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Estado de Minas artigo

Quando um médico aprende com seus pacientes

Faz parte da profissão do médico salvar vidas, mas também caminhar ao lado durante uma vida


01/05/2021 04:00





Henrique Lima Couto
Mastologista, membro titular da SBM


O consultório médico é um espaço onde diagnósticos e tratamentos são indicados de acordo com cada caso clínico. Quando estamos diante de uma paciente que aguarda nosso parecer técnico relacionado a algum exame mamário, estamos juntos, de mãos dadas, na torcida por um resultado que exclua o câncer. Se positivo para a malignidade, nossa expectativa é que o melhor tratamento possa ser instituído e que a cura possa ser alcançada com os menores impactos na vida da paciente. A experiência e a dedicação pela profissão nos mantêm sempre obstinados na busca de tratamentos cada vez mais avançados e com menores efeitos adversos. A cada consulta, nós rimos e choramos junto com a paciente, que não é enxergada apenas como mais um “caso médico”, pois ali, diante de nós, está uma mulher que tem toda uma estrutura de vida: família, filhos, emprego, hobbies, sonhos, medos. Estamos diante de alguém que, acima de tudo, quer muito viver.

É sempre um grande aprendizado: a incerteza do seu estado de saúde, da eficácia do tratamento indicado ou de uma possível recorrência da doença desperta na grande maioria o desejo ainda maior de viver intensamente e de aproveitar melhor o tempo com os seus.

O médico participa da caminhada da paciente e esse relacionamento, antes visto de maneira tão fria e imparcial, pode virar uma amizade. A cada consulta, trocamos experiências preciosas: sabemos um pouco mais sobre a pessoa que chegou ali com dúvidas e, muitas vezes, acuada. Conhecemos um pouco dos seus hábitos de vida, suas preferências, quem faz parte do seu núcleo familiar. Construímos relacionamentos, aprendemos, tiramos lições de vida que nem sempre têm relação com o momento enfrentado pela pessoa. Diante de nós, enxergamos claramente o que é o amor, a dor, o medo, a coragem, a fé, a resiliência. Passamos a fazer parte, mesmo que por um período, da vida daquela pessoa, daquela família. Honra e responsabilidade se misturam nesta hora.

Faz parte da profissão do médico salvar vidas, mas também caminhar ao lado durante uma vida e restabelecer a saúde do paciente. Nessa caminhada entre ter saúde, viver ou não, o paciente também é peça fundamental no desfecho da sua jornada. A maneira como ele irá passar pelo tratamento não depende somente da nossa vontade. O organismo precisa responder à terapia e ele pode reagir muito bem, demorar a reagir ou não reagir como esperado. Seja como for, a paciente nunca estará sozinha. A partir do momento em que tratamos um caso, sabemos que a nossa missão é muito maior. Assumimos a partir daquele momento a caminhada lado a lado com a paciente, no anseio para que ela viva e realize tudo que ela compartilhou em nossos encontros: a vontade de viajar pelo mundo, de andar a cavalo, de levar uma vida mais leve, de continuar ao lado da família, de levar o filho para a escola, de sair com as amigas pelo menos uma vez ao mês, de viver o que ainda não foi vivido.

Em nosso íntimo, lá dentro, nós médicos – que também vivemos driblando o relógio e os muitos compromissos – sabemos que aquele recado serve também para nossa vida.  Essas trocas nos fortalecem e nos mostram o que realmente importa: o tempo, as experiências, os momentos simples e inesquecíveis. Nosso consultório é um lugar de oportunidades. Dos dois lados da moeda.


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