Jair dos Santos Jr.
Conselheiro da Associação Brasileira de
Educação a Distância (Abed), sócio-diretor da SantosJr. Consultoria Educacional, mestre e doutor em sociologia pela Unicamp
A angústia da pandemia da COVID-19, a peste do século 21, alterou, definitivamente, nossa cultura, nossas relações, nossa visão de mundo. Depois dela, teremos reaprendido a fazer todas as nossas atividades. E é aí que, assim como muitos estudiosos, parei para refletir sobre como será a educação AC e DC (antes da COVID-19 e depois da COVID-19).
Afinal de contas, nossa educação ia muito bem e como será mudá-la. Certo? Premissa errada. Estudos como o da ONG Todos Pela Educação sobre o "aprendizado adequado" mostram que, desde o ensino fundamental, ainda que com avanços significativos, em 2017, apenas 49% dos alunos de 5ª série do ensino fundamental tinham o conhecimento esperado de matemática e outros 61% de língua portuguesa. Para os alunos do 9º ano, esses números são piores: 21% sabiam o que deveriam de matemática e 39% de língua portuguesa.
Mas é no ensino médio que a tragédia se evidencia, já que apenas 9% sabiam adequadamente matemática e 29% língua portuguesa. Nossos adolescentes estão profundamente desmotivados com aquilo que estão aprendendo e como estão aprendendo.
A avaliação da aprendizagem adequada no ensino superior nos é oferecida pelo Enade. Seguindo a metodologia definida na Lei 10.861/2004, separados em grupos de cursos por ano, a cada ciclo de três anos temos dados se os alunos sabem o que é esperado ao concluir sua graduação. Em 2018, assim como em 2015, foram avaliados cursos de ciências sociais aplicadas, gestão e psicologia, num total de 27 graduações. Comparando o desempenho dos alunos de 100 pontos possíveis, a média de acertos foi 45, sendo que em 2015 esse número era 48. Pioramos e estamos abaixo da metade de ensinar aquilo que deveríamos. A tragédia é a mesma da educação básica.
Mas, no ensino superior, temos a experiência da educação a distância (EAD), apontada por alguns como embuste e por outros entusiastas como salvadora. Felizmente, o Enade nos permite a análise fria e científica. Nos mesmos termos acima, em 2018 a educação presencial teve como média 46 pontos, contra 43 para os cursos em EAD (foram 21 oferecidos nas duas modalidades). Errado quem pensa que o professor em sala ensina melhor; errado quem pensa que o simples uso de tecnologia vai ensinar melhor.
A comunidade científica da Abed enfrenta, há um quarto de século, essa discussão. A aprendizagem deve ter significado para quem aprende. Deve ser experimentada, promover a interação de pessoas, de técnicas, presencialmente e via recursos tecnológicos. Do contrário, tirar o professor da sala de aula e colocar frente a uma câmera não vai ensinar, pois nem o giz, nem o smartphone, nem o professor sozinho são a solução. Mas é a elaboração de projetos de ensino articulados, com percurso, com técnica e com equipe multiprofissional que dará o caminho para ensinarmos mais e melhor.