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Estado de Minas

Atual valorização da virgindade se deve à sua raridade, dizem especialistas


postado em 24/10/2012 19:47 / atualizado em 24/10/2012 19:54

Um japonês que se identificou como Natsu arrematou a virgindade da brasileira Catarina Migliorini, de 20 anos. Ele deu o lance de US$ 780 mil - o equivalente a R$ 1,5 milhão -, numa disputa que teve 15 concorrentes. Partiu do Brasil a maior oferta (US$ 3 mil ou R$ 6 mil) pela virgindade do russo Alexander Atepanov. Catarina e Atepanov se inscreveram no inusitado leilão que faz parte do projeto Virgins Wanted, documentário que está sendo filmado pelo australiano Justin Sisely.

A relação sexual será consumada em dez dias. Catarina terá de apresentar laudo de ginecologista confirmando a virgindade. O ganhador do leilão fará exames para comprovar que não tem doenças sexualmente transmissíveis - ainda assim, terá de usar preservativo. Estão proibidos sexo oral, beijo na boca e uso de brinquedos sexuais. A relação não será filmada.

Sisely argumentou que pretende retratar as transformações na vida de um jovem provocadas pela "primeira vez". A iniciativa recebeu críticas e rendeu polêmica na internet - perfis pessoais, comunidades e a página do projeto receberam centenas de mensagens. E levantou a discussão sobre a razão de a virgindade ainda ser tão valorizada, mesmo depois das conquistas do movimento feminista e da revolução sexual.

Para a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade e Saúde da Universidade de São Paulo (ProSex/USP) a virgindade é um dos "grandes mitos da sexualidade" que permanece atual. "A grande revolução sexual ocorre quando a mulher deixa de guardar a virgindade como um bem Mas o mito da mulher virgem e o ato de desvirginá-la, que é visto como o uma façanha, chega aos dias de hoje porque não é tão comum para o homem adulto se relacionar com uma mulher adulta virgem, porque muito cedo as meninas iniciam a vida sexual, com 16 e 17 anos", explica. "O que tem valor é o ato de iniciar uma mulher. Para o homem fazer parte dessa transição conta como um ponto importante."

A historiadora Mary Del Priore, autora do livro Histórias Íntimas - Sexualidade e Erotismo na História do Brasil, concorda "Talvez tenha a ver com o fato de as pessoas perderem a virgindade com muita facilidade. Costuma-se valorizar o que é raro", afirma. Ela lembra que a virgindade perdeu a importância, do ponto de vista histórico, quando era uma espécie de garantia sobre a hereditariedade. Mais tarde, se tornou uma marca para distinguir as "moças de família" das "vassourinhas ou maçanetas" "A virgindade perde esse caráter: não determina a qualidade do ato sexual, as pessoas têm filho dentro e fora do casamento. Ela perde seu valor simbólico. Então, da mesma maneira que se compra no leilão vinho ou quadro raro, a virgindade se tornou uma coisa rara."

O psicólogo Caio Feijó, mestre em psicologia da adolescência pela Universidade Federal do Paraná e autor do livro A sexualidade e o Uso de Drogas na Adolescência, acredita que os adolescentes que fazem parte do projeto podem ter decidido participar do documentário sob influência da exposição constante da sexualidade.

"Fui chamado para dar consultoria em uma escola estadual de Curitiba em que, de 12 alunas numa sala, sete estavam grávidas. Depois de entrevistá-las, soube que uma das jovens, considerada uma espécie de líder, havia engravidado e disse que era uma produção independente. As demais agiram levadas pela modulação de comportamento. Essa forma de exibição irresponsável da sexualidade pode levar a esse comportamento de se expor em busca de recompensa", afirmou o profissional, que ressaltou que falava em tese, já que não teve contato com os jovens.


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