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Estado de Minas

Por que alguns atletas profissionais ainda se recusam a se vacinar contra covid?

Embora minoria, casos de relutância em tomar a vacina, como o do tenista Novak Djokovic, mostram que atletas não estão imunes a informações falsas, dizem especialistas.


11/01/2022 20:26

Djokovic no Aberto da Austrália de 2020
Novak Djokovic não se vacinou contra covid, postura que ameaçou sua entrada na Austrália (foto: Getty Images)

Enquanto, pelo mundo todo, pessoas acompanhavam a decisão do governo australiano de cancelar o visto do tenista número 1 do mundo, o sérvio Novak Djokovic, com base nas regras de vacinação do país contra a covid-19, o brasileiro Thiago Monteiro treinava normalmente para o Aberto da Austrália.

Número 83 do ranking mundial, Monteiro não podia abrir mão de participar da competição, especialmente porque receberá US$ 100 mil apenas por disputar sua primeira partida. Mas não foi a rígida política da Austrália que levou o número 1 do Brasil a tomar suas vacinas a tempo de participar do primeiro Grand Slam de 2022.

"Minha decisão de tomar a vacina não teve nada a ver com o Aberto da Austrália. Foi uma questão de me proteger e proteger os outros", disse Monteiro à BBC.

Nomes de destaque

Como o brasileiro, mais de 95% dos 100 primeiros jogadores do ranking de tênis receberam duas vacinas contra covid-19, segundo a entidade responsável pelo circuito masculino, a ATP (Associação de Tenistas Profissionais).

Esse índice, porém, foi atingido depois que o Aberto da Austrália anunciou sua política de vacinação obrigatória, em outubro de 2021. Antes do anúncio, o percentual de jogadores do masculino duplamente vacinados era bem menor: 65%.

Os números mais recentes divulgados pela WTA (Associação de Tênis Feminino), responsável pelo circuito das mulheres, revelam que mais de 80% das jogadoras foram duplamente vacinadas. Até 6 de janeiro de 2022, a adoção da vacina entre as 100 líderes do ranking mundial era de 85%.

Casos semelhantes ao de Djokovic foram observados em outros esportes, incluindo basquete, golfe e futebol. Mas por que tantos atletas de elite, pessoas extremamente cuidadosas com sua saúde, relutam tanto em tomar a vacina contra a covid-19?

Essa é uma pergunta que o próprio Thiago Monteiro tem dificuldades em responder. Apesar de se recusar a citar nomes de colegas relutantes em se vacinar, ele admite que é chocante ouvir atletas profissionais questionando recomendações científicas.

"Eu realmente não sei o que está acontecendo, mas eu suspeito que seja consequência de toda a desinformação que circula por aí", diz ele.

O tenista brasileiro Thiago Monteiro
Thiago Monteiro diz que atletas devem exercer sua influência de forma positiva (foto: Getty Images)

Darren Briton, um psicólogo de esportes da Solent University, no Reino Unido, diz que o primeiro passo para entender a relutância em relação à vacina é examinar como atletas tendem a ser muito mais preocupados com seus corpos do que a maioria de nós.

"Para atletas, seus corpos são seu bem mais precioso", explica Britton. "Alguns deles provavelmente serão relutantes em tomar uma vacina se eles não tiverem recebido informação suficiente ou se tiverem recebido informação falsa."

"Havia preocupações iniciais, por exemplo, se a vacina poderia afetar o desempenho ou mesmo aparecer em exames antidoping", diz o psicólogo.

No ano passado, Djokovic disse ser "contrário à vacinação". Especialistas acreditam que a situação atual ganha proporções maiores quando um nome de destaque, como o sérvio, questiona a vacina publicamente.

Uma situação semelhante surgiu na liga de futebol americano, a NFL (Liga Nacional de Futebol), nos Estados Unidos.

Segundo a NFL, mais de 90% de seus jogadores foram duplamente vacinados, mas o astro Aaron Rodgers defendeu, de forma polêmica, a homeopatia como uma forma alternativa de imunização contra a covid-19. Ele também foi acusado de desonestidade ao dizer publicamente que havia sido vacinado.

Há também relutância em relação à vacina no futebol inglês, e muitas partidas foram adiadas devido a surtos de covid-19 nas equipes.

No Reino Unido, uma pesquisa realizada pela Liga Inglesa de Futebol, entidade responsável pelas divisões abaixo da Premier League, revelou no final de dezembro que cerca de 25% dos jogadores em suas 72 equipes profissionais "não pretendem se vacinar".

Na Premier League, a principal divisão na Inglaterra, 23% dos jogadores não estavam completamente vacinados com duas doses.

Teorias da conspiração

"Nós temos a tendência de pensar em atletas como super-humanos, mas eles estão tão suscetíveis a informações erradas ou teorias da conspiração quanto nós", explica Gavin Weedon, professor de Esportes, Saúde e Corpo na Nottingham Trent University, no Reino Unido.

Weedon, que coordena um novo programa de estudos com foco específico na relutância de atletas em relação a vacinas, alerta que eles não deveriam ser criticados isoladamente no debate sobre imunização.

"Nós continuaríamos tendo hesitação à vacina no mundo mesmo que Novak Djokovic não tivesse dito nada a respeito", afirma.

O especialista concorda, porém, que célebres dissidências contra a vacina não contribuem para os esforços das autoridades em aumentar os índices de vacinação. "Mesmo que não tenha sido sua intenção, Djokovic tornou-se um garoto propaganda para o ceticismo contra a vacina, por causa de seu status profissional e possivelmente devido a seus pontos de vista e declarações."

Aaron Rodgers, da NFL
O jogador da NFL Aaron Rodgers expressou opiniões polêmicas sobre a covid (foto: Getty Images)

'É preciso educar'

Enquanto regras de vacinação das autoridades de saúde, organismos do esporte e mesmo clubes ajudaram a elevar os índices de imunização entre atletas, Darren Britton alerta que essa é uma solução que também pode minar esforços para que esportistas sejam "embaixadores da vacina".

"Quando mais você tenta tornar algo obrigatório, mais pessoas provavelmente vão resistir", afirma Britton. "Se você quiser que atletas sirvam de exemplo, você realmente precisa tentar educá-los."

Não tomar a vacina nunca foi uma opção para Thiago Monteiro. Além de ter uma mãe com saúde frágil, ele ficou chocado com o alto número de mortes ligadas à covid-19 no Brasil, onde mais de 620 mil morreram.

Sem mencionar Djokovic, Monteiro diz que os jogadores deveriam refletir sobre a repercussão de seus atos. "As pessoas podem ter suas opiniões sobre a vacina, embora já tenha sido mais do que provado que ela salva vidas."

"Mas eu sei que muita gente no mundo todo está olhando para nós. Se nós realmente temos o poder de influenciá-los, vamos garantir que seja de forma positiva."


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