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Centenário modernista: BH e a resistência ao conservadorismo


22/02/2022 04:00

Pedro Patrus
Vereador em Belo Horizonte
 
Há 100 anos, acontecia a Semana de Arte Moderna no Brasil, movimento vanguardista que revolucionou a arte, bem como a própria percepção sobre a arte. Artistas de diversos segmentos se uniram para derrubar as fronteiras rígidas que separavam o “bom gosto” do “mau gosto”, categorias nitidamente classistas nas quais o feio é associado ao popular e o belo, à elite. O movimento transformou a percepção sobre as inúmeras possibilidades de se fazer arte, valorizando o Brasil e sua autenticidade em detrimento de influências europeias e academicistas, dando lugar ao popular e suas manifestações cotidianas.
 
Essa revolução do criar e do olhar também faz parte da nossa cidade, BH. A capital mineira foi redesenhada após a Semana de Arte, em 1922. Também nossas fronteiras foram redefinidas e diluídas para dar lugar a ambientes democráticos, misturando a natureza com a cidade de um jeito único e especial como conhecemos, por exemplo, por meio do complexo da Pampulha. Na década de 40, alguns anos após as construções ao redor da Lagoa da Pampulha, o então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek, promoveu a “Semaninha da Arte Moderna”, que trouxe diversos artistas modernistas, como Alberto Guignard, Burle Marx, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Volpi, entre outros, e consolidou de vez o movimento na cidade.
 
Certamente, afrontar a erudição e valorizar o popular deu motivo para uma tensão constante entre aqueles que defendiam os velhos ideais de arte e aqueles que se propuseram a revolucioná-la. O movimento modernista recebeu inúmeras críticas e foi também alvo de ataques nos eventos que promoveu. Essas disputas podem ser vislumbradas ainda hoje na sociabilidade belo-horizontina. Ainda que a configuração de BH ressignifique a experiência de circular em uma grande cidade, persiste um conflito invisível entre as camadas populares e as camadas mais ricas. Claro, estamos em uma das cidades mais desiguais do mundo (segundo pesquisa da ONU de 2010), onde moradores de um bairro do Centro-Sul possuem renda 39 vezes superior à dos moradores da Regional Barreiro, conforme mostrou o Mapa da Desigualdade, publicado em 2021. As tensões cotidianas dominam a cidade e, se por um lado, temos uma juventude ativa artística e politicamente, por outro ainda vemos os resquícios do velho conservadorismo mineiro, ancorado em perspectivas retrógradas sobre a cultura e a política.
 
O conservadorismo adquiriu facetas ainda piores desde que o bolsonarismo passou a fazer parte do cenário político brasileiro. Conservadorismo esse que se tem desdobrado em uma verdadeira guerra contra a cultura. De maneira esdrúxula, essa parte da população brasileira orgulha-se de ter como representante um presidente que frequentemente ataca os artistas de todos os segmentos, corta investimentos na área da cultura e promoveu um esvaziamento lamentável na pasta da Cultura, que culminou na extinção do MinC.
 
Que o centenário do Modernismo renove nosso ânimo para combater diariamente o conservadorismo em Belo Horizonte. Da parte de nosso mandato, aproveitamos o ensejo para reafirmar nosso compromisso com a democratização dos espaços, da arte e da cultura para todos e todas. Que possamos celebrar as expressões artísticas diversas de nossa cidade, como o funk, o hip-hop, os grafites, e reconquistar o espaço público enquanto porta-voz dessa diversidade que o conservadorismo tenta reprimir. Se os modernistas ousaram revolucionar a arte e valorizar a identidade brasileira, nós persistimos nesses objetivos, mesmo diante de ataques e retrocessos. Nas palavras de JK, “uma nação se firma através de sua arte e de sua cultura. Impõe-se pelo desenvolvimento industrial, pelas conquistas da técnica, pelo progresso das instituições. Mas somente a arte retrata a sua alma e lhe configura a fisionomia moral”. 


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