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Meninos de Belford Roxo foram mortos em sessão de tortura que deu 'errado'

Segundo a polícia, houve excesso por parte de traficantes. Um dos garotos morreu durante as agressões e, para "resolver o problema", decidiu-se matar mais dois


09/12/2021 16:19

Meninos de Belford Roxo
Meninos foram mortos por causa de uma sessão de tortura em que houve excesso por parte de traficantes, de acordo com a Polícia Civil fluminense (foto: Reprodução)

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Os três meninos que desapareceram em Belford Roxo, região metropolitana do Rio de Janeiro, há quase um ano foram mortos por causa de uma sessão de tortura em que houve excesso por parte de traficantes, de acordo com a Polícia Civil fluminense.

Segundo o delegado Uriel Alcântara, que chefiou as investigações, eles foram condenados em uma espécie de tribunal do crime após terem roubado uma gaiola de passarinhos do tio de um traficante. Um dos garotos acabou morrendo durante as agressões e, para "resolver o problema", decidiu-se matar os outros dois.

Os investigadores esclareceram nesta quinta (9), em entrevista coletiva, a dinâmica dos eventos. Os primos Lucas Matheus da Silva, 9, Alexandre da Silva, 11, e o amigo deles, Fernando Henrique Soares, 12, saíram de casa para brincar em 27 de dezembro, na comunidade do Castelar.

Em algum momento daquela manhã, que o delegado não sabe precisar, eles foram vistos com a gaiola nas mãos. Por volta das 13h, eles foram vistos novamente na feira de Areia Branca, a cerca de 3 km de onde moravam, sem a gaiola. Em algum momento no retorno para casa, foram capturados, torturados e mortos, no mesmo dia.

Depois disso, traficantes foram até um bar montados em duas motos e pediram que um conhecido levasse os corpos de carro. Eles subiram a comunidade, colocaram sacos pretos no porta-malas e então foram até um rio da região, onde provavelmente os meninos foram jogados.

A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense passou a investigar o caso em janeiro, mas diz ter encontrado muitas dificuldades pela dinâmica do evento e por ser uma área dominada pelo tráfico, em que diligências simples requerem muita estrutura e planejamento.

Alvo de críticas no último ano pela demora em descobrir o paradeiro dos garotos, o delegado Uriel Alcântara afirmou que o caso foi tratado como prioridade desde o início. "Para a Polícia Civil qualquer caso com criança e adolescente é uma prioridade, e prioridade não necessariamente é sinônimo de celeridade. Cada fato investigado tem a sua complexidade, suas variáveis, suas dificuldades", afirmou.

A investigação só teve um avanço mais significativo a partir de maio, quando uma testemunha-chave que presenciou os eventos confirmou a hipótese do furto das aves.

No total, foram ouvidas 71 testemunhas com mais ou menos importância nos eventos. Foram também realizadas buscas em dois pontos do rio, mas os delegados decidiram paralisá-las porque avaliaram que os corpos não seriam achados após tantos meses.

Paralelamente, estava em andamento desde janeiro um inquérito para apurar o tráfico de drogas na comunidade, que é comandada pela facção criminosa Comando Vermelho. Essas duas investigações foram complementares para se chegar à grande operação realizada nesta quinta na região.

Cerca de 250 agentes participaram da ação para cumprir 56 mandados de prisão temporária, cinco deles pelo triplo homicídio com ocultação de cadáver e os outros por associação para o tráfico. Ao todo, 16 pessoas foram presas nesta quinta. Outros 15 alvos já se encontravam no sistema prisional.

Entre os cinco suspeitos de envolvimento direto na morte dos garotos, alvos dos mandados, estão três pessoas mortas nos últimos meses: o chefe do tráfico José Carlos Prazeres da Silva (Piranha), o gerente Willer Castro da Silva (Estala) e a gerente de logística Ana Paula da Rosa Costa (Tia Paula).

Um quarto mandado mira Edgar Alves de Andrade (Doca), uma das lideranças do Comando Vermelho, que está foragido. O quinto suspeito foi preso na operação, mas não teve seu nome divulgado por risco à sua vida.

A testemunha-chave citada pelo delegado contou, em depoimento gravado pela polícia, ter visto Estala dizendo a outro traficante que "mataram os meninos porque roubaram uma gaiola de seu tio". Nessa conversa, Estala também indicou que Piranha e Doca haviam autorizado os assassinatos.

Por último, há um sexto investigado: o motorista que levou os corpos ao rio e colabora com a polícia. Segundo o delegado Uriel Ancântara, a ocultação de cadáver não fundamenta o pedido de prisão temporária, por isso ele continua em liberdade. Tia Paula foi responsável por chamar esse motorista, segundo a polícia.


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