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Estado de Minas SOM ALTO

Homenagens à moda antiga, com carros de som, ganham força com o isolamento

Com isolamento, pessoas estão encontrando alternativas para demonstrar afeto; alguns recorreram a formatos antigos, como é o caso de carros de mensagem ao vivo


30/01/2021 15:36

(foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
(foto: Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Você deve ter presenciado, alguma vez na vida, em uma festa ou na casa de vizinhos, aqueles carros de som com mensagem ao vivo para um aniversariante ou com declarações de amor. Embora pareça um método antigo de demonstração de carinho e afeto, em um mundo de videochamadas e de redes sociais, durante a pandemia, o mercado de mensagens ao vivo ganhou vida nova devido ao isolamento social.

No setor há 20 anos, Carlos Ferreira contou que, no início da pandemia, não houve procura. No entanto, com o passar dos dias, o telefone não parava de tocar. “As pessoas começaram a perceber que estavam presas em casa, não tinham divertimento, nem como comemorar nada e lembraram da mensagem ao vivo”, disse. Antes, ele atendia mais a região sul do Distrito Federal, além de cidades do Entorno. Aos poucos, começou a receber demandas de moradores de regiões mais longes.

O empresário contou que chegou a fazer 80 homenagens em um mês. “Geralmente, é bem menos. Agora, por exemplo, faço umas 30. Fizemos mensagens que nunca tínhamos feito. Nunca imaginei tantas assim. O pessoal adorou, e o bacana é que os vizinhos interagem. Então, se torna algo ainda mais especial”, destacou. A empresa Alma Gêmea envia homenagens para todas as ocasiões, em especial aniversários.

O serviço é composto por um texto, lido por um locutor, mensagens enviadas por amigos e familiares do homenageado, músicas, fogos, e, ao final, tem um momento de entretenimento. “O locutor faz alguns personagens e todo mundo ama. É uma boa opção para quem quer homenagear alguém que está longe”, completou Carlos.

Para o proprietário da ACL Mensagens Ao Vivo, Cleiton Barros, o período também tem sido lucrativo. Ele ressalta que a procura tem sido grande, principalmente para homenagear os idosos. “A que mais me marcou foi de um filho que pediu para o pai, no Sudoeste. Ele já é idoso, não podia receber visita em casa. É um gesto de carinho e deixa as pessoas emocionadas”, afirmou.

Afeto

Gerente de um mercado em Taguatinga, Fábio Menezes, 35 anos, trabalha em serviço essencial e precisou sair de casa todos os dias durante a pandemia, sempre respeitando os protocolos, de uso obrigatório de máscara e álcool em gel. Antes, ele tinha o costume de passar os finais de semana na casa dos pais, em Ceilândia. Por serem idosos, ele tem mantido contato apenas por telefone durante a crise da covid-19. Em agosto, mês do Dia dos Pais e do aniversário da mãe dele, surgiu a ideia de mandar o carro de som. “A saudade era grande e falar por telefone já não era suficiente. Então, contratei uma equipe e eles foram lá. Foi lindo. Meus pais olhando pela janela, os vizinhos participando”, contou.

Fábio presenciou toda a homenagem do lado de fora, no carro. “Logo depois, recebi uma ligação do meu pai. Ele, chorando, falou que aquele gesto tinha o acalmado, porque ele está sem sair de casa até hoje. Faço as compras no mercado e peço para entregarem. Ele me ver naquele momento, mesmo que de longe, foi um afago”, disse o gerente. Ele é o caçula de três irmãos. Porém, o único que mora no DF. O mais velho está no Canadá; e o do meio, em São Paulo. “Fiz representando os três. Eles assistiram por videochamada. Foi lindo”, declarou.

A funcionária de serviços gerais Claudirene Carvalho, 40, foi surpreendida pelo marido no dia do aniversário, em 19 de dezembro. Ela contou que trabalhou o dia todo, e chegou em casa à noite. Eles haviam combinado uma comemoração pequena, com pessoas mais próximas. Fizeram um culto e, em seguida, cantaram os parabéns. “De repente, chegou o carro de som. Nunca tinha recebido. Foi uma surpresa enorme. Fiquei chocada, emocionada, sem reação”, lembrou.

Claudirene recorda que o momento foi tão especial que vários vizinhos foram para a rua ver o que estava acontecendo. “Tem uma vizinha que nunca sai de casa, e saiu”, brincou. Depois da homenagem que recebeu, apareceram mais três carros de mensagem na rua. “A gente se sente importante. Nunca mais tinha visto essas homenagens ao vivo. Recebemos muitos elogios. Eu amei a surpresa”, completou.

Surpresa

A nutricionista Marcella Gomes completou 26 anos, ontem, e recebeu uma surpresa inusitada do primo Rafael Camara, que mora em Londres. A jovem almoçava com a família, quando foi surpreendida por um carro de som na porta de casa, no Jardim Botânico. Ao som de Reginaldo Rossi, Raça Negra, Boate Azul e Turma do Pagode, a aniversariante foi homenageada à moda antiga. “Fiquei muito emocionada, me senti muito querida. Nesse momento de pandemia, nada melhor do que sentir a presença de quem amamos dessa forma. Foi muito emocionante, muito especial. É um ano diferente, então, as pessoas estão tentando arranjar formas de demonstrar carinho a distância”, disse.

Ao saber que a surpresa partiu do primo, ela não conteve a emoção. “Somos muito próximos, mesmo com essa distância. Ele sempre morou fora, mas nos falamos todos os dias, por ligação, vídeo chamada e mensagem. É uma conexão surreal”, declarou.

Presença

O psiquiatra Anibal Okamoto explica que demonstrações de carinho como o carro de mensagem ao vivo podem suprir a ausência do contato físico gerada durante a pandemia. “À medida que a gente se isola, o toque físico diminui, e isso tem um impacto expressivo. Apesar de não ter nenhum estudo sobre esse tipo de mensagem, todo tipo de afeto que pode ser mais próximo contribui de forma favorável. Um telefonema ou videochamada não é a mesma coisa. Não traz a mesma sensação”, destacou.

O especialista ressalta que quanto mais elementos sensoriais, melhor. “As redes sociais, por exemplo, não têm isso. O carro de som torna a experiência mais tangível, concreta e isso pode suprir mais do que outro contato a distância”.

*Colaborou Darcianne Diogo

'Um telefonema ou videochamada não é a mesma coisa. Não traz a mesma sensação (...) As redes sociais, por exemplo, não têm isso. O carro de som torna a experiência mais tangível, concreta e isso pode suprir mais do que outro contato a distância', Anibal Okamoto, psiquiatra.


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