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A política necessária

Ao invés de condenar a política, em razão de seu quadro de descrédito, o cidadão precisa revitalizá-la


30/10/2020 04:00

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)


Investir no surgimento de qualificadas lideranças e fomentar a insubstituível participação cidadã constituem caminhos para devolver a credibilidade à política. Particularmente, é preciso dedicar especial atenção às escolhas dos nomes que ocuparão cargos nas instâncias do poder, de modo que os eleitos se notabilizem pela qualificação humana, técnica e por cultivarem envergadura moral. Os descompassados cenários políticos da sociedade brasileira têm incalculável responsabilidade na configuração do descrédito que cidadãos nutrem por seus representantes. Por isso mesmo, demanda-se investimento educativo para recuperar a credibilidade dos representantes do povo. Um investimento emoldurado por duas perspectivas que se relacionam: a necessidade da política e a política necessária.

A população precisa alcançar clarividências urgentes quanto à relação existente entre a participação política, consciente de seus processos, e a capacitação para a escolha de nomes. Além disso, deve acompanhar e avaliar, por meio dos mecanismos e instâncias existentes, os trabalhos de seus representantes nas esferas municipal, estadual e federal. Exercendo a sua liberdade no contexto democrático, o cidadão precisa se posicionar sobre o desempenho das autoridades eleitas. Percebe-se, dessa forma, que a necessidade da política e a política necessária configuram uma via para impulsionar conquistas urgentes. Essas conquistas dependem da superação de desmandos, dos interesses cartoriais ligados a pequenos grupos, sacrificando a maior parte da população com o agravamento da desigualdade social e com a desconsideração dos direitos humanos. A população não pode continuar vulnerável à força bem-articulada de discursos demagógicos, repletos de afirmações mentirosas, que ocultam práticas contrárias às promessas anunciadas. Esses discursos, na contramão do que determina a Constituição Federal, somente servem para enriquecer poucos, aumentando a exclusão social.

É urgente superar os distanciamentos, de variados tipos, do mundo da política. Eleições, a exemplo das que ocorrem neste ano, nos municípios, representam uma oportunidade para renovar o interesse pela política e, assim, qualificar os processos de discernimento cidadão. Esses processos, que levarão à escolha de candidatos, devem alicerçar-se em critérios adequados e assertivos, para além de simpatias partidárias ou amizades pessoais. Não se pode confiar a aventureiros, sem qualquer qualificação humanística, os rumos de municípios, estados e nação. Para se prevenir desse mal, é preciso se dedicar a um exercício simples, mas muito significativo: a partir do diálogo no contexto da comunidade, do interesse para se informar sobre candidaturas, aperfeiçoar critérios e juízos que serão "pente fino" na seleção dos nomes a serem assinalados nas urnas. Esse compromisso cidadão com o voto criterioso e consciente é insubstituível.

Seja, pois, avaliada a trajetória de candidatos, seus pensamentos e seus apoiadores. Importante dedicar atenção se as propostas e trajetórias de vida são coerentes com demandas relacionadas ao cuidado com a Casa Comum, o meio ambiente, a educação, a saúde e com o combate imediato das desigualdades sociais. Não basta cumprir o dever cívico e cidadão de votar. O voto é um ato de liberdade e de corresponsabilidade. O voto precisa ser pautado por critérios de uma política necessária, como sublinha o papa Francisco na carta encíclica Fratelli Tutti: "A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia".

O papa Francisco explica que, embora se deva rejeitar o mau uso do poder, a corrupção, a falta de respeito às leis e a ineficiência, "não se pode justificar uma economia sem política, porque seria incapaz de promover outra lógica para governar os vários aspetos da crise atual". Ao invés de condenar a política, em razão de seu quadro de descrédito, o cidadão precisa revitalizá-la. Para isso, evitar a escolha de aventureiros, isto é, nomes que não terão capacidade para ajudar na superação de crises, com respostas lúcidas e transformadoras. É hora de avaliar e identificar os tipos e as tantas formas de mesquinharia na política, fixadas no interesse imediato. Evitar os políticos que prometem e não cumprem justamente por lhes faltar capacidade para representar o povo.

Governantes incompetentes e cidadãos sem formação política são ingredientes para projetar líderes que se pautam nas migalhas dos favores e favorecimentos – jamais no qualificado exercício do poder. Escolher representantes em troca de migalhas é sinal de atraso – um incentivo ao uso da máquina pública para alavancar popularidades. O papa Francisco adverte que graves carências estruturais não se resolvem com remendos ou soluções rápidas, meramente ocasionais. Nesse sentido, auxílios emergenciais, importantes e indispensáveis para socorrer os pobres, no contexto de crises humanitárias, não podem constituir único critério para avaliar desempenho político. Há aspectos que devem ser mudados com reajustamentos profundos e transformações importantes, conforme bem diz o papa Francisco. Uma política que envolva os mais diversos setores sociais, as instâncias do conhecimento, cidadãos conscientes e representantes comprometidos com o bem comum: eis a política necessária.


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