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O gosto amargo das redes sociais

Pesquisa mostrou que 66% dos entrevistados consideram que os portais de notícias são as fontes mais confiáveis de informação


postado em 11/04/2019 05:06


Parcela expressiva da sociedade brasileira, aí incluídos classe política, empresariado, cidadãos que se preocupam com os destinos do país, tem debatido, nas últimas semanas, se é conveniente que o presidente Jair Bolsonaro continue dando grande protagonismo às redes sociais no seu governo. Importantes para o processo que culminou com sua eleição para a Presidência da República, Jair Bolsonaro, que está em confronto aberto com os meios tradicionais de comunicação desde a eleição, parece acreditar que as redes sociais foram as únicas responsáveis por sua vitória.

Na verdade, elas serviram como instrumento para canalizar um desejo de mudança que tomou conta de parcela significativa da sociedade que, naquele momento, demonstrava grande repulsa pela era petista à frente dos destinos do país e clamava por mudanças. Bolsonaro soube bem encarar esse sentimento e usou com maestria as redes sociais para surfar nesta onda.

Mas já completanto 100 dias no governo, o presidente, a julgar por seu comportamento, parece estar convencido de que dá, também, para governar, bem como se comunicar com o povo brasileiro, apenas pelo Facebook, Twitter e Instagram. Bolsonaro tem cerca de 11 milhões de seguidores no Facebook e no Instagram e, aproximadamente, 3,8 milhões no Twitter. São números expressivos, mas muito longe do universo de brasileiros que tem direito de ser informados sobre como ele está administrando o país. Afinal, somos mais de 200 milhões de habitantes, o que significa que, usando apenas suas redes, o presidente está falando com pouco mais de 5% da população (isso porque os seguidores de uma determinada rede do presidente são, na sua grande maioria, seguidores das outras).

Há, ainda, outros dados a serem considerados. Pesquisa feita pelo instituto Ibope, divulgada no final do ano passado, mostrou que 66% dos entrevistados consideram que os portais de notícias são as fontes mais confiáveis de informação. Apenas 5% disseram confiar em informações do Facebook e apenas 4% confiam no que leem no WhatsApp. E, suprema ironia, até as redes sociais do presidente não estão imunes às chamadas fake news. No seu Twitter, o presidente já divulgou informação falsa envolvendo uma jornalista do jornal O Estado de S. Paulo, ao endossar tese levantada por um site que, de forma leviana, atribuiu à profissional uma declaração de que ela teria "intenção de arruinar Flávio Bolsonaro [um dos filhos] e o governo".

Ou seja, dá para confiar cegamente no conteúdo divulgado nas redes sociais pelo presidente? Não, não dá. Como é sempre bom ouvir a opinião de quem entende do assunto, recorro a Ronaldo Lemos, um dos grandes especialistas do país em mídias digitais, tecnologia e internet. "Não dá para confiar em nada que se vê em redes sociais", disse Lemos, em entrevista recente à rádio Trip FM. E já está mais do que evidente que o ativismo do presidente nas redes, ajudado em boa medida por alguns de seus filhos, em especial o vereador Carlos Bolsonaro, também conhecido como o "Zero 2" e uma espécie de consultor presidencial para assuntos de internet, já está trazendo problemas para o governo. "É como se o presidente estivesse apagando fogo com gasolina", assinala Ronaldo Lemos, ao comentar a atuação de Bolsonaro nas redes sociais.

Vide o imbróglio recente entre Sua Excelência e o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, que chegou a recomendar que Bolsonaro saísse do Twitter e começasse a trabalhar pela população, bem como parasse de "brincar de presidir o Brasil". Muitos também vão se lembrar do vídeo compartilhado pelo presidente com cenas obscenas do carnaval, que ganhou as páginas das principais publicações do mundo, em tom de espanto ou jocoso. Mas a julgar pelo que vem dizendo o filho e conselheiro Carlos, o presidente não pretende se afastar um milímetro das redes sociais. Diz o filho que as redes é que conectam Bolsonaro com o povo, já que a mídia tradicional estaria contra ele e seu governo, e foram elas que garantiram a sua eleição. E vai mais longe. Para o "Zero 2", quem defende o afastamento do presidente das redes o quer fraco, sem apoio popular, pois assim conseguiriam chantageá-lo.

Depois de tantos solavancos vividos pelo Brasil, com impeachment de presidente, prisão de ex-presidentes, caciques da política e do empresariado, Lava-Jato, escândalos de corrupção, está evidente que o país precisa de um momento de estabilidade. Mas as redes sociais, como explica bem Ronaldo Lemos, são a antítese da estabilidade. "Elas têm capacidade imensa de provocar crises, desentendimentos, linchamentos, julgamentos públicos", observa o especialista.

Portanto, afora os aficionados por Bolsonaro, aqueles que o consideram "mito" e aplaudem todas as suas publicações, sua militância nas redes não tem sido bom exemplo de comunicação com seus eleitores e, muito menos, com os brasileiros.

A ver até quando o presidente resistirá aos veículos tradicionais (TVs, rádios, jornais) de imprensa, que ele hoje abomina, para se comunicar com a grande maioria dos brasileiros. E para fechar com Ronaldo Lemos: "Quem governa por redes sociais acaba sendo governado por elas".

 


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