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Poder e verdade

Senhores governantes, sejam virtuosos, falem sempre a verdade ao povo, reneguem apoio de bajuladores, não dissimulem


10/08/2020 04:00

Otacílio Lage
Jornalista

 

stamos vivendo tempos mais do que bicudos. Esse quadro não é privilégio do Brasil. O cenário mundial também é de incertezas e desencontros, tanto no campo político quanto no econômico. Um exemplo: as turras entre Estados Unidos e China. Com a pandemia causada pela COVID-19, a humanidade vai precisar repensar suas atitudes com acuidade daqui em diante. A falta de sensibilidade de alguns governos (ou governantes?), incluindo o brasileiro, prejudicou aqueles que desde o primeiro momento procuraram barrar a doença com isolamento social em suas jurisdições. Alguns governantes ignoraram até mesmo a ética, desdenhando do vírus e mentindo sobre a "eficiência" de certos medicamentos.

 

O filósofo grego Aristóteles (322-384 a.C.) nos deixou: "O propósito da ética é o propósito da vida". Ele defendia que a felicidade é um bem supremo, perseguido por todas as pessoas, mas, para atingi-la, o caminho a ser seguido é a virtude, que exige, simultaneamente, escolha e hábito. Uma escolha virtuosa é, então, meio-termo entre dois extremos. "Para que alguém atinja a felicidade por meio da virtude, é preciso um ambiente social adequado, o que só pode ser conquistado com o governo igualmente adequado".

 

Dos 193 países que integram a Organização das Nações Unidas (ONU), a maioria tem governos contestados: na América Latina, praticamente todos; nas do Norte e Central, vários; na Europa, muitos; na Ásia, idem; na África e no Oriente Médio, um horror. Há mazelas de toda ordem: governantes toscos, obtusos; crises econômicas e sociais, desemprego torturante, conflitos armados, fome sistêmica, endemias, corrupção continuada, políticos dissimulados, interesses escusos e o crime organizado grassando sem combate objetivo algum.

 

São Tomás de Aquino (1225-1274) – auxiliou na reintrodução da filosofia aristotélica no pensamento europeu –, em sua magnífica obra Suma teológica, com base no trabalho de Aristóteles, reforça que "uma boa vida é aquela que busca alcançar o mais alto fim". Sobre a virtude, ele define que há quatro cardeais, das quais derivam as ou- tras: justiça, prudência, coragem e temperança.

 

Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo francês, pioneiro do existencialismo, defende que as pessoas sempre têm a liberdade, mas que "a liberdade e a consciência inerentes são ao mesmo tempo uma dádiva e uma maldição". Embora a liberdade possibilite que alguém mude de rumo da própria vida, há também um grande grau de responsabi- lidade que vem junto com essa possibilidade de mudança. Sartre é contundente: "Quando se trata de livre-arbítrio, há que se discutir, também, a ideia de responsabilidade moral, quando alguém assume uma tarefa ou obrigação e aceita as consequências associadas a isso".

 

Desde o início de março, o governo federal deixou o combate à pandemia praticamente nas mãos dos governos estaduais e dos municípios. Muitas medidas baixadas pelo Planalto criaram conflitos de gestão na área da saúde, num momento tão melindroso. Repasses tardios ou subestimados de recursos a esses entes públicos também agravaram o problema; pregação sobre uso de medicamentos não aprovados pela ciência para atacar o vírus foi outro equívoco. John Locke (1632-1704), médico e pensador inglês, no livro Dois tratados sobre o governo, afirma que o único propósito de um governo deve ser apenas garantir o bem-estar de todos. "Caso o governo não promova mais o bem-estar coletivo, ele deve ser        substituído, sendo obrigação moral da comunidade se revoltar."

 

Para ele, quando existe um governo adequado, a sociedade se desenvolve em todos os sentidos. Aí reside o dilema que muitas nações vivem mundo afora, inclusive no Brasil. A desigualdade social esgota qualquer reserva de paciência das pessoas que se encontram na base da pirâmide.

No Brasil, a saúde é tratada com desleixo, em- bora esteja, em tese, amparada pelo artigo 196 da Constituição. Com a Amazônia entregue às chamas e a madeireiros e garimpeiros ilegais – que desmatam, expulsam e matam índios de reservas criadas por lei –, o país já perde mercados de alto potencial para suas exportações, notadamente do agronegócio.

 

Portanto, senhores governantes, sejam virtuosos, falem sempre a verdade ao povo, reneguem apoio de bajuladores, não dissimulem. Sigam as recomendações de São Tomás de Aquino: pratiquem a justiça e ajam com prudência, coragem e temperança. Sem essas posturas, não se iludam, não há como o Brasil alcançar o desenvolvimento sustentado, único caminho para o país agregar uma sociedade próspera e confiante. 


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