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Estado de Minas

Adolescente teria ordenado, de dentro de um Ciops, emboscada contra duas meninas

Dos 10 tiros, pelo menos sete atingiram as garotas. Elas não tiveram proteção policial para retornar até suas casas, mesmo tendo colaborado com a polícia.


postado em 16/11/2011 14:58 / atualizado em 16/11/2011 15:06

Adolescentes foram baleadas na Vila União, considerada a área mais violenta da região.(foto: Iano Andrade/ D.A press)
Adolescentes foram baleadas na Vila União, considerada a área mais violenta da região. (foto: Iano Andrade/ D.A press)
Mesmo apreendido numa cela do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) do Céu Azul, Bairro no Novo Gama (GO), um adolescente de 17 anos é acusado de dar ordens para matar duas meninas de 15 anos que prestaram depoimento sobre o seu envolvimento num homicídio, ocorrido na madrugada do último domingo. O jovem também é acusado de assassinar um rival, menor de idade como ele, com pelo menos oito disparos. As garotas viram o crime e alertaram a polícia. Por pouco, não pagaram com a vida. Minutos depois de deixaram a delegacia do município goiano situado a 40 quilômetros de Brasília, foram cercadas por três homens e receberam 10 tiros, tudo isso em plena luz do dia e aos olhos de dezenas de moradores da Vila União, considerado o local mais perigoso da cidade.

A emboscada foi planejada depois de o trio receber um recado do menor infrator por meio de parentes que o visitaram na cadeia. Levadas ao Hospital de Base do DF (HBDF), as jovens passaram por cirurgia e não correm risco de morte. No entanto, não sabem se poderão voltar a viver em segurança. Até agora, nenhuma autoridade as procurou para oferecer proteção. Diante da incerteza, a mãe de uma delas disse que não pretende retornar para a vila. “Sei que eles (bandidos) vão querer vingança. Não durmo mais um dia naquela casa. Infelizmente estou sendo expulsa do lugar onde vivo há muitos anos por gente que só quer fazer o mal”, lamentou a mulher.

O episódio de extrema violência contra as garotas expõe a fragilidade do sistema de segurança pública do Entorno, onde, entre domingo e segunda-feira, foram registradas nove mortes, todas por arma de fogo. Nos primeiros oito meses de 2011, ocorreram 191 homicídios na região.

Enquanto os governos de Brasília e Goiás discutem o que fazer para diminuir os índices de criminalidade nas regiões limítrofes com o DF (leia reportagem na página 20), traficantes expandem seus negócios de forma cada vez mais rápida. Uma volta pelas vielas da Vila União comprova que o comércio de entorpecentes ocorre nas barbas do Estado. Vários grupos suspeitos em esquinas observam a movimentação de carros de polícia. Segundo moradores, são eles os responsáveis por vender crack e maconha no local.

O caos no Entorno é agravado pela greve da Polícia Civil do Estado, que completa 27 dias nesta quarta-feira. Com os agentes de braços cruzados, quem saiu à caça do trio que tentou tirar a vida das duas adolescentes foi a Polícia Militar, cuja função é fazer patrulhamento ostensivo, mas até o fechamento desta edição os suspeitos permaneciam foragidos. A tentativa de assassinato das duas adolescentes fez aumentar ainda mais o pânico entre os moradores do Novo Gama. Poucos tomaram coragem para falar com a equipe do Correio. “Dizem que aqui é terra sem lei, mas, na verdade, tem lei, sim. É a lei do crime que impera”, disse um homem, encerrando a conversa com a reportagem na sequência.

Falta de estrutura
Sem estrutura para elucidar crimes graves, policiais goianos assistem bandidos atuarem livremente. Basta circular pelos Ciops do Entorno para entender o porquê de os marginais terem tanta certeza da impunidade. A maioria das unidades fica fechada nos fins de semana e feriados devido à falta de efetivo. É o caso dos Ciops do Lunabel, no Novo Gama; Jardim Ingá, em Luziânia; e o da Cidade Ocidental. Já os que permanecem com as portas abertas funcionam precariamente. O Centro do Céu Azul, por exemplo, chega a ter apenas dois agentes de polícia para registrar todas as ocorrências da população e tomar conta de até seis presos.

Para piorar, parte dos policiais que prestam serviço no lugar em dias não úteis são oriundos de Goiânia (GO). Até a única viatura disponível no Ciops pertence à sede da Polícia Civil, que fica na capital do estado goiano. Sem conhecer a realidade do lugar, os agentes ficam impossibilitados de fazer uma investigação eficiente. “Os plantonistas vêm de Goiânia. Alguns nunca tinham pisado aqui (no Novo Gama). Na verdade, é só para fazer número, porque é impossível fazer uma boa apuração de um crime sem conhecer a comunidade”, disse um policial, que preferiu não ter a identidade revelada.

Atraso

A ocorrência para investigar o crime foi aberta somente ontem. Dos 10 tiros, pelo menos sete atingiram as garotas. Elas não tiveram proteção policial para retornar até suas casas, mesmo tendo colaborado com a polícia.

Efetivo defasado
O Entorno conta hoje com 340 investigadores. Seriam necessários, pelo menos, 700 policiais. De acordo com o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Goiás (Sinpol-GO), Silveira Alves, cada delegacia deveria ter 25 agentes durante o expediente e pelo menos oito nos plantões. A respeito da proteção às duas adolescentes baleadas após prestarem depoimento no Ciops do Céu Azul, Silveira disse que o Entorno não conta com programa específico de proteção a testemunhas. “A Polícia Civil de Goiás não tem condição estrutural de fazer esse tipo de proteção”, ressaltou o presidente.

DEPOIMENTO » Aqui é muito perigoso
"Aqui (Novo Gama) é muito perigoso. Você não vai encontrar alguém que nunca tenha visto um homicídio por aqui. Os traficantes tomaram conta de tudo. A polícia não consegue prender ninguém e, quando aparece, é só para levar ladrão pé de chinelo. Já fui assaltado três vezes no último ano. Quando vou à delegacia registrar ocorrência, eles (os policiais) ficam zombando de mim. É muito ruim saber que não podemos contar com a proteção da polícia, pois eles mesmos falam que não podem fazer nada porque recebem um salário ruim, não tem viatura, não tem arma. O problema é que nós, que pagamos impostos, não temos nada com isso. Enquanto o governo não tomar uma providência, mais pessoas vão continuar levando tiro todo dia. Eu vivo sempre com medo de morrer também." ( comerciante do Novo Gama)


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