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O urso-polar e o bufão

Hoje em dia, a Rússia tem tantas ogivas nucleares em silos árticos e submarinos atômicos espalhados pelos sete mares quanto os EUA


07/07/2021 04:00

Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ

No tempo da Rússia Imperial, a Rússia dos Tzares (Césares), Napoleão proclamou que a poria sob as botas dos seus soldados em 180 dias.
A invasão napoleônica reuniu soldados de 18 nações europeias que havia conquistado, suábios, italianos, corsos, enfim, muitas etnias, inclusive eslavos, como poloneses e até eslovacos. Eram 789 mil homens sob o comando de um gênio militar até então invencível, a ponto de levar homens, armas e provimentos holandeses e dos principados alemães no seu exército temível.
 
A época da invasão foi no fim do inverno na Europa Ocidental, ao raiar a primavera. Começou a marcha contra a Rússia de muitos aristocratas e uma multidão de camponeses, servos da gleba de seus senhores feudais.
Esperava-se, não houve, a adesão do povo oprimido pela aristocracia russa, até porque Napoleão pegava carona no ideário da Revolução Francesa, radical e sangrenta, a predicar igualdade, fraternidade e legalidade contra todas as tiranias e realezas europeias.
 
Bastaram um ano e oito meses, Napoleão voltou a Paris com apenas 7.800 homens válidos, sem armas e em andrajos. Umas tantas semanas depois, o marechal Wellington saiu da sua isolada     ilha (fronteiras aquáticas) e desembarcou na Europa para liquidar de vez com um Napoleão despreparado, na famosa batalha de Waterloo.
 
O nazista Adolf Hitler – e sua pretensa raça superior, que nunca chegou aos pés dos valorosos romanos – destinou 70% do seu exército e 80% dos seus tanques (panzers) para tomar Moscou em 90 dias. Somente em Leningrado, hoje, e antes São Petersburgo, em homenagem a Pedro, o Grande, ficaram paralisados um ano inteiro. Todas as casas foram bombardeadas, vivia-se em porões e ruínas (ratos eram caçados como comida).
 
Os nazistas chagaram até Moscou, ante a retirada dos exércitos soviéticos quase intactos, que queimavam florestas, envenenavam poços e destruíam viveres durante o recuo, praticando táticas de guerrilha. Moscou estava totalmente vazia e parcialmente incendiada (sem gente, sem água, sem tropas) quando Hitler chegou. E, o pior de tudo, o outono estava a findar-se.
 
O inverno chegou com os alemães voltando da Moscóvia de mãos vazias. Mas o frio se fez presente juntamente com uma perseguição infernal. Cães treinados, com explosivos amarrados, iam buscar comida debaixo dos tanques alemães e os explodiam. Os alemães passaram a colocar um fuzileiro na tampa dos tanques. Sovietes vestidos de branco como a neve ou vestes da cor da vegetação os abatiam a tiros. Logo vieram as chuvas e a lama. Von Paulus com 25 mil alemães se renderam em Leningrado. Oito exércitos alemães foram cercados em pinças por 12 exércitos soviéticos (4 milhões de soldados alemães, estima-se, morreram na Rússia), afora todo o material bélico que restou inutilizado.
 
Hoje em dia, a Rússia tem tantas ogivas nucleares em silos árticos e submarinos atômicos espalhados pelos sete mares quanto os EUA. O presidente dos EUA tem reclamado da nuclearização do Ártico, o polo norte do globo, seu teto! Um Biden ameaçador, crente em sua superioridade militar, esteve com Putin e reclamou de ataques cibernéticos. Putin disse-lhe que também os têm sofrido e não os patrocina, pois, penso eu também, não é inteligente fazê-los e muito ruim sofrê-los.
 
O condescendente sorriso de Putin ante um velho agressivo “a cuidar dos seus netinhos”, de fato, é de fazer sorrir e de se indagar sobre sua sanidade mental. A China também está na mira. Temos pela frente – era só o que faltava – novamente a “guerra fria”. Mas são todos capitalistas.
Os EUA estão precisando de uma Ângela Merkel. Uma coisa é a história e a outra fazer em política externa o papel de xerife. Não cabe! Os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar ocidental, se viram obrigados a dizer que a China apresenta “desafios sistêmicos” à ordem internacional, sinalizando a inquietação do grupo com as ambições de Pequim. Atividades como cooperação militar sino-russa e a expansão do arsenal nuclear da China foram citadas como ameaça pela Otan. Ao fim da reunião, o presidente dos EUA, Joe Biden, mandou um recado ao líder russo, Vladimir Putin. “Vou deixar claro ao presidente Putin que há áreas em que podemos cooperar, se ele quiser”, acrescentando que em caso contrário os EUA responderão à altura. Mas em um aceno a Putin, Biden disse que a Ucrânia tem critérios a cumprir antes de entrar para a Otan...
 
Acho engraçado os EUA e a Europa se armarem, fomentar alianças, possuírem armas nucleares, caso dos EUA e da França, e negarem à Rússia e à China esse direito soberano de autodefesa.


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