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Estado de Minas CLIMA

Chuva deixa mortos e desaparecidos em SP

Temporais fazem pelo menos 16 vítimas na Baixada Santista e equipes buscam 32 pessoas no Guarujá e 13 na região de Santos


postado em 04/03/2020 04:00

 Bombeiros fazem buscas no Morro do Macaco Molhado, onde 12 moradores e dois bombeiros morreram (foto: Guilherme Dionísio/AFP)
Bombeiros fazem buscas no Morro do Macaco Molhado, onde 12 moradores e dois bombeiros morreram (foto: Guilherme Dionísio/AFP)




As chuvas fortes que atingem a região da Baixada Santista desde a tarde de segunda-feira já provocaram ao menos 16 mortes nas cidades de Guarujá, Santos e São Vicente. Trinta e duas pessoas estão desaparecidas. O número foi atualizado pelos bombeiros. O secretário adjunto de Defesa Civil do Guarujá, Carlos Eduardo Smicelato, estima que o número de vítimas possa chegar a 50 ou, até mesmo, 80 mortos. O principal local com registro de mortes até o momento é o Guarujá, com 14 óbitos. A cidade tem 32 desaparecidos. Um dos locais mais atingidos é o Morro do Macaco Molhado e no Jardim Centenário. Há mais 13 desaparecidos em Santos e São Vicente, elevando o número na região para 45 pessoas procuradas.
A prefeitura da cidade decretou estado de emergência. Pelo menos duzentas pessoas estão desabrigadas no município. Na manhã de ontem, o prefeito Valter Suman (PSB) sobrevoou as áreas mais atingidas junto com o coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel Walter Niakas Júnior. Em entrevista à Rádio Eldorado, o coronel Endel Ricardo Pereira, diretor de operações da Defesa Civil estadual, confirmou que entre as vítimas estão dois agentes do Corpo de Bombeiros. Eles participavam de uma operação de resgate no Morro do Macaco Molhado, no Guarujá, e foram atingidos por um novo deslizamento, que deixou um deles morto, enquanto o outro continua soterrado.
O bombeiro que morreu, cabo Moraes, foi atender o chamado do primeiro desabamento, ainda na noite de segunda. Durante o resgate, a equipe foi surpreendida por outro desabamento. Cabo Batalha, que também atendeu ao primeiro chamado, ainda é procurado. Eles tentavam encontrar uma mãe com o bebê, os dois também foram encontrados mortos. Ainda de acordo com os bombeiros, o número de desaparecidos não indica necessariamente que estas pessoas estejam nos escombros.
O ajudante de pedreiro Luciano Martins de Oliveira, conhecido como Aranha, de 59 anos, estava dormindo em casa no momento do deslizamento, por volta da 1h30, no Morro do Macaco Molhado. Ele chegou a ficar soterrado até o umbigo e foi resgatado por vizinhos e bombeiros. “Achei que ía perder metade do corpo. Me ajudaram a sair pela janela”. No início da tarde, mesmo com a chuva, ele estava nas proximidades da casa, preocupado em conseguir os documentos, mas a habitação de madeira, em que vivia há 6 anos, desmoronou. “Não tenho lugar para ir. Perdi tudo, estou só com a roupa do corpo mesmo.” Luciano não quer mais ficar no Morro do Macaco Molhado. "Dá medo, essa chuva não para", diz. "Mas o importante é estar vivo”, acrescenta.
“Veio aquela água, aquela lama correndo um monte, parecia aquilo que teve em Minas. Como era o nome mesmo daquele lugar?", disse, referindo-se a Brumadinho, onde o rompimento de uma barragem deixou ao menos 270 mortos. Como ainda chove na região, o Corpo de Bombeiros pediu para moradores e jornalistas se afastarem do local de um dos desmoronamentos. Nas ruas da parte mais baixa, a população usa enxadas, carrinhos de mão e outros equipamentos para retirar a lama avermelhada.
O cenário no Morro do Macaco é de devastação. Barracos vieram abaixo, móveis e eletrodomésticos estão destruídos, além de muita lama e dificuldade para retirar os escombros na procura por sobreviventes. No alto do morro, os voluntários, enfileirados, ajudam na retirada da lama. Um balde passa de mão em mão até ser despejado em uma área isolada. Os bombeiros realizam movimentos minuciosos na tentativa de evitar outros deslizamentos e são avisados pelo som de um apito quando algo de pior pode acontecer.
“Fiquei muito triste quando cheguei lá em cima, porque são pessoas que conheço há muito tempo. Moro aqui há 50 anos. Eu gostaria de ajudar, mas não posso porque sou operado da coluna. Fiquei muito feliz em ver as pessoas ajudando”, ressaltou Gilvan Nunes, morador do Morro do Macaco. “Tudo tremia na casa”, lembra a dona de casa Bruna da Rocha, de 27 anos, que mora nas proximidades de um dos deslizamentos. “Começou todo mundo a gritar, chorando, pedindo ajuda para eles”, relata. “Moro aqui há 27 anos e nunca vi algo assim na minha vida. É a primeira vê que acontece uma coisa dessas.”

