos Lanari
Juíza de direito
 
Um garoto levou uma granada para um conhecido colégio católico de Belo Horizonte. O artefato era inoperante. O aluno, de 13 ou 14 anos, chamava a atenção sobre si, buscando o reconhecimento do grupo.
 
Vi a imagem no mesmo dia em que o fato aconteceu. Foi postada nos grupos de WhatsApp de toda a comunidade escolar. Depois foi divulgada em diversas redes sociais utilizadas pelos belo-horizontinos. Provavelmente extrapolou os limites da capital.
 
Imediatamente, a histeria coletiva foi instalada. A partir de uma primeira opinião intolerante, o comportamento de manada aflorou. O aluno foi “desligado do colégio”. Isto constou expressamente de um comunicado escolar, não sendo leviano concluir que ele foi “convidado a se retirar”. Uma decisão absurda e contraditória. 
 
A proposta pedagógica do Colégio Santa Doroteia fundamenta-se no carisma de Paula Frassinetti, que sempre acreditou no poder da educação, pela via do coração e do amor, como meio de promover o crescimento do ser humano. A crença de Santa Paula não discrepa do ensinamento mais importante de Jesus Cristo – o amor ao próximo.
 
Quem seria esse “próximo”? Não é preciso esforço para se concluir que é todo aquele que precisa de nossa empatia, como o adolescente em questão. Nesse sentido, afastá-lo do convívio da comunidade escolar, fazendo dele um pária, é ato que, além de ofender dispositivos da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, constitui violência. Nosso “próximo” em questão precisa e merece uma resposta dentro da moral cristã.
 
Acolher a necessidade do agora ex-aluno, assegurando-lhe a condição de membro estimado da família Doroteia e encorajando-o a se destacar no meio acadêmico por excelência no senso crítico, persistência, trabalho em equipe, enfim, como exemplo positivo para os demais alunos, seria a conduta amorosa e transformadora.
 
Infelizmente, nenhuma habilidade social e de vida para a formação de um bom caráter foi ensinada. A punição, que inclusive envolveu humilhação pública na mídia, com certeza incitou o adolescente ao ressentimento e, quiçá, rebeldia, minando sua autoestima e contribuindo para a produção do sentimento de inadequação. Em quadros severos, o sentimento de inadequação pode levar a pessoa a manifestar transtornos de ansiedade e ao suicídio.
 
Enfim, a escola escolheu afastar-se de sua filosofia, sugerindo tratar-se de retórica. Desconsiderou sua responsabilidade social, e, como Pôncio Pilates, lavou as mãos. 


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