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O paradoxo do conhecimento

Engana-se quem pensa encontrar no conhecimento somente progresso e alegrias


postado em 02/11/2019 04:00

Gilson E. Fonseca
Sócio e diretor da Soluções em Engenharia   Geotécnica Ltda (Soegeo)

Fomos educados, desde pequenos, a buscar o conhecimento. A ciência sempre fascinou o homem desde os primórdios da história humana. Nessa premissa, muitos pais colocam o futuro e a felicidade dos seus filhos na formação escolar, sobretudo acadêmica, exercendo uma pressão muitas vezes exagerada, causando-lhes desconfortos espirituais desnecessários. Atualmente, com o avento da inteligência artificial, há uma nítida distinção entre informação e conhecimento, diminuindo a distância um do outro, é o que se vê acontecendo com a nova geração. Mas a verdade é que, independentemente da educação que recebemos, sob influências dos pais ou não, somos compelidos a desejar conhecer tudo que nos cerca e a buscar todos os bens e confortos. Mas a maioria de nós, em um momento da vida, acaba enxergando e aceitando que a principal causa do sofrimento humano, depois da doença, é o desejo, sobretudo exagerado. O budismo dá grande ênfase ao assunto e o pensamento fundamental de Buda permanece atual, apesar dos 2.500 anos: "O sofrimento é proporcional ao desejo".
 
Um componente importante de nosso sofrimento, portanto, mas que muitas vezes passa despercebido, é o acúmulo de conhecimento. O conhecimento, principalmente científico traz, paradoxalmente, grande desconforto. O Antigo Testamento, no capítulo Eclesiastes, que significa pregador, diz no versículo 18: "Porque no acúmulo de sabedoria acumula-se tristeza, e quem aumenta a ciência, aumenta sua dor". Deus impôs aos homens esta ingrata ocupação, cita ainda o Eclesiastes. A sabedoria popular diz que "o melhor é viver ignorante e morrer de repente". Mas, aí, me parece uma covardia, porque é fugir dos problemas inerentes à vida.
 
A natureza (ou o Criador) foi muito fiel à lei da compensação, isto é, tudo tem ganho e perda.  Se aumentamos nosso conhecimento científico e mesmo intuitivo, ganhamos com a maior compreensão das coisas, alcançamos outros patamares, mas com ela surgem dificuldades, desconfortos, tristezas. Evidentemente, muito maiores que numa outra pessoa sem escolaridade e de pouca intuição. A sensibilidade do poeta Vicente de Carvalho nos indica um caminho na belíssima sextilha do seu poema A felicidade: "Essa felicidade que supomos/Árvore milagrosa que sonhamos/Toda arreada de dourados pomos/Existe sim, mas nunca a alcançamos/Porque está sempre apenas onde a pomos/E nunca a pomos onde nós estamos".
 
Nosso caipira do interior de Minas, que infelizmente está desaparecendo, tem muito a nos ensinar, estereotipado na botina de goma, chapéu e cigarro de palha, aparentando muito mais felicidade que muitos executivos e cientistas. Quem sabe tenha procurado apenas os sonhos alcançáveis, pondo sua vida no lugar certo. O poeta e escritor Rabindranath Tagore disse: "O homem não é livre porque vive sob a tirania da insegurança, do medo e da dor". Engana-se, portanto, quem pensa encontrar no conhecimento somente progresso e alegrias. Nossa visão de mundo aumenta, mas com ela também a dor espiritual.


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