Buscas 

Entre os desaparecidos no Morro do Macaco Molhado está Rafael Rodrigues, de 35 anos, liderança de projetos de capoeira e dança folclórica, que hoje atende cerca de 120 crianças e adolescentes O projeto existe há mais de 20 anos. Segundo amigos, ele mora em um bairro próximo e, ao saber que o deslizamento havia vitimado crianças, resolveu ajudar ainda na madrugada. “A gente estava se comunicando, eu e o meu irmão. Ficou complicado porque não tinha mais eletricidade”, conta o contramestre do Afroketu, projeto de Rafael, Yago Gonçalves, de 27 anos. “A gente se conhece desde pequeno, treina capoeira desde novo.”
Yago está ajudando na retirada dos escombros e da lama junto com outros integrantes do Afroketu. “Desci pela lama, achei um dos bombeiros (o corpo). Mas o meu irmão, eu tenho fé que vai ficar bem.” “Tinha muitos alunos nossos que moram por aqui”, explica. “A comunidade é bem unidade nessa parte (de ajudar).” “A esperança é a última que morre importante, tenho fé sempre. Ele é um cara resistente.”
O ajudante de pedreiro desempregado Felipe Oliveira, de 22 anos, morava em um barraco atingido, junto da esposa, grávida, e da filha de 4 anos. Após perder a moradia, para qual se mudou havia três meses, ele deixou a família com a irmã e voltou ao local dos deslizamentos. “Consegui pegar só umas roupinhas. Desmoronou, caiu tudo em cima de mim. Minha filha ficou presa debaixo da madeira. Um amigo veio e ajudou. Senão, a gente não ía conseguir sair. Depois fomos à luta ajudar todo mundo.”
De acordo com o porta-voz do Corpo de Bombeiros, capitão Marcos Palumbo, 15 bombeiros trabalham nos resgates no Guarujá. Todo o trabalho de resgate é feito de forma manual, pois não há condições de utilizar máquinas. Segundo o capitão, há chances de novos deslizamentos. “O corpo de bombeiros atua principalmente no Guarujá, onde temos 32 pessoas desaparecidas, sendo quatro no Morro do Macaco e 28 na Barreira do João Guarda. As equipes estão fazendo buscas em um terreno muito complicado e com chance de novos deslizamentos", explicou Palumbo. As equipes chegaram ainda durante a noite de segunda no Morro do Macaco. A chuva encharcou e desestabilizou o solo, provocando o “escorregamento da encosta, de quase todo o morro”. Bombeiros estimam que cerca de 30 residências foram atingidas. O local ainda representa muito perigo, segundo avaliação do capitão Palumbo.

Vítima em Santos 

Ainda conforme balanço divulgado ontem, Santos tem uma morte e 11 desaparecidos. São Vicente tem uma morte e três desaparecidos Em Santos, a prefeitura decretou estado de atenção. A vítima, uma mulher de 30 anos, morreu soterrada em um deslizamento no Morro do Tetéu. O Corpo de Bombeiros resgatou com uma criança atingida por deslizamento no Morro do Fontana. Ela foi levada para a Santa Casa e continuava internada em estado estável. Em Santos, os deslizamentos atingiram ainda os morros Santa Maria, São Bento, Vila Progresso e Monte Serrat – muitos moradores abandonaram as casas.
 
 
 

Rio de Janeiro registra 5 mil desabrigados após tempestade


Diversos locais na Região Metropolitana do Rio estão recebendo doações para ajudar as as vítimas da chuva que atingiu o Rio de Janeiro no fim de semana. Até o momento, cinco pessoas morreram por conta dos alagamentos. De acordo com a Defesa Civil estadual, na manhã ded ontem havia cerca de cinco mil desabrigados/desalojados em todo o Rio de Janeiro em decorrência das chuvas. Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos da capital, até o momento 200 famílias foram atendidas, sendo: 103 desalojadas, 11 desabrigadas e 86 permanecem em domicílio, totalizando 739 pessoas assistidas no município do Rio.
Também ontem, o corpo do jovem Mateus Souza Oliveira, de 21 anos, foi encontrado em um rio em Queimados, na Baixada Fluminense. Foi a quinta morte confirmada pelo temporal do último fim de semana.
Equipes do Corpo de Bombeiros realizavam buscas pelo auxiliar de pedreiro desde segunda-feira, no Rio Abel, que fica no bairro Dom Bosco, onde o rapaz foi encontrado. Segundo as primeiras informações, Mateus saiu de casa com um amigo, quando foi surpreendido pela enxurrada do rio. O colega do rapaz conseguiu se salvar, mas Mateus, que não sabia nadar, se afogou.
O Rio entrou em estágio de alerta nos primeiros minutos do domingo por causa das chuvas. A cidade já estava em "atenção" desde as 22h02 de sábado, mas o aumento do volume de chuva levou o Centro de Operações da Prefeitura a elevar o grau: passou do terceiro para o quarto em uma escala de cinco níveis. O estágio de alerta significava que uma ou mais ocorrências graves impactam a cidade ou há incidência simultânea de diversos problemas de médio e alto impacto em diferentes regiões. Durante a madrugada, a Defesa Civil acionou 27 sirenes em 13 comunidades da capital fluminense. Segundo o órgão, é importante que os moradores de áreas de risco fiquem atentos aos alertas sonoros e se desloquem para os pontos de apoio das comunidades.


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