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Estado de Minas editorial

Sinais de otimismo e o contraste no trabalho

Sem políticas que fomentem a geração de emprego e renda, o Brasil permanecerá estagnado


04/04/2022 04:00

O cenário econômico para o Brasil ainda é incerto diante da continuidade da guerra na Ucrânia, mas os sinais indicam que os efeitos imediatos não são tão nocivos para o país quanto se esperava inicialmente. E, ainda, há até a expectativa de que se possa tirar proveito para ganhar mercado em commodities agrícolas. Investidores deixando o campo de guerra para apostar no Brasil já são realidade e explicam em parte a redução do dólar este ano. A moeda dos Estados Unidos desvalorizou 14,55% no primeiro trimestre de 2022, influenciado pelo valor baixo das ações de empresas listadas em bolsa, pelo dinheiro que chega para pagar nossas exportações e pelo capital atraído por altas taxas de juros praticadas hoje no Brasil. Dólar em baixa e petróleo estabilizado, embora ainda acima de US$ 100 o barril do tipo brent, representam menor pressão por novos aumentos de combustíveis.
 
Todo esse cenário acende uma chama de otimismo. Mas é preciso observar que, se as perspectivas no mercado financeiro são boas, o mercado de trabalho brasileiro dá sinais de necessitar urgentemente de uma política que fomente a abertura de vagas e condições dignas para a grande maioria de profissionais que hoje atuam na informalidade no Brasil. Os dados do Cadastro Geral do Empregados e Desempregados (Caged) e da Pnad Contínua, do IBGE, mostram um quadro de estagnação do mercado de trabalho com recuo na renda, o que interfere na perspectiva de uma reação mais forte na economia.
 
No trimestre encerrado em fevereiro, o Brasil tinha uma população ocupada estimada em 95,2 milhões – número estável em relação ao trimestre anterior. Desse contingente, 38,3 milhões estão na informalidade, outros 25,4 milhões são subutilizados, com o contingente de trabalhadores em condições precárias ou sem garantias trabalhistas somando 67% da força de trabalho ocupada. Somados os 12 milhões de desempregados, esse contingente sobe para quase 80% do total de trabalhadores empregados ou de 70% da força de trabalho brasileira, estimada em 107 trabalhadores (ocupados e desocupados).
 
Pelos dados do Caged, o saldo entre demissões e admissões nos dois primeiros meses deste ano mostra desaceleração na abertura de vagas formais de emprego. Em janeiro e fevereiro, foram 478,9 mil vagas, contra 651,8 mil nos dois primeiros meses do ano passado. Essa precariedade, associada à desaceleração na abertura de postos de trabalho, explica a queda da renda real habitual, que ficou em R$ 2.511 no trimestre encerado em fevereiro, valor 8,8% inferior em relação a igual período de 2021. E essa retração nos rendimentos é agravada pela inflação acumulada em 4,6% entre um trimestre e outro e de 10,54% nos 12 meses encerrados no segundo mês deste ano. O quadro de inflação em alta, com encarecimento de combustíveis e dos alimentos, comprime a renda disponível para consumo até mesmo de bens de primeira necessidade.
 
Categorias mais organizadas pressionam por reajustes. As greves nas esferas federal, estadual e municipal pedem a reposição de perdas ou cumprimento de pisos legais, mas não apenas trabalhadores com estabilidade protestam contra o rebaixamento dos vencimentos mensais. Mesmo os que atuam por conta própria ou na informalidade manifestam a insatisfação com o quadro atual. Entregadores e motoristas que atendem a aplicativos fizeram manifestação em várias capitais, reivindicando reajuste no percentual recebido por corrida.
 
O Brasil não pode ser atrativo para investidores estrangeiros sem que essa condição sirva para melhorar a renda dos brasileiros, de forma a fortalecer o consumo interno, mola mestra para atrair investimentos produtivos e gerar empregos. Sem políticas que fomentem a geração de emprego e renda, o Brasil permanecerá estagnado economicamente e a mercê da venda de commodities no mercado internacional. O país tem que escapar da armadilha da renda média, o que em bom economês significa que um país atingiu um patamar de renda que não consegue superar. E, no Brasil, esse patamar ainda é muito baixo.


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