Moacy Veiga
Administrador de empresas com 20 anos de
experiência no mercado financeiro e CEO da Kinvo, plataforma de gestão de investimentos
O ano de 2020, sem dúvida nenhuma, será um ano memorável na história do mercado financeiro. Pela primeira vez, depois de nove cortes consecutivos na taxa básica de juros (Selic), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) interrompeu esse ciclo de redução que começou em julho do ano passado, mantendo-a em 2% no último dia 16 de setembro, o menor nível histórico definido em agosto deste ano. Apesar de ser uma tentativa de reaquecer a economia, a constante queda da taxa Selic resultou, também, na busca dos brasileiros por novas alternativas de rendimento.
Isso aconteceu, principalmente, porque o brasileiro viu que o seu dinheiro passou a render cada vez menos apostando na renda fixa, já que a poupança, os CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e alguns títulos do Tesouro Direto acompanham de perto a taxa Selic. Com isso, a bolsa de valores (B3) se aproximou dos 3 milhões de pessoas físicas com conta aberta em agosto, chegando a 2,9 milhões de investidores.
Outro movimento que entra em vigor ainda em novembro deste ano é o Pix, sistema de pagamentos e transferências instantâneos do BC. Mais do que ser uma opção acessível em relação à TED e ao DOC – transferências já conhecidas no mercado –, o Pix permitirá que o investidor faça a movimentação de seu dinheiro com muito mais autonomia e eficiência, de forma totalmente digital e sem burocracias.
Hoje, a jornada do investidor é muito complexa, passando por diversos protocolos, como cadastro de token e digital. Dependendo do montante que se deseja movimentar, é necessário se deslocar até a agência bancária, realizar a operação na boca do caixa e autorizar o local para onde o dinheiro está indo.
Tudo isso dificulta o percurso de valores para as casas de investimentos. A digitalização proposta pelo BC não está apenas no campo de pagamentos e transferências, o open banking (banco aberto) já está em regulamentação, previsto para entrar em vigor entre 2021 e 2022. A solução parte do princípio de que os dados são dos clientes e não das instituições, interligando os sistemas dos bancos com as fintechs e corretoras, por exemplo. É uma plataforma que consiste na integração das chamadas interface de programação de aplicações (API, na sigla em inglês).
Com ele, o consumidor será o maior beneficiado, que terá acesso ao sistema bancário a partir de diferentes plataformas, além do aplicativo ou site do banco em que é cliente. Isso permitirá acesso a crédito com menores custos, produtos financeiros personalizados e inúmeras facilidades operacionais de forma segura, pois a regulamentação segue rígidos protocolos de segurança.
Todas essas mudanças são um marco na história do mercado financeiro – a digitalização chegou para ficar. Uma das tendências é que o dinheiro físico, como o conhecemos, tenha a circulação cada vez mais reduzida e seja alocado em contas totalmente digitais, contribuindo para a tomada de decisão simplificada, o que proporcionará mais agilidade e independência para a rotina do novo investidor brasileiro.