Henrique Lima Couto
Médico mastologista, doutor em saúde da mulher
e presidente do Departamento de Imagem da
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
No Dia Internacional da Mulher, como médico de mulheres proponho uma reflexão. Deparei-me esses dias com uma pesquisa realizada no Canadá que sugere que mulheres operadas por médicas têm resultados pós-operatórios imediatos mais satisfatórios que aquelas operadas por médicos. Os investigadores analisaram resultados pós-operatórios imediatos de mais de 1,3 milhão de pacientes dos sexos feminino e masculino que foram submetidos a procedimentos cirúrgicos eletivos ou de emergência comuns. As pacientes tratadas por cirurgiãs apresentaram melhores resultados pós-operatórios imediatos do que aquelas tratadas por cirurgiões. Uma primeira análise sugere que a discordância entre cirurgiões do sexo masculino e pacientes do sexo feminino poderia explicar a disparidade.
Como coordenador de um serviço diagnóstico, testemunho pacientes receberem notícias nem sempre muito boas. Só em 2021, foram 394 diagnósticos histológicos (biópsias) confirmados de câncer de mama. As reações são bem particulares, existem pacientes de todos os perfis. Algumas expressam os sentimentos de forma espontânea. Ao lado da família, da amiga ou mesmo sozinhas, elas conseguem perguntar tudo, opinar, dizer o que sentem, o que querem, demonstram firmeza ou transparecem as incertezas e medos de maneira clara e objetiva. Há mulheres que se expressam de forma subjetiva, com muitas dúvidas e hesitações. Algumas não conseguem de imediato absorver as informações, precisam de mais tempo para organizar as ideias, processar a notícia e têm um jeito de se expressar que requer dos médicos um ouvido mais apurado.
Pode se afirmar categoricamente que médicos que lidam com mulheres precisam ter a consciência de que elas sempre foram e ainda são tolhidas por uma sociedade opressora, que sempre deu pouco espaço e sempre subestimou sua opinião. Não é uma questão somente do perfil da paciente, é social e é obrigação do bom médico dar espaço para que ela fale, expresse seus sintomas, medos, sentimentos e expectativas. As mulheres são minha vida. Sou filho, marido, pai de três meninas, ginecologista de formação e mastologista atuante. Nunca estive no lugar de fala de nenhuma delas. Ninguém pode dizer “eu entendo”; só quem experimenta a situação sabe o que é, não obstante ser solidário é uma obrigação.
Existem grandes colegas médicas, mas acho que o debate sobre quem seja melhor apenas pelo gênero pouco acrescenta. A pesquisa do Canadá oferece uma importante oportunidade, sugere que as colegas médicas têm uma comunicação mais eficiente com as pacientes e, por isso, conseguiriam manejar intercorrências pós-operatórias mais precocemente e de forma mais eficiente.
Cabe a todos a reflexão sobre escutar, valorizar, humanizar e não esquecer o tanto que a figura masculina, numa sociedade machista e patriarcal, pode por si só oprimir a mulher a ponto de ela se sentir inibida a relatar sintomas graves ou procurar a assistência do seu cirurgião no pós-operatório. Para os cirurgiões, e por que não para todos, é uma boa dica ficar atento aos sinais e queixas das pacientes e das mulheres. Prestar bastante atenção e ouvir mais, com postura acolhedora, nunca dominante e, muito menos, opressora. As pacientes não querem só um bom diagnóstico, cirurgias ou tratamentos assertivos. As pacientes e as mulheres de maneira geral também precisam se sentir ouvidas, seguras. E uma das peças-chave do cuidado é a comunicação. Ouvir primeiro e se expressar com clareza, amor e respeito. Isso fará com que os próximos passos que se seguirem sejam bem-sucedidos. “A palavra corta mais que o bisturi”, já dizia um grande mastologista, mestre e amigo.