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A pandemia na história


18/09/2020 04:00

Alexandre Claro Mendes
Mestre em história da ciência, com especialização em história, sociedade e cultura (e em sociologia e globalização) 

O noticiário nacional e internacional tem dedicado grande parte do seu tempo a informar a população sobre a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2). Isso se deve ao grande número de pessoas que contraíram a doença. Desse modo, enquanto o mundo aguarda o desenvolvimento de uma vacina, nós, enquanto seres humanos, voltamos o nosso olhar para a história. Afinal, somos sujeitos históricos e sabemos que, ao longo da nossa trajetória no planeta, a humanidade tem sofrido com enfermidades, doenças, pestes etc.

Para um maior entendimento, é necessário apontar algumas doenças, pestes ou epidemias que assolaram a humanidade ao longo do tempo. Desse modo, o que veremos brevemente neste texto são algumas considerações sobre a varíola, peste negra e a gripe espanhola.

O nome varíola é originário do latim varius = mancha ou varus = pústula; sua origem é ainda muito discutida entre os pesquisadores, porém é possível encontrar relatos mais efetivos dessa doença a partir do século 4. Apesar disso, o ano de 1346 a.C. merece uma observação, já que doença conhecida como praga dos hititas pode estar relacionada à varíola, mas até hoje não temos provas concretas sobre isso.

Esses primeiros relatos sobre a varíola apresentam uma característica importante, pois o seu surgimento está relacionado às grandes cidades antigas desenvolvidas nas margens dos rios Nilo (Egito), Eufrates (Mesopotâmia), Ganges (Índia), Amarelo e Vermelho (China). Uma questão importante a ser destacada é que a expansão dessa doença aconteceu devido ao grande número de pessoas aglomeradas nessas regiões. Isso será visto, posteriormente, na Europa, entre os séculos 11 e 15. Grande parte do continente europeu foi atingido pela varíola e nas cidades maiores a doença adquiriu caráter endêmico, mas nas regiões com menor densidade demográfica ela se tornou epidêmica.

Uma curiosidade interessante em relação ao tratamento da varíola e que durou até o século 16 foi o tratamento vermelho. Ele se baseava no uso de roupas vermelhas pelo paciente e de forma gradativa fazer com que o ambiente ocupado por ele ficasse também vermelho. É claro que essa medida adotada pelos governos não provocou resultados na erradicação ou contenção da doença.

É importante lembrar que houve grande pressão da população em relação às autoridades para que fosse encontrado um remédio ou tratamento eficaz contra a varíola, pois estima-se que, no século 18, cerca de 400 mil pessoas morriam por ano.

Foi somente em 1755 que o médico inglês Edward Jenner percebeu que muitas pessoas que ordenhavam vacas não contraíram a doença, pois já tinham adquirido a varíola bovina e, portanto, estavam imunes à doença. A partir dessa observação, foi criada a vacina contra a varíola e seu nome está diretamente relacionada à palavra vaccinus, que em latim significa vaca.

Outra doença que pode ser vista realmente como uma pandemia foi a peste negra, também conhecida como peste bubônica, que atingiu a Europa nos séculos 14 e 15. Essa doença, originária da Ásia, chegou no continente europeu através das caravanas de comércio com o Oriente, e sua propagação se deu, especialmente, pelos ratos, pulgas e dos cadáveres que morriam nas embarcações comerciais da época.

A peste negra encontrou terreno propício para sua propagação, já que existiam diversos problemas de higiene e saneamento nas cidades medievais. Além disso, o desenvolvimento da medicina não era satisfatório para o tratamento da doença. Outro problema que pode ser apontado é que a sociedade da época era fortemente influenciada pela religiosidade cristã, o que levou uma parcela significativa da população a acreditar que a doença era um castigo divino.

O nome peste negra está associado às grandes manchas negras que apareciam na pele, seguidas de inchaços nas virilhas e nas axilas, conhecidas como bubões. Daí também seu outro nome – peste bubônica.

A morte pela peste negra era dolorosa e muito rápida, geralmente de dois até cinco dias após a infecção. Os locais mais afetados eram aqueles de maior aglomeração de pessoas, portanto, as cidades. Acredita-se que a peste negra tenha matado entre 100 milhões a 200 milhões de pessoas na Europa e na Ásia.

Entre as medidas de combate à peste negra podemos citar a adoção da quarentena e mais intensidade de higiene nos espaços públicos e privados, além da cremação dos corpos, o que evitava contato com a bactéria causadora da doença.

Outra pandemia que merece destaque foi a gripe espanhola, conhecida também como gripe de 1918, que nas primeiras décadas do século 20 levou à morte aproximadamente 50 milhões de pessoas.

Apesar de ter recebido o nome de gripe espanhola, os primeiros casos foram registrados nos Estados Unidos, porém, ainda não se sabe sua origem certa. O que foi descoberto é que ela foi uma mutação do vírus influenza, que teria passado das aves aos seres humanos. O seu nome gripe espanhola está relacionado ao fato de a imprensa espanhola ter sido a principal responsável em divulgar as notícias dela ao mundo.

A ideia mais aceita para sua propagação está vinculada às tropas estadunidenses que teriam chegado na Europa para participar da Primeira Guerra Mundial. A sua expansão pelo mundo foi causada pelo deslocamento das pessoas através da modernização dos sistemas de transportes. Os sintomas dessa doença eram muitos parecidos com os do atual coronavírus.

A forma de combater a gripe espanhola não era eficiente, já que a medicina não tinha conhecimentos necessários e os remédios não eram eficazes. Uma das coisas que se sabiam era que essa doença era contagiosa. Sendo assim, uma das medidas tomadas foi o isolamento social; escolas, igrejas e repartições públicas foram fechadas com o objetivo de conter a doença. Em países como os Estados Unidos, houve a adoção das máscaras para evitar o contágio.

Ao olharmos para algumas das doenças que afetaram as pessoas nas mais diversas épocas da nossa história e comparar com a atual pandemia do coronavírus, precisamos lembrar que a humanidade sempre tem conseguido, na maior parte dos casos, ultrapassar as barreiras impostas à sua condição, seja através da erradicação ou tratamento das doenças.

O grande aprendizado que ainda não ocorreu como deveria é que nós, seres humanos, apesar de estar entre os animais mais fracos da natureza, conseguimos chegar até aqui enfrentando sempre as adversidades da vida. Isso só foi possível devido aos cuidados que temos com a nossa espécie, ou seja, a solidariedade com nosso próximo é que precisa ser o novo normal. É isso que devemos e precisamos esperar do mundo pós-pandemia.


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