A falta de profissionais é o principal problema do sistema penitenciário fluminense, onde persistem casos de tortura e a ausência de programas de ressocialização. A avaliação é da representante do Brasil no Subcomitê de Prevenção da Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes das Nações Unidas (ONU), Margarida Pressburger. Ela participa nesta segunda-feira de seminário sobre o tema na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
"Encontramos um garoto com a cara inchada, as mãos inchadas, vermelhas. Perguntamos o que aconteceu e a resposta é que ele caiu da cadeira. Há caso de prisioneiro que chegou há um ou dois dias e está todo machucado. Dizem que ele foi linchado fora do sistema", relatou Margarida, sobre as visitas a diversas unidades no estado, inclusive, para adolescentes. Ela também preside a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio.
De acordo com ela, como a tortura é sempre mascarada das comissões que vistoriam as unidades e, em geral, os presos não denunciam por medo de represálias é muito difícil constatá-la. Para especialistas, profissionais do estado de áreas não ligadas à segurança pública, principalmente saúde, poderiam ajudar a identificar os casos. "Esses profissionais podem detectar se o preso está machucado, quando ele foi machucado e onde estava no momento da agressão. É uma pista a mais", destacou.
Segundo a advogada, em casos onde os presos se agridem mutuamente, também pode haver negligência do estado, que coloca juntos, em uma mesma cela, por exemplo, condenados de facções rivais. Para combater a prática, ela defende a vontade política dos gestores para identificar e punir exemplarmente os funcionários envolvidos em tais práticas. "Tortura tem no mundo inteiro, mas no Brasil é uma questão cultural", avalia.
Procurada pela reportagem da Agência Brasil, a Secretaria de Administração Penitenciária não respondeu às críticas do Subcomitê de Prevenção da Tortura da ONU.