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A escolha de Sofia

Adiar a contaminação não evitará que o vírus se alastre


postado em 26/03/2020 04:00



Aquiles Leonardo Diniz
Analista e consultor financeiro

 
 
 
o contrário da literatura e filmes de ficção, o Brasil encontra-se diante de uma realidade que, para enfrentar a doença, terá de escolher entre duas alternativas: ou opta pelo alongamento indefinido do contágio do coronavírus, shutdown – para que a saúde pública comporte a demanda – , ou cuida somente de idosos e doentes, liberando os demais cidadãos e evitando a destruição da economia.

Alguns defendem que poderia assegurar ambas as escolhas sem maiores consequências; talvez, mas não acredito! O que temos, até então, é um shutdown desenhado e nenhum plano econômico-financeiro apresentado.

Sou leigo em assuntos da medicina ou mesmo a respeito do trato de surtos epidemiológicos mundo afora. Entretanto, a dura reflexão que faço é que em se mantendo o isolamento total do território brasileiro, seremos obrigados a optar pela preservação da sociedade constituída, ou enfrentaremos uma guerra de impacto social sem precedentes.

Até agora, as medidas restritivas anunciadas pelo governo nada mais são do que o retardamento da disseminação incontrolada do coronavírus. Certo ou errado, estão ganhando tempo na tentativa de preparar a rede pública de saúde. Ato paliativo, a meu ver, e que não resolverá o problema. Até porque, não existe vacina contra o novo vírus. Adiar a contaminação não evitará que o vírus se alastre, isso é fato. Países europeus que enfrentaram o problema, deixando a seleção ocorrer de forma mais natural, têm grande probabilidade de ter resultados mais rápidos e positivos. A doença já matou muitos e muitos mais ainda irão morrer, mas os sobreviventes estarão imunes.

Não tenho a intenção de influenciar ninguém a optar por uma ou outra alternativa, mas como cidadão me sinto na obrigação de levantar essa questão pertinente sobre o que é melhor para o Brasil. O travamento da mobilidade pública poderá resultar na deflagração do caos social, com consequências desastrosas. Ou poderemos optar por uma liberação da mobilidade – preservando idosos e doentes –, já que é impossível com os recursos disponíveis controlar a pandemia, porém, com baixas certamente inferiores às de uma sociedade em frangalhos.

O ditado popular diz que em tempos de guerra não se limpam armas. A nossa guerra há muito é econômica, de sobrevivência de um país convalescente, que respira por aparelhos, em vias de receber alta do CTI. Mas que sofreu forte revés, atingidos em cheio os pulmões. Não podemos deixar que o sistema imunológico enfraqueça e a infecção generalizada domine o organismo, levando-o a óbito. Nossas armas continuam sendo a busca incessante pelo crescimento sustentado, eficiência e o combate à corrupção, que dilapida os nossos recursos.

Temos, portanto, que refletir e decidir qual seria o melhor caminho a trilhar. Ou liberamos parcialmente a mobilidade ou o shutdown geral. Nesse caso, com a economia paralisada, pequenas e médias empresas, bens e serviços, indústrias, e mais de 30 milhões de autônomos sofrerão graves consequências. O desemprego, hoje na faixa dos 12%, saltará para 30%? Ou mais? Prevalecendo essa hipótese, após 90 dias já terá se instalado o caos generalizado, com insatisfações e revoltas populares colocando em xeque o poder federal.

Devemos manter todas as atividades essenciais, de forma mais ampla, permitindo a continuidade da sociedade de forma equilibrada. A mortalidade pelo coronavírus, com certeza, será bem inferior se comparada à devastação provocada pelo caos social.

A estratégia de priorizar o combate à pandemia, poupando quem sabe algumas centenas de vidas, é válida sim. O custo, entretanto, poderá alcançar níveis altíssimos, em função da paralisação total da economia. O isolamento imediato não é exagero, mas daí a impor o shutdown cheira a irresponsabilidade.

Os cientistas preveem, em um pior cenário, algumas centenas de mortes no país; provavelmente, não cheguem a tanto. Em compensação, os sobreviventes estariam imunes ao novo vírus e seguiriam suas rotinas normais. São números assustadores, mas qual seria o pior cenário? São decisões altamente impopulares, politicamente indefensáveis, mas com o objetivo de garantir o bem-estar social, protegendo a própria população.

A escolha brasileira de Sofia: manter o shutdown, cujos efeitos seriam de longo alcance, difícil de reverter no curto prazo, ou permitir que ocorram algumas mortes inevitáveis por coronavírus – preservando idosos e doentes –, com consequências inferiores à catástrofe de um caos social.

Se a coragem vence a guerra, sejamos responsáveis.

Que essa decisão não venha tarde demais!





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