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Estado de Minas

Professora morta no local de trabalho viveu dois anos ameaçada pelo ex-namorado

Debora Tereza Correa já tinha registrado ocorrências em delegacia contra o policial Sergio Murilo dos Santos, inclusive por lesões corporais


postado em 21/05/2019 08:34 / atualizado em 21/05/2019 08:54

A sede da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro tornou-se palco do 13º feminicídio registrado na capital federal neste ano. Na manhã desta segunda-feira (20/5), o policial civil Sergio Murilo dos Santos, 51 anos, entrou com uma pistola calibre 40 no edifício da Secretaria de Educação, na 511 Norte, e disparou três vezes contra a ex-namorada, a professora Debora Tereza Correa, 43. Depois disso, ele se matou. A 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) investiga o caso. Ainda não há data prevista para os sepultamentos.

Segundo relatos, Debora Tereza enfrentava problemas com o companheiro desde o início do relacionamento, em 2017. Naquele ano, ela registrou uma ocorrência por injúria, ameaça e dano material contra Sergio na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam). Em agosto passado, uma discussão entre o casal terminou na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), onde ele trabalhava.

Na ocasião, os dois estavam em um carro. Debora pediu para descer do veículo, mas Sergio não deixou. Após alguns minutos brigando, a vítima conseguiu sair e pediu para que um casal chamasse a polícia. O homem tirou fotos do policial civil, que se exaltou. Eles se agrediram e foram encaminhados para a delegacia. Ali, os dois homens acabaram autuados por lesão corporal, e a professora pediu medidas protetivas contra Sergio pelas ameaças sofridas.

Apesar de o pedido ter sido deferido pela Justiça, Debora não cortou relações com o agente. Eles permaneceram juntos e, em setembro, quando tiveram uma briga, ela acionou a polícia. Sergio não foi preso, sob a alegação de que a professora permitia o contato entre os dois, e usou como testemunha o porteiro do prédio onde ela morava à época. Segundo relatos de amigos, a vítima acabou o namoro no ano passado, ao descobrir que o policial era casado, e se mudou para a Asa Norte. Ela deixou de atuar em Sobradinho e passou a trabalhar no Plano Piloto.

Uma colega de trabalho que preferiu não se identificar disse que Debora queria terminar o namoro, mas Sergio não aceitava e a perseguiu ao longo de dois anos. “Nesse dia, ela fez ocorrência, passou a ter medida protetiva e se mudou de Sobradinho, onde ambos moravam, para ele não encontrá-la mais”, relatou. Ainda segundo a servidora, os dois nunca viveram juntos e, mesmo após as denúncias, ele continuava atrás dela. “Quando alugou um novo local, ela não colocou nada em nome próprio e mudou de celular, mas ele a rastreou pelo trabalho”, completou.

Desde 2017, professora e policial já tinham problema no relacionamento(foto: Arquivo pessoal)
Desde 2017, professora e policial já tinham problema no relacionamento (foto: Arquivo pessoal)
 

Pânico


Sergio chegou ao local em um carro de transporte por aplicativo e entrou armado no edifício, às 9h42. Aparentando tranquilidade na portaria, ele apresentou a identidade funcional e disse que precisava avaliar o andamento de um processo com entrada na Regional de Ensino de Sobradinho. Passou da recepção sem ser revistado. O policial civil, então, dirigiu-se ao terceiro andar, onde fica a Subsecretaria de Gestão de Pessoas, e pediu para falar com a ex-namorada, funcionária do setor. Não se sabe, ainda, se ambos conversaram, mas, depois de a vítima se virar de costas, ele atirou três vezes contra ela. Em seguida, disparou contra o próprio olho.

A professora da Secretaria de Educação e advogada Lucilene Marques, 44, chegou ao prédio minutos após os tiros, antes da Polícia Militar. “Foi surreal, uma tragédia de cena de filme. Ele se apresentou como se fosse resolver um processo administrativo. E, quando viu a Debora, sorriu para ela. Mas, depois, deu os tiros”, contou a servidora, a partir de relatos de colegas.

A servidora da Secretaria de Educação Isabel Helena Rabelo, 47, estava em uma das salas de fundo do prédio quando ouviu um barulho. A princípio, pensou que alguns armários tivessem caído. “O ruído foi muito forte. Não deu para identificar o tiro. De repente, todo mundo saiu gritando. Foi quando soubemos que um homem tinha atirado contra uma servidora. Foi um momento desesperador e de pânico”, relatou.

A Polícia Civil ainda apura os detalhes do caso. “É um fato lamentável. Estamos tomando todas as providências para falar com as testemunhas e saber as causas e os porquês de algo tão trágico. A Corregedoria-Geral da Polícia também está investigando”, ressaltou o delegado Laércio Rossetto, da 2ª DP. Em novembro, Sergio foi condenado pela Vara de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Sobradinho por crime de violação à Lei Maria da Penha. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público, em defesa de Debora, mas o réu recorreu e, em março, foi absolvido em segunda instância.

Em nota, a Secretaria de Educação lamentou a morte da servidora. “Neste momento de dor, a SEE/DF (Secretaria de Educação) se solidariza com a família, os amigos e os colegas da servidora. A pasta está à disposição para contribuir na investigação do caso.” O secretário de Educação, Rafael Parente, não estava no local no momento do crime e cancelou a agenda do dia para seguir até a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro. “Está todo mundo muito triste e em choque tentando saber o que fazer para que isso não aconteça mais dentro das regionais, dentro das escolas. A gente não pode viver com medo e estado constante de que alguma coisa vai acontecer”, disse Rafael.

Câmera de segurança registrou momento em que o assassino passou pela entrada do prédio(foto: Reprodução/frame/Circuito interno de vídeo)
Câmera de segurança registrou momento em que o assassino passou pela entrada do prédio (foto: Reprodução/frame/Circuito interno de vídeo)
 

Empenho coletivo


O governador Ibaneis Rocha (MDB) lamentou o caso e anunciou que o  governo investirá em campanhas para combater o feminicídio. Segundo o chefe do Executivo local, para isso, será necessário que toda a sociedade contribua. A proposta do GDF, segundo ele, é investir em campanhas publicitárias para que familiares e vizinhos denunciem a violência e para que os índices desse crime diminuam. “Temos de ter atuação mais forte. Também precisamos do Poder Judiciário mais presente. As mulheres não devem, de maneira nenhuma, se calar”, destacou.


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