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Estado de Minas A vacina e a democracia

A vacina e a democracia

Se é %u201Cvachina%u201D ou vacina pouco importa. A esta altura não nos interessa a origem, queremos apenas tomar a danada da vacina


22/12/2020 04:00 - atualizado 21/12/2020 21:22

Maria Inês Vasconcelos
Advogada, especialista em direito do trabalho, professora universitária e escritora

Uma democracia não morre de uma vez. Ela derrete aos poucos pelo anacronismo das políticas públicas,      desconfiança com as instituições e insatisfação po- pular. Nosso telhado de vidro não esconde a dificuldade de se vacinar a população nesse país continental, que teima em persistir nos mesmos erros.
 
Sou prudente, sobrevivemos a 21 anos de ditatura instalada depois de um golpe de Estado. Desde 1985, a democracia brasileira segue arrimada em compromissos e concessões.  O povo acompanha e segue o baile.
Uma série de movimentos antidemocráticos vem mostrando a urgência de se recosturar o pano democrático, rasgado. Se não dá para ate- nuar as forças do capital sobre o trabalho, super- afetado com a reforma trabalhista, com as promessas de caixa da reforma da Previdência, que, pelo menos, cessem o infantilismo da guerra política em torno da vacina.
 
A paródia da vacina alarga-se a cada dia e o povo segue morrendo como se isso fosse questão de segunda ordem. Nessa democracia holográfica, a verdade está no programa de Tom Cavalcanti,        aliás, imperdível.
O povo está morrendo de medo de que essa vacina não chegue nunca. Se é “vachina” ou vacina pouco importa. A esta altura, não nos interessa a origem, queremos apenas tomar a danada da vacina.
 
A briga piegas, imoral dos governantes e o excesso de burocracia só rememoram “o governo da esperança”. Nesse governo, de um lado ficam os mandachuvas, de outro, os esperantes: o povo, de braço pronto para a agulhada que nunca chega. Somos os esperantes da Pfizer, CoronaVac ou o quê for.
 
A população esperante espera, e aqui não há redundância, que a democracia cumpra sua missão, e que haja concorrência real entre as diferentes versões do interesse público.
 
“O sol nas bancas de revistas”, cantado por Caetano Veloso, é a esperança do povo brasileiro, que tem direito a ser poupado dos esquadrões burocráticos que querem transformar a questão da saúde em campanha eleitoral em mero fetiche.
 
Não há espaço para que esse sol não seja para todos, existe uma parcela considerável de cidadãos esclarecidos. Nesse cenário de incompetência com o gerenciamento da questão da vacina, o famigerado governo da esperança vai provocando conflitos de toda ordem, pela falta de posição e coerência. E, claro, religa ideias: nova Constituinte.
 
Preocupado em confiar-lhes o seu futuro e a sua imunização, o povo se torna apático, des- confiado e triste. Em meio ao campo das incertezas, é preciso ancorar providências e reduzir ambiguidades.
 
O que se vê por aí são estados lutando para tentar convencer o povo, cada um ao seu modo e de forma customizada, de que a vacina “um dia chegará”. Muito mais preocupados com seus mandatos ou com as negociações sempre lucrativas dos contratos relacionados com a vacina para a COVID-19 ou com o ego – que os leva a externar posições públicas sempre divergentes aos seus oponentes potenciais –, vemos que realmente a democracia vai aos poucos se erodindo.
 
O início pode ser imperceptível. Políticos mantêm assentos no Congresso, tudo parece estar funcionando bem. E os passos, grandes, parecem insignificantes. Mas se não for remendada, torna-se meramente teórica, a democracia não existe na prática.
 
Já sofremos demais em aspectos de corrupção, que insiste em durar em vários aspectos de nossa vida; já passamos por duas reformas trabalhistas, reforma previdenciária e já vimos a educação ser tratada como quarta grandeza. Ou seja, o Brasil adota uma retórica que não cola mais.
 
Ainda que a democracia seja sempre um ideal e que seu conceito envolva um grande dinamismo, há sempre um termômetro. Esse termômetro é a insatisfação popular; que hoje refuta as enganadoras miragens e déjà vu dos governantes.
 
Democracia não é basquete de rua. Não dá para ficar jogando a bola na rede e dando trombada. Estamos bastante castigados e, por isso, não inventem nossos próprios pecados, como fizeram com as reformas. Queremos apenas viver e não ser culpados. Apenas nos vacinem. É o que queremos e precisamos.


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