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Estado de Minas

Não sou cringe, sou metamorfose

Sou atual. Me reciclo, reinvento, aprendo, conecto


26/06/2021 04:00





Gregório José
Radialista, jornalista, filósofo. 
Pós-graduado em gestão escolar

De tempos em tempos aparecem gírias, brincadeiras, ondas, vibes que todos seguem, depois se esquecem. Mas, por um certo momento, até a caneta azul ganhou destaque no Brasil. Agora é a vez dos “cringers” ou “cringe”*. Digo, de cara, não sou cringe, sou metamorfose.

Dizem que sou cringe por tomar café com pãozinho logo pela manhã, continuar gostando de músicas de sucesso do passado. Cantar “Trem das onze”; “É o amor”, “Essa tal liberdade”, enfim, relembrar o passado como se fosse atual.

No pós-guerra surgiram os baby boomers (1946-1964) que eram filhos de um momento em reconstrução mundial. Eu, como nasci no Brasil, sou do termo “golpe militar” ou, para alguns, “revolução”. Vivi a juventude sobre a égide da geração X (1965-1980) que se buscava encontrar num mundo onde a paz deveria prevalecer, mas passei, também pela geração Y ou millennial (1981-1996). Aqui conheci o pós-ditadura (ou período militar), a reabertura com Sarney e sua política feijão-com-arroz, vi Collor chegar ao apogeu e sair escorraçado de Brasília. Vi FHC aposentado chamar trabalhador de vagabundo. Vi o PT ascender ao poder almejado e sair pelas portas do fundo. Não se reconstruiu. Entrei porta adentro pela ge- ração Z (1997-2010). Tecnológica, conectada, sem ideologia, perdida.

Vi homem barbado com mais de 30 anos viver na casa dos pais sem contribuir com nada e pregar o fim do da classe empresarial. Viver do ganho dos pais envelhecidos, e somente dizendo que estava buscando seu espaço no mundo.

Aprendi a me conectar. Tive um computador 386. Trabalhei com um Pentium I, II. Vi Kb se transformarem em giga. Disquetes sumirem sem dar notícia, pen drives surgirem e virar nuvem.

Tiozinho e tiazinha que não sabem sacar dinheiro em caixa eletrônico passar o dia mandando mensagem no zap. Vi megaempresas de telefonia que vendiam linhas com cotas de acionistas sumirem perante as redes sociais que oferecem o serviço.

Elogiei os Correios brasileiros por ser uma empresa séria e eficiente, e vi se transformar em nada na atualidade. Preços caros e serviços deficitários.

Cartas e correspondências que iam e vinham e ficávamos ansiosos em ler algo se transformarem em leitura instantânea entre parentes e amigos. Até empresários passaram a demitir via aplicativo. Vejo oficial de Justiça intimar por aplicativo.

Vi taxistas brigarem por seus pontos e, por não vencerem a luta injusta e inglória, entrando na onda e aderindo aos aplicativos.

Agora, a geração Z vem me dizer que sou cringe. Não! Não sou. Sou atual: me reciclo, reinvento, aprendo, conecto.

Sou Norte e sou Sul, Nordeste e Su- deste. Falo ôxente, bichim, bá tchê, mas pá! Falo uai, aqui, xôtifalá. Sou metamorfose.

Tenho WhatsApp, Instagram, Facebook, Telegram. Faço faculdade via meeting, reunião por Zoom, assisto a lives no YouTube. Sou do agora, mas fui do ontem, onde aprendi a dizer, sou brasileiro. Não desisto nunca.


*Cringe: gíria que, em inglês, significa vergonhoso e que tomou grandes proporções em um conflito entre as gerações Z e millenials. Usada para se referir a hábitos considerados ultrapassados ou antigos.


